Rio
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Por — Rio de Janeiro

Um terreiro de Umbanda tem sido alvo de intolerância religiosa desde setembro do ano passado. O caso, segundo representantes do espaço, acontece no Templo Caminho da Paz, que funciona na Tijuca, na Zona Norte do Rio. À polícia, eles afirmam que vizinhos atiram constantemente frutas congeladas no local. O fato foi registrado na 20ª DP (Vila Isabel) e será investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

A casa funciona às quartas e aos sábados e, segundo Maria Cristina Ferreira, vice-presidente do templo, o ataque acontece ao menos uma vez por semana.

— Eles jogam uma fruta, esperam um pouco e depois jogam outra. Às vezes, jogam duas seguidas. E não tem hora certa. No começo, jogavam frutas, como limões. Depois, passaram a jogá-las congeladas. Então, aquilo vem igual a uma pedra — conta.

Por que será que a Umbanda, que é religião de preto, incomoda tanto?
— Maria Cristina Ferreira, vice-presidente do terreiro

Segundo ela, a constante presença de guardas e policiais na porta do templo também começou a incomodar. O caso de quarta-feira fez com que decidissem terminar nos constantes ataques:

— No começo, isso foi levado até como brincadeira, mas depois passou a ser uma coisa séria. A gente está falando de maldade, quando você tenta agredir outras pessoas. Não estamos falando nem mais de intolerância, essa coisa verbal que estamos acostumados — lamenta Maria Cristina, que completa: — Quando a gente tem uma Guarda Municipal, Polícia Militar, seja o que for, na porta do nosso terreiro, a gente se sente desconfortável. Porque não estamos fazendo nada de errado. As igrejas evangélicas têm um jeito de fazer o que elas querem. As igrejas católicas também. Mas por que será que a Umbanda, que é religião de preto, incomoda tanto?

Integrantes do terreiro vão à delegacia registrar ocorrência de intolerância religiosa — Foto: Reprodução
Integrantes do terreiro vão à delegacia registrar ocorrência de intolerância religiosa — Foto: Reprodução

Por meio de publicações nas redes sociais, uma frequentadora do templo contou que a gira (ritual para realização de trabalhos espirituais) de ontem começou antes do usual, às 18h, quando normalmente se inicia uma hora e meia mais tarde.

“A Guarda Municipal chegou exatamente às 19h30. A vizinhança denuncia não é pelo barulho, é pela intolerância religiosa. Na semana passada, jogaram um limão pela janela e acertou uma pessoa que ia passar em consulta. Isso precisa de um basta”, desabafou a mulher.

À polícia, Maria Cristina afirmou que o templo sofre perseguição de vizinhos desde setembro do ano passado e que acredita que parte dos arremessos de frutas venha de um prédio ao lado do espaço.

Ela também disse que o local, além dos integrantes do templo, realiza projetos com idosos e crianças e que tais arremessos de objetos poderiam ferir quem esteja ali.

Professor e orientador do Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, babalawô Ivanir dos Santos aponta para a necessidade de impedir que situações como esta aconteçam:

— A intolerância religiosa ainda é um desafio para a nossa sociedade. Não podemos permitir que casos como esses continuem acontecendo. A liberdade religiosa e o de culto são direitos constitucionais.

Nas redes sociais, o vereador Átila Nunes afirmou que acompanhará Maria Cristina na Decradi, na tarde desta quinta-feira: “Vamos acompanhá-la para que ela possa não só relatar (…) os detalhes do que vêm acontecendo. (…) Logo depois, ao encontro do secretário de Ordem Pública, responsável pela Guarda Municipal, uma vez que acabou sendo utilizada para atender uma intolerante, que criou uma confusão danada num terreiro”, afirmou.

Sete reclamações

Em nota, a Guarda Municipal informou que recebeu sete reclamações relacionadas à perturbação do sossego no endereço do templo religioso. Na noite de quarta-feira, as equipes foram acionadas novamente para o terreiro e, “durante a fiscalização, foi constatada a violação do zoneamento”. O que, segundo a GM, “significa que o som produzido excedeu o limite de decibéis para a localidade”.

Ainda de acordo com a guarda, a equipe acompanhou o protesto religioso e atuou para desobstruir parte da via e liberar o fluxo de veículos.

A Guarda Municipal afirma ainda ser “contra qualquer tipo de intolerância religiosa e que sua fiscalização é estritamente técnica e se dá tão somente para verificar a emissão de barulho, a partir de reclamações da população. A orientação aos agentes é que a abordagem seja sempre realizada com respeito aos cidadãos e à liberdade de crença, que é um direito assegurado pela legislação”, finaliza.

Em relação à afirmação da GM, Maria Cristina afirma que “nunca esteve barulho alto” pelo templo:

— A guarda falou do barulho, porém, ela já foi lá milhões de vezes e nunca, nunca esteve com barulho alto. Tem que lembrar que essa medição é feita numa rua de muito movimento. Não sei a forma que isso (a medição) é feito. Sei que é uma rua de muito movimento, onde os carros fazem barulho o tempo todo — defende a vice-presidente.

Denúncias de violação à liberdade religiosa

Uma pesquisa da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) aponta que o Rio de Janeiro ocupou a segunda e a primeira colocação em denúncias de violação à liberdade religiosa nos anos de 2022 e 2023, respectivamente. Os dados foram extraídos do sistema do Disque 100.

Ao todo, no país, 899 denúncias foram feitas em 2022, sendo 156 no estado do Rio. Já em 2023, de 940 denúncias, o estado teve 117.

Um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) em janeiro deste ano mostrou que, em 2023, no estado do Rio, 34 vítimas de ultraje a culto religioso procuraram uma delegacia para registrar o crime. A tipificação criminal é determinada pela ridicularização pública, impedimento ou perturbação de cerimônia religiosa.

Ao todo, aproximadamente 3 mil crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa foram registrados no período. Nesse número estão incluídos injúria por preconceito (2.021 vítimas) e preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional (890 casos).

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