Faltando três dias para o segundo turno das eleições legislativas da França, que podem levar a um inédito governo de extrema direita, a tensão paira sobre a campanha eleitoral. Denúncias de agressões, ameaças e incitação a crimes contra determinados grupos dão o tom do clima no país diante de um pleito decisivo.
Na votação do último domingo, o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve um terço dos votos, à frente da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP, 28%) e da aliança de centro-direita do presidente Emmanuel Macron.
Desde então, candidatos ao segundo turno, apoiadores e aliados, incluindo a porta-voz do governo, Prisca Thevenot, foram alvos de agressões verbais ou físicos. Filha de imigrantes, Thevenot alertou sobre o "aumento de declarações e ataques racistas" horas antes de sofrer um ataque que levou à prisão de quatro pessoas, sendo três delas menores, em Meudon, no sudoeste de Paris, na quarta-feira.
— Estou com medo, como mãe de duas crianças mestiças — disse em entrevista ao canal francês TF1 antes do incidente, que feriu dois membros de sua equipe.
O ataque a Thevenot não é o único em meio à política instaurada desde a inesperada antecipação por Macron das eleições legislativas programadas para 2027, após a vitória da extrema direita francesa nas eleições europeias de 9 de junho.
A candidata de esquerda em Paris, Danielle Simonnet, denunciou que, na noite de terça-feira, "militantes de extrema direita" agrediram três de seus apoiadores enquanto colavam cartazes eleitorais.
Em Savoie, no sudeste da França, a candidata de extrema direita Marie Dauchy alegou que um lojista a agrediu em um mercado. E em uma região próxima, o ex-ministro Olivier Véran denunciou um "ataque covarde" a um ativista.
— Podemos nos opor democraticamente, mas não podemos nos atacar verbal ou fisicamente, como infelizmente aconteceu durante essa campanha — lamentou o primeiro-ministro Gabriel Attal durante uma visita à região central da França.
Um site de extrema direita publicou um apelo para "eliminar" advogados que assinaram uma petição contra o Reagrupamento Nacional, um sinal da tensão latente. "Esta é a primeira vez na França que há um apelo explícito para o assassinato de advogados", alertou a associação de advogados criminais ADAP na rede social X.
A menos de um mês dos Jogos Olímpicos, o governo planeja mobilizar 30 mil policiais para evitar possíveis distúrbios a partir de domingo à noite, quando os resultados serão conhecidos, embora sem identificar claramente os riscos no momento, dada a natureza incerta da votação.
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