Rio
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Por e — Rio de Janeiro e Duque de Caxias

Em meio às chuvas que assolaram o estado do Rio de Janeiro no último fim de semana, deixando bairros embaixo d´água e 12 mortos e duas pessoas desaparecidas, imagens de moradores desesperados começaram a ser compartilhadas. Duas mulheres — uma na capital e outra em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense — deram voz e revelaram o desespero das vítimas. A aposentada Norma de Morais, de 70 anos, sentada no sofá da casa alagada e Viviane Lopes, de 44, ao lado de fora, com a água da inundação na altura quase dos ombros, retratam o que famílias inteiras enfrentaram. Conheça essas histórias.

Norma de Morais, de 70 anos, viu a casa, os móveis e objetos pessoais debaixo d’água, no Jardim América, Zona Norte do Rio. Ela divide um terreno, a um quarteirão do Rio dos Cachorros, com as duas filhas, onde cada uma tem a própria casa. Contrariando o pedido de Simone, a mais nova, a idosa não quis deixar o imóvel e chegou a dormir no sofá encharcado. Na Rua Ministro Artur Costa, onde mora a família, vizinhos espalharam as perdas materiais do temporal, que alagou diversos municípios do estado, e teve, pelo menos, 12 mortes.

A aposentada Norma de Morais, de 70 anos, teve a casa inundada pela chuva, no Jardim América, Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução
A aposentada Norma de Morais, de 70 anos, teve a casa inundada pela chuva, no Jardim América, Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução

Simone ajuda nos cuidados com a mãe, que mora na casa do meio, cercada pela das filhas. Ela tentou ao máximo convencê-la a deixar o imóvel, onde a água alcançou mais de um metro de altura, em vão. Segundo ela, a água chegou de repente, só deu tempo de irem para a janela, por onde viram o cachorro de Norma nadar em busca de abrigo.

— Estávamos vendo TV no sábado. Minha mãe levantou do sofá para ir ao banheiro e quando voltou, a água já veio forte. Foi questão de minutos. Pegamos os documentos correndo, colocamos na parte de cima da estante. Eu falei para irmos embora, mas ela não quis sair de jeito nenhum. Tivemos que ficar na janela. O cachorro veio nadando para dentro de casa, ela botou um paninho e ele ficou deitado na estante. Ela sentou no sofá no meio da água, chegou a dormir nele encharcado. Quase morri de chorar com essa cena — relata Simone.

Nesta segunda-feira, um sobrinho foi até o terreno ajudar na limpeza das casas. Desolada, Norma não soube responder como está se sentindo diante da situação.

— Olha, minha filha, eu estou… — pausa, sem encontrar uma palavra para completar a frase. — Não adianta se desesperar, eu estou aqui sentada tentando... Não tem água para lavar a roupa. A gente está vendo aqui para conseguir uma comida, beber uma água. O pessoal da outra rua trouxe um pouco para a gente beber. É o que a gente está tentando agora — narra.

'Eu quero que chova e eu não fique preocupada'

Quando a água chegou à altura dos ombros, na noite de sábado, Viviane Lopes já não tinha muito o que perder na casa onde nasceu e viveu a vida inteira, na Rua Anita, no Jardim Canaã, em Nova Iguaçu. Desde a última enchente, há dois anos, só sobraram dois móveis, que ela usa como guarda-roupa. O que a enxurrada anterior levou Viviane não pôde repor. Desempregada aos 44 anos, criando sozinha três dos quatro filhos — o mais novo, de 3 anos, é autista —, ela vive do Bolsa Família e ainda paga a prestação da geladeira: a antiga, a chuva passada destruiu.

Às 21h de sábado, nervosa, Viviane foi para a rua e gravou um vídeo no celular, com a cheia quase batendo no pescoço, pedindo ajuda: "Olha o nosso estado. Olha onde tá batendo a água. A gente não aguenta mais". O vídeo viralizou nas redes sociais.

— Eu tô cansada de viver nessa situação. Isso não é fácil, não é normal. Toda vez que chove, enche. Mas essa, deste sábado, passou do limite, porque as outras não chegaram na minha cintura, essa foi na altura do ombro — disse ela ontem, contando que foi criticada por fazer o vídeo. — Não me arrependo de nada, porque se a gente não abrir a boca e falar, vai continuar desse jeito.

Nesta segunda, Viviane era uma das dezenas de pessoas em frente ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Estação Morro Agudo, em Comendador Soares, Nova Iguaçu. Foi lá atrás de ajuda, mas disse não querer dinheiro:

— Eu não quero cartão Recomeçar, não quero dinheiro nenhum. Eu quero que chova e eu não fique preocupada. Quero ficar em casa com os meus filhos e saber que não vai encher. Eu não estou em condições de comprar a medicação dele (filho), que é muito cara também, R$ 285. Ele toma várias medicações.

Viviane do lado de fora de sua casa: "Eu quero que chova e eu não fique preocupada. Quero ficar em casa com os meus filhos e saber que não vai encher" — Foto: Domingos Peixoto
Viviane do lado de fora de sua casa: "Eu quero que chova e eu não fique preocupada. Quero ficar em casa com os meus filhos e saber que não vai encher" — Foto: Domingos Peixoto

Viviane reclamou da postura das autoridades públicas:

— Eu queria saber onde está o amor pelo ser humano, pela gente? Porque se eles (governantes) estão sentados dentro de um gabinete, é por causa da gente, que lutou e confiou neles.

Doze mortos

O governador Cláudio Castro afirmou no início da tarde desta segunda-feira que subiu para 12 o número de vítimas das chuvas que atingiram o Estado do Rio de Janeiro entre a noite de sábado e madrugada deste domingo, dia 14. O corpo de Sérgio Carlos, de 57 anos, foi encontrado em São Mateus, bairro de São João de Meriti. Há ainda dois desaparecidos: um homem identificado como Jackson da Silva, do Complexo do Chapadão, e uma mulher desaparecida no Rio Botas.

A família do frentista José Pedro Silva de Oliveira, de 63 anos, registrou, nesta segunda-feira, o desaparecimento dele na 40ª DP (Honório Gurgel). Ele foi visto pela última vez no sábado, às 22h, quando saiu do trabalho em um posto de gasolina de Marechal Hermes. Segundo parentes, ele não retornou à residência e nem ao local de trabalho.

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