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Por — São Paulo

Em 2017, o Ceará se tornou o epicentro de uma guerra entre facções criminosas que contribuiu para o pico histórico de mortes violentas no país. O estado registrou, em média, 14 homicídios por dia, patamar inédito. Na última semana, depois de uma chacina no interior, uma nova onda de violência ainda provocada por essa disputa pelo narcotráfico vem aterrorizando a população. Foram 55 mortes no estado entre quinta-feira e domingo, ou mais de 13 por dia, próximo à marca recorde de anos atrás. Nove crianças e adolescentes foram baleados, uma delas de forma fatal.

É nesse contexto que Roberto Sá, delegado da Polícia Federal aposentado e tenente-coronel reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, assumiu no início do mês a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará. Sá teve duas experiências semelhantes. Foi secretário de Estado de Segurança Pública no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Deixou o cargo no Rio sob intervenção federal em 2018, diante do esgotamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). À frente desse novo desafio, afirma que não "quer inovar", mas dar continuidade ao que está dando certo e melhorar o que não está.

Anos atrás, o senhor deixou o cargo de secretário do Rio numa situação delicada de intervenção federal, depois do esgotamento das UPPs. O que vai levar ao Ceará dessa experiência?

O Rio de Janeiro foi meio atípico. A gente estava em calamidade financeira decretada. Não tinha dinheiro para colocar a polícia para trabalhar, combustível, alimentação, manutenção de viatura, aquisição de arma. Ainda mais em lugares realmente muito complexos, você precisa ter instrumento. O trabalho lá foi no sentido de gerenciar crise, mas essa é a minha especialidade. Só que, sem recurso, você trabalha reduzindo danos e fazendo um trabalho estruturante. A gente vai acumulando essa experiência e não quer inovar, nem ser dono de nenhum tipo de programa para levar nosso nome. A gente só quer contribuir com o que já vem dando certo. E colocar nossa experiência para tentar melhorar o que precisa.

Por que o Ceará tem registrado tantos homicídios?

Estamos num ano de grande acirramento entre grupos do narcotráfico, e isso tem levado à letalidade. Nos primeiros dias de junho, percebemos redução. Mas na quinta passada teve um episódio no interior com oito mortes. No dia seguinte, outro com duas mortes e baleados. Atribuímos tudo isso à disputa dos grupos criminosos. Essa é a avaliação que a gente tem, não só do que a gente depura das análises da inteligência, como também dos depoimentos dos presos. Pelo cenário, configuração, local e pelas vítimas inclusive, sabemos que muitos mortos estão relacionados com organizações criminosas. Mas não são todos. Infelizmente, tem gente inocente nessa história.

Por que balearam crianças e adolescentes se se tratava de um acerto de contas entre traficantes?

Essa é a pergunta mais difícil de encontrar resposta para ela, mesmo conhecendo como funciona a cabeça de um criminoso. Não há algo racional, nenhuma justificativa para que alguém atire em crianças inocentes. Mas os presos, e já são cinco presos envolvidos com essa ação criminosa lá na Arena do Barroso, todo o relato deles é de retaliação de um grupo criminoso contra o outro. Infelizmente, ouço relatos aqui na região de que eles têm essa característica: de chegar para fazer a execução de um alvo e, se esse alvo não está, não perder a viagem.

Morreram quantos inocentes?

Uma criança, uma mulher adulta e outras crianças foram baleadas. Todas inocentes. Os criminosos não conseguem dar um testemunho ou um depoimento que diga o por quê que fizeram isso com crianças. Sabemos que é uma forma de demonstração de poder e para afetar a moral do outro grupo, além de abalar o outro grupo com a morte de oponentes, mas baixar a moral mesmo. É uma intenção de dizer que é mais forte.

O governador afirmou que as mortes podem ser uma reação das facções diante do endurecimento do combate ao crime no estado. Que ações foram essas?

A gente está com uma determinação muito grande de enfrentamento a essas organizações criminosas, de prisão desses envolvidos com o tráfico de drogas e, principalmente, de homicidas. O governador entregou para a sociedade, na semana passada, 437 novos policiais militares para o estágio de prática operacional, uma vez que eles estão no final do curso de formação. Imediatamente, nos dias que se sucederam, nós criamos um comitê estratégico de segurança integrada e convidou o Poder Judiciário, o Ministério Público, Polícia Federal, Rodoviária Federal. Além disso, o governador também estruturou oficialmente toda a parte de inteligência do estado, tanto da PM como da Polícia Civil, prevendo núcleos de inteligência em todas as unidades, com cerca de 700 pessoas. Entregamos viaturas para que a PM tivesse mais ostensividade.

O governo já decidiu se vai pedir apoio federal?

Logo após o episódio, o governador fez contato com o ministro [Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública] para relatar o cenário e dizer as medidas que estava adotando. Mas que, no primeiro momento, as respostas estavam surtindo os efeitos, efetuando as prisões. Também disse que, caso precisasse, contava com o apoio do governo federal. Então foi uma conversa preliminar, mas não foi um pedido imediato. De todo modo, não está descartado.

O Ceará já foi o epicentro dessa disputa de facções que contribuiu inclusive para o pico de mortes no Brasil em 2017. O que mudou de lá para cá?

Primeiro, quando você tem muitos grupos criminosos, como é o caso aqui, já fica mais difícil, porque eles estão espalhados em territórios muito próximos uns dos outros. Há ainda um agravante: os dissidentes dos grupos. Essas dissidências causam, além dos conflitos de um grupo com o outro, o conflito da dissidência com o grupo do qual ela era originária. Hoje são cinco grupos reconhecidos e duas dissidências.

O Ceará tem um fenômeno bem próprio que é o dos deslocados urbanos, de gente expulsa de condomínios habitacionais pelas facções. Existe um domínio territorial das periferias por parte dessas organizações criminosas?

Não tem dominação territorial. A polícia entra em todas as áreas que tiver que entrar. O que tem ali é a briga pela exclusividade da venda de drogas. O grupo quer expandir os pontos de venda e acaba entrando em conflito com o vizinho.

Esse fenômeno tem crescido?

A gente tem obtido relatos, muitas das vezes em off. A gente pede muito que as pessoas façam registro de ocorrência, para a gente poder investigar e chegar nos autores. A PM criou um Comando de Policiamento Comunitário, para atender essa demanda. A Polícia Civil também já tem núcleos investigando esses delitos. A gente está atento a isso, o governador está preocupado.

O aumento das mortes no Ceará pode reverter a tendência de queda de homicídios nacional?

O trabalho é permanente no sentido de fazer essa redução. Tanto é assim que, nos 19 primeiros dias de junho, a gente estava com uma tendência de redução. E eu até dizia para os colaboradores: "nem se empolgue, porque a gente não sabe como é que é o dia seguinte". Vamos continuar trabalhando, com foco nas manchas criminais, nos horários, vamos saturar, qualificar a investigação. Quando você tem um número elevado de um mês, sem dúvida que você está contribuindo para o número nacional. Mas está todo mundo muito engajado no sentido de prender o maior número de criminosos. E realmente tornar o Ceará um local maravilhoso que é, mas mais seguro.

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