<
>

OPINIÃO: Um chute desviado, uma vitória pálida da seleção

play
Rodrygo marca, e Brasil vence o Equador pelas eliminatórias para a Copa do Mundo; veja como foi (1:04)

Equipe comandada por Dorival Júnior fez partida sem brilho, mas venceu por 1 a 0 no Couto Pereira (1:04)

Mike Tyson costumava dizer, sobre as estratégias que seus adversários desenhavam para enfrentá-lo, que “todo mundo tem um plano até levar um murro na cara”. Não, não se pode dizer que o Equador levou um murro na cara em Curitiba, mas foi obrigado a reavaliar seu plano para lidar com o Brasil quando o chute de Rodrygo, de fora da área, desviou e mexeu no placar na marca da meia hora de jogo.

O argentino Sebastian Beccacece não é um treinador retranqueiro, mas lidar com a seleção brasileira jogando em casa – mesmo há quatro partidas sem vitória – é tarefa arriscada para um técnico estreando no comando do Equador. Ademais, a simples observação das atuações do Brasil na Copa América revela um claro padrão nas dificuldades que o time de Dorival não conseguiu superar nos estreitos gramados norte-americanos: pouquíssimo espaço cedido por linhas compactas, a primeira delas formada por cinco jogadores. Mais do mesmo.

Dorival Júnior pretendia escalar Pedro como um dispositivo anti-retranca. O centroavante do Flamengo prende zagueiros ao seu redor e representa uma ameaça permanente ao gol adversário, pelo chão ou pelo alto. Mas este trem deixou a estação no instante em que Pedro se machucou com gravidade na quarta-feira, e a solução passou a ser um ataque móvel para confundir a defesa equatoriana. Dorival pensou primeiro em Rodrygo, Endrick e Vinicius, mas decidiu trocar o ex-palmeirense por Luiz Henrique, provavelmente o melhor jogador da temporada no Brasil.

Num primeiro tempo disputado quase que inteiramente na porção equatoriana do ótimo gramado do Couto Pereira, o gol com o balanço da sorte premiou o volume e a insistência da seleção, além de expor a Beccacece a verdade que ele temia. Ao Equador não mais bastaria proteger sua área como se fosse um território sagrado; seria necessário conhecer a outra metade do campo, aceitando o risco de oferecer metros aos ameaçadores atacantes brasileiros. A única finalização do Equador se deu já no final, quando Caicedo apareceu diante de Alisson, um evento tão raro que fez supor que havia alguma coisa errada. Não havia, e o gol não saiu porque o goleiro brasileiro desviou o primeiro chute e Gabriel Magalhães cortou o segundo, perto da linha fatal.

Beccacece chamou Kendry Páez, um adolescente de 17 anos recentemente vendido ao Chelsea, para a segunda parte. Após 15 minutos de certa inoperância do Brasil, Dorival fez o mesmo e Estêvão, pedido pelo torcedor, estreou com a camisa da seleção principal. Um Equador com mais posse e até um certo atrevimento ao marcar próximo à área de Alisson não resultou em um Brasil mais perigoso, o que permite uma leitura incômoda do encontro. A seleção não foi capaz de destravar um oponente encerrado em seu campo e nem soube aproveitar os espaços cedidos a partir do gol.

O jogo terminou com o Equador investindo na possibilidade do empate e o Brasil sofrendo para dar sequência a jogadas, defeito de um time propenso a acelerar o ritmo sem a devida qualidade na articulação. O que por sua vez é o reflexo do perfil da maioria dos jogadores convocados para o meio de campo, setor pelo qual a bola costuma passar rapidamente. Ao final, a série sem vitórias terminou, mas sem aplausos.

Próximos jogos do Brasil: