A fazenda Caçada Real, propriedade do ex-senador Telmário Mota em Roraima, foi usada, segundo a Polícia Civil, como "centro de treinamento" para o grupo que assassinou a ex-mulher do político, Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos. Apontado como mandante do crime, o político foi alvo de uma operação deflagrada pela Polícia Civil de Roraima nesta segunda-feira, mas só foi preso horas depois, à noite, em Goiás.
A informação de que o grupo se preparou para o crime na fazenda do político antes de sua execução foi divulgada pelo titular da Delegacia Geral de Homicídios de Roraima, João Evangelista, durante coletiva de imprensa. A relevância do local para os executores era tamanha que nome da propriedade foi usado para batizar a operação Caçada Real, deflagrada nesta segunda-feira para desarticular o bando.
— O nome da operação se reporta a um local onde houve não apenas o planejamento, não apenas a reunião do grupo, como até um treinamento antes da execução — explicou o delegado.
O imóvel consta na declaração de bens de Telmário Mota apresentada à Justiça Eleitoral em 2022, quando ele tentou a reeleição ao Senado, sem sucesso. Nos dados repassados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o político informou que a fazenda era avaliada em R$ 3,3 milhões, tendo 1.200 hectares — o equivalente a mais de mil campos de futebol, aproximadamente. Em 2021, o local ganhou notoriedade após o então senador afirmar que a propriedade havia invadido por aproximadamente cem porcos.
A polícia esteve na fazenda nesta segunda-feira em busca do ex-parlamentar, mas ele não foi encontrado no local, já que teria fugido para Goiás ao saber que era procurado. Os agentes também fizeram buscas em um apartamento do político em Brasília. Ao todo, a Justiça expediu três mandados de prisão e sete de buscas e apreensão, mas inicialmente só um alvo foi encontrado.
Leandro Luz da Conceição, apontado como suspeito de ter dado o tiro que matou Antônia, foi preso em Caracaraí, no interior de Roraima. Já o sobrinho do ex-senador, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como Ney Mentira, suposto responsável por organizar o assassinato com o tio, é considerado foragido.
Antônia foi morta com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro, por volta das 6h30, quando saía de casa para trabalhar. O crime foi executado por duas pessoas em uma moto. Conforme a investigação, a decisão de matá-la partiu de uma reunião na fazenda Caçada Real.
Ney Mentira, então, teria comprado a moto utilizada pelos criminosos. Ainda segundo os investigadores, o veículo foi adquirido por R$ 4 mil em espécie, estava em nome de outra pessoa e tinha documentação irregular. O sobrinho do ex-senador já era alvo de acusações de homicídio qualificado, estelionato, roubo majorado, furto qualificado e apropriação indébita.
Após a compra da moto, ainda segundo a polícia, Ney Mentira a entregou para a então assessora de Telmário Mota, que levou o veículo até uma oficina para a realização de reparos e revisão. Em seguida, a mesma mulher entregou a moto aos autores do crime em local indicado pelo sobrinho do político.
Depoimento
Na coletiva de imprensa desta segunda-feira, o delegado também falou sobre as motivações do crime, afirmando que uma das possibilidades é o depoimento que Antônia Araújo de Sousa daria sobre um crime de estupro envolvendo o político e a própria filha do ex-casal. Em agosto de 2022, a jovem de 17 anos o acusou de abuso sexual e registrou um boletim de ocorrência contra ele. Na ocasião, a adolescente afirmou que ele a forçou entrar no carro e tocou suas partes íntimas.
— Existem alguns processos de pedidos judiciais acerca de valores e pensões e, além disso, existe o processo criminal dando conta do envolvimento do ex-senador em um crime de estupro, onde a vítima seria a própria filha. E a vítima (Antônia Araújo de Sousa) desse caso de homicídio seria ouvida. Ela seria ouvida em uma segunda-feira e foi morta na sexta-feira da semana anterior — explicou o delegado.
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