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Quando terminou de rodar seu primeiro filme, em 2005, Lucía Puenzo lembra que ficou dividida. Já escritora e roteirista, a diretora estreante estava feliz por finalizar “Os invisíveis”, construído a partir de histórias colhidas entre crianças em situação de rua em Buenos Aires. Ao mesmo tempo, sentia certa frustração por não ter conseguido encaixar no curta-metragem o caso mais fantástico que tinha ouvido. Segundo dois meninos, havia na cidade uma quadrilha que recrutava pivetes para invadir mansões vulneráveis e realizar furtos; quem saísse sem deixar rastros e não abrisse o bico podia até ter a chance de viajar e assaltar casas no litoral uruguaio.

—Nunca soube o quanto era real e o quanto era imaginário. Mas guardei aquela história comigo para usar no futuro — conta Lucía, que logo passaria de “diretora estreante” a “cineasta reconhecida” com o premiado “XXY” (2007), longa sobre uma adolescente intersexo com Inés Efron e Ricardo Darín, em entrevista ao GLOBO por vídeo .

No começo deste mês, a argentina de 46 anos esteve no Festival do Rio para apresentar seu novo longa, “Os impactados”, e um episódio do filme “Elas por elas”, além de lançar o livro “Os invisíveis”. Pois é: cumprindo a promessa feita para si, Lucía voltou ao universo do curta de 2005 para construir um romance em que finalmente conta a história como queria.

— No cinema, principalmente no nosso cinema (o latino-americano), onde o orçamento é limitado, você tem que pensar bem nas cenas que cria — diz Lucía, que já transformou em filmes dois de seus romances, “O menino peixe” e “O médico alemão”, também publicados aqui pela editora Gryphus. — No mundo do audiovisual, há sempre esse limite. Mas, no mundo da literatura, tudo é permitido. Posso levar o trio de protagonistas para o Uruguai, colocá-los no meio de uma floresta com animais selvagens, imaginar o interior de mansões. Posso incluir ou tirar capítulos inteiros sem alterar um dia de filmagem.

Realismo algo fantástico

O trio a que Lucía se refere são os adolescentes Ismael e e Baixinha e o pequeno Alho, irmão dela, com 6 anos, todos moradores de rua. Os três vivem no Once, movimentado bairro da capital argentina, até serem aliciados para fazer assaltos a residências de luxo. Bons de serviço, são convidados a cruzar o Rio da Prata para uma missão especial: passar dias fazendo a limpa em um condomínio de luxo de um balneário uruguaio. Entre uma incursão e outra, devem buscar refúgio no mato que cerca as casas e guarda todo tipo de ameaça.

A partir daí, sem dar spoiler, o texto recheado de diálogos (que dão ao livro um quê de roteiro) abandona o tom 100% realista e recebe notas de fantasia — transição captada pela ótima tradução de João Ricardo Milliet.

Lucía comenta que esse “filtro fantástico” é, na verdade, uma visão infantil sobre o entorno:

— São crianças que muito cedo já passaram por violências inimagináveis. Mas ainda são crianças. Queria mostrar que um menino como Alho, apesar de embrutecido por tudo que o cerca, ainda pode ver um arco-íris surgir depois da chuva na selva e pensar que está vivendo uma aventura — diz a escritora, que cita como influências o clássico “O senhor das moscas”, do britânico William Golding, e a animação “A princesa Mononoke”, do japonês Hayao Miyazaki.

Ameaça política

Lucía cresceu em uma “família de cinema”: seus irmãos trabalham no audiovisual e seu pai é Luís Puenzo, diretor do primeiro filme latino-americano a ganhar o Oscar, “A história oficial” (1985). Defensora da cultura, ela acredita que uma vitória Javier Milei na eleição presidencial seria desastrosa:

— O candidato de extrema direita diz que, se assumir, vai fechar todas as instituições culturais, porque a cultura seria desnecessária. É uma visão que tem de ser combatida com argumentos sólidos, mas também com nossos filmes, nossos livros, com nossa arte. Fazer arte é a melhor defesa contra a ignorância.

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