Três pontos de vista compõem a história de “Monster”, o novo filme do diretor japonês Hirokazu Kore-eda. O primeiro é da mãe, uma mulher que se preocupa com comportamentos menos usuais do filho e vai à escola conversar com a diretora para entender o que aconteceu. O segundo é o do professor, um rapaz recém-contratado num colégio de classe média japonesa. E o terceiro é do garoto, um estudante de 10 anos que é visto de um jeito pelo professor e de outro diferente pela mãe.
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Cada perspectiva revela distintos fragmentos do que realmente está acontecendo, e o filme magistralmente sacode a percepção do espectador. Numa hora a gente acredita numa coisa, em pouco tempo já estamos convencidos de outra.
É o tipo de produção que cria um desafio para o crítico de cinema, que é escrever sobre os temas importantes sem revelar demais e invocar o diabo do spoiler. Mas é necessário destacar que “Monster” traz várias discussões atuais e relevantes, todas em geral muito bem colocadas. Um exemplo é a breve cena em que a mãe é estigmatizada por criar o filho sozinha; outro é o bullying; um terceiro é a homofobia.
Tudo isso combina perfeitamente com o cinema de Kore-eda. Entre as características do talentoso diretor, estão o foco em laços pessoais (como família e amizade), seu retrato detalhista da vida comum japonesa e a sutileza com que trata questões sociais. Está tudo lá em “Monster”. mas desta vez com um formato mais ousado que se encaixou muitíssimo bem com seu conteúdo.