As autoridades da Venezuela retiraram um convite à União Europeia (UE) para que atuasse como observadora da eleição presidencial de 28 de julho. A decisão vem em meio a um novo impasse entre Caracas e Bruxelas, relacionado à retirada parcial de sanções a integrantes do governo, uma medida que foi vista como provocação pelos chavistas.
— A Venezuela revoga e deixa sem efeito o convite à União Europeia — disse o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, que pediu ainda o “fim total das sanções”, além do que vê como “posicionamento hostil” do bloco.
Há cerca de duas semanas, a UE manteve, pelo menos até o dia 10 de janeiro de 2025, sanções contra 50 autoridades eleitorais venezuelanas, sujeitas a medidas que vão desde o congelamento de bens no exterior até o veto a viagens ao bloco.
Ao mesmo tempo, a UE suspendeu algumas das medidas, incluindo contra o próprio Amoroso, para amenizar os ânimos em Caracas: em comunicado, o porta-voz da diplomacia europeia, Peter Stano, disse que Bruxelas buscava “reafirmar o compromisso e o apoio ao bom progresso do processo eleitoral”, e “fortalecer os esforços venezuelanos para eleições presidenciais inclusivas e competitivas”.
O efeito foi exatamente o contrário: Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, chamou as suspensões de “atitude racista, arrogante, rude e insultuosa”, defendendo que a missão de observadores fosse desconvidada. Amoroso disse que era uma forma de “chantagem” das autoridades europeias.
Devassa em presídio na Venezuela tem apreensão de lançador de foguete e computadores para minerar bitcoin
A União Europeia ainda não havia respondido ao convite, e não comentou o desconvite. Em 2021, o bloco enviou uma missão para acompanhar as eleições de governadores e prefeitos, nas quais constatou melhoras nos sistemas de votação, mas criticou o “uso amplo de recursos do Estado”. Na ocasião, o presidente, Nicolás Maduro, disse que os observadores “eram uma delegação de espiões”, e que “espionaram a vida social, econômica e política do país”.
Marcadas para o dia 28 de julho, a eleição será a chance de Maduro conquistar um terceiro mandato à frente da Venezuela, ampliando para até 18 anos seu período no poder.
Apesar de ter se comprometido com a realização de eleições livres e justas ao assinar o Acordo de Barbados, em outubro do ano passado (que viabilizou a retirada de boa parte das sanções ao país), as autoridades eleitorais barraram candidatos competitivos, incluindo a vencedora das primárias da oposição, María Corina Machado. Após os vetos, os EUA retomaram as sanções contra o setor de petróleo e gás da Venezuela, que tinham sido suspensas graças ao acordo.
O principal rival do presidente é o diplomata Edmundo González Urrutia, que concentrará os votos da principal aliança opositora, a Plataforma Unitária — apesar de vetada das cédulas e inabilitada por 15 anos, Corina Machado segue em campanha pelo país.
Antes do anúncio do desconvite à UE, a Plataforma havia exigido que o CNE formalizasse o pedido para que os observadores europeus acompanhassem a votação. Segundo os oposicionistas, a presença deles “foi um dos compromissos assumidos por Maduro no marco do Acordo de Barbados”.
Além da UE, o CNE convidou, ainda em março, o Centro Carter, os BRICS, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), a Comunidade do Caribe (Caricom) e a União Africana para que enviassem representantes. Nesta terça, Amoroso reiterou os convites, defendendo que “aqueles que participem [da eleição] o façam em cumprimento à Constituição e à legislação venezuelana”.
(Com AFP)
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY