O ex-policial militar Ronnie Lessa, denunciado pelas mortes da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, entregou à Polícia Federal uma lista com nomes de testemunhas e até um roteiro de perguntas depois de prestar um depoimento em agosto do ano passado. A oitiva ocorreu no âmbito da delação premiada firmada por ele posteriormente. O documento entregue à polícia e a promotores de Justiça foi escrito à mão.
"Arrolar como testemunhas para confirmarem a presença constante e longínqua de ao menos quatro personagens em um ambiente em comum: Ronnie, Macalé, Domingos e Chiquinho”, escreveu. Neste trecho, Lessa quer provar a relação entre ele e os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal pelo Rio de Janeiro, e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Macalé é o ex-policial militar Edmilson Oliveira da Silva, morto a tiros em novembro de 2021.
Em seguida, Lessa escreve que "a intenção é que as testemunhas afirmem com clareza que todos os quatro eram amigos” de uma pessoa identificada como “Santiago Gordo” e que frequentavam a casa de Santiago. O ex-PM já prevê, inclusive, que os irmãos Brazão vão negar que conheciam ele e Macalé. “Muito provavelmente os irmãos negarão nos conhecer. Porém, os depoimentos das testemunhas os desmentirão. Nos conhecemos sim e há muito tempo, no mínimo 23 anos”, escreveu.
Lessa, então, sugere perguntas às testemunhas: “Você conhece Domingos e Chiquinho? Frequentavam a sua casa? Com qual frequência? Você conhecia Macalé?”. Essas informações levadas pelo ex-PM fazem parte de um trecho do depoimento no qual ele detalha a sua relação com os irmãos Brazão e como os conheceu, em 1999. Segundo Lessa, os primeiros encontros aconteceram numa casa em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, ao lado onde os irmãos têm um haras. Entre os assuntos, eles falavam de um hobby em comum, que era a criação de passarinhos e cavalos.
O amigo chamado de Santiago Gordo foi identificado como Santiago José Geraldo. Ele tinha uma casa que ficava a 50 metros do haras dos Brazão e o endereço passou a ser um ponto de encontro dos amigos. Em depoimento à PF, a viúva de Santiago afirmou que ele era próximo de Ronnie e disse, também, que Chiquinho frequentava a casa durante reuniões de passarinheiros promovidas pelo então marido.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo de dois anexos da delação de Lessa nesta sexta-feira (7). Os manuscritos do ex-PM estão entre esses documentos. As anotações incluíam lembretes do que ele pretendia dizer à polícia.
Os irmãos Brazão negam qualquer envolvimento com as mortes de Marielle e Anderson e afirmam que não possuem qualquer relação com Lessa. Em nota, a defesa de Chiquinho já afirmou que "jamais existiu relação de proximidade entre o deputado e Ronnie Lessa". Já a defesa de Domingos já ressaltou que não existem elementos que "sustentem a presença de Domingos Brazão em qualquer um" dos encontros narrados por Lessa.
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