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Em 'Russian doll', protagonista morre e renasce sem parar

Patrícia Kogut

Natasha Lyonne em 'Russian doll' (Foto: Divulgação)Natasha Lyonne em 'Russian doll' (Foto: Divulgação)

 

Nadia Vulvokov (Natasha Lyonne) é uma programadora de jogos eletrônicos nova-iorquina. Muito querida pelos amigos, ganha deles uma animada comemoração pelos seus 36 anos. “Russian doll”, série que está fazendo sucesso na Netflix, abre com essa festa. A protagonista sai do banheiro para adentrar o salão barulhento e cheio e entabular conversas banais. Dança com um rapaz, vai com ele para casa e os acontecimentos se sucedem como em qualquer noite de farra até que ela se distrai ao atravessar uma rua, é atropelada e morre. Morre, exatamente, não. Nadia se vê de volta ao banheiro da festa e tudo o que viveu antes se repete. Ela abre a porta e sai abrindo passagem, cruzando com as pessoas que estavam ali antes. Reencontra os amigos reeditando tudo, até os mínimos gestos. O looping se reproduz indefinidamente, com variações a cada capítulo: ela morre afogada, de um tombo etc. Esse destino inescapável é a premissa da série. As situações, porém, não se reencenam iguaizinhas, o que permite que a dramaturgia escape à repetição esquemática. Trata-se de uma espécie de labirinto de possibilidades que vai sendo explorado, sempre com uma nota de comédia ácida. De uma forma ou de outra, em todos os episódios, a personagem acaba voltando para o banheiro. Consciente do que está ocorrendo, Nadia tenta influir no destino e busca subverter a condenação. Em vão.

Russian doll é aquela boneca russa que contém outras bonecas, menores. Então, como já indica o título, a dramaturgia vai se abrindo em camadas. A cada renascimento, Nadia mergulha mais fundo no seu drama e tenta aprender uma nova lição para evitar voltar ao ponto zero. Entretanto, esse ciclo viciado nunca se rompe. Quem pensar na festa de “O anjo exterminador”, clássico de Luis Buñuel, vai lembrar também que, no filme, os personagens se sentiam incapazes de deixar uma festa. Estavam presos/atraídos a um lugar por razões subjetivas. Aqui, é a dinâmica inversa: Nadia está fisicamente acorrentada a uma situação que a repele.

Uma das qualidades da produção é sua protagonista. Em “Orange is the new black”, Natasha Lyonne chamou a atenção como Nicky Nichols. Chegou a ser indicada para o Emmy por aquele papel (em 2014). Mas, embora se destacasse, nada do que ela mostrou ali se compara às infinitas possibilidades que esbanja em “Russian doll” (de que é também cocriadora, roteirista e diretora do último episódio). A personagem é intensa, atormentada, e parece mais velha do que é. A atriz dá conta de tudo o que ela exige. Os diálogos, também deliciosos, vão ficando mais agressivos, à medida em que cresce a irritação de Nadia por estar sistematicamente voltando da morte. Merece toda a sua atenção.

 

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