O documentário “Jair Rodrigues: deixa que digam”, de Rubens Rewald, tem o objetivo de reverenciar a memória de um dos maiores talentos da música brasileira, falecido em 2014. O filme é costurado por imagens de arquivo de Jair cantando e dando entrevistas, ao lado de depoimentos de familiares, músicos e pesquisadores que reforçam sua genialidade. Possibilita às novas gerações descobrir a versatilidade de um cantor premiado com uma canção sertaneja, que se destacou como sambista, dividiu um programa de TV com Elis Regina e é citado como influência por rappers brasileiros por causa dos versos falados de “Deixa isso pra lá”.
Para a turma de fãs mais antigos, sejam os que o conheciam desde a época dos festivais dos anos 60, sejam aqueles que se acostumaram a vê-lo, com seu jeito brincalhão e boa praça, mexendo freneticamente as mãos, nos programas de auditório das décadas seguintes, o filme busca reconectá-los com o personagem. Nos lembra, sem entrar em polêmicas, que o intérprete dos versos contestadores de “Disparada” se considerava “apolítico” em plena ditadura militar, mas teve uma importância grande para a valorização das raízes africanas ao gravar o samba-enredo do Salgueiro “Festa para um rei negro” em 1971.
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Sua interpretação catártica de “Canto chorado” durante o festival Bienal do Samba de 1968, presente quase na íntegra no fim do filme, resume quem foi Jair ao deixar a sensação de que, no fundo, sua música prescinde de depoimentos elogiosos e redundantes sobre ele.