Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Atração dos festivais Rock the Mountain (em Itaipava, na região serrana do Rio, na edição de abril passado) e Breve (Belo Horizonte, também em abril), a cantora Gal Costa ainda está escalada este ano para o CoMa (Brasília, entre 4 e 7 de agosto) e Coala (São Paulo, 16 a 18 de setembro). Por fim, dia 5 de novembro, ela chega ao Primavera Sounds (SP), no qual é um dos nomes principais, ao lado de estrelas estrangeiras do pop, para apresentar em primeira mão a recriação do seu mítico show “Fa-tal”, de 1971. Aos 76 anos, Gal é uma das maiores estrelas de uma nova era dos festivais brasileiros, baseados em uma programação toda nacional e misturas de gerações e estilos.

— Adoro! É um público sempre muito animado, quente. Gosto muito da farra que eles fazem, sabem as músicas todas, cantam, levam faixas com mensagens carinhosas, cartazes, capas de discos meus. É uma delícia! — anima-se Gal, que viu os convites para festivais aumentarem depois do álbum “Estratosférica” (2015). —Creio que esse novo público está cada vez mais interessado nos artistas da minha geração, tanto que tenho visto vários amigos na programação desses festivais cheios de gente jovem. Ainda temos muito a dizer. Minha geração é foda, cara!

Experiência positiva

A volta pós-pandemia dos festivais criou uma agenda cheia de novidades, como as estreias nesse tipo de evento de medalhões que não costumavam participar deles. São os casos de Maria Bethânia (no Coala e no Festival de Inverno Bahia, de 26 a 28 de agosto em Vitória da Conquista), Djavan (que volta em agosto com o álbum “D” e canta no Coala e no Rock in Rio, em setembro) e Zeca Pagodinho (que faria este sábado o Festival Turá, em SP, caso não tivesse testado positivo para Covid-19, e está programado para o Sarará, em Belo Horizonte, em agosto).

— Minha experiência nos festivais é muito positiva, como foi há pouco tempo no Rock the Mountain. É também uma oportunidade para tocar para pessoas mais jovens que ainda não me viram ao vivo no palco — diz Djavan.

Para Bethânia, porém, suas participações em festivais em 2022 “não têm nada de especial”:

— Há anos me convidam e nunca deu certo, por causa de agenda ou do momento… Coala e FIB foram fechados em 2019, antes da pandemia. Só agora poderão acontecer. Simples assim.

Ela, Gal, Djavan e Zeca são alguns nomes que se repetem naos festivais, ao lado de artistas surgidos nos últimos anos. Entre eles, o rapper baiano Baco Exu do Blues (que está neste fim de semana no Sensacional, em BH, e no Turá, e, em novembro, na nova edição do Rock The Mountain), Liniker (Sensacional, Coala e Rock the Mountain) e o novíssimo Jovem Dionísio, do hit “Acorda Pedrinho”, que se apresenta no Planeta Brasil (em BH, nos dias 24 e 25 de setembro), CoMa, Rock in Rio (no palco Supernova) e Rock the Mountain.

— Os novos artistas estão precisando cada vez mais dessa associação com o artista veterano e vice-versa — acredita Marcus Preto, curador do Coala e produtor de Gal Costa. — Os veteranos têm a credibilidade e a história, e os moleques vêm com o vigor e o público novo. Quando junta tudo isso, dá bom. E agora o negócio está mais sério, porque a MPB perdeu força diante de um sertanejo cada vez mais dominante e porque, para um artista novo, somar com alguém com um público mais consolidado ajuda bastante nos festivais.

Segundo o sócio-fundador e curador Gabriel Andrade, o Coala começou em 2014 como forma de “dar um palco grande para artistas pequenos”, mas com o auxílio de nomes que já tinham um público estabelecido. No primeiro ano, coube a Tom Zé alavancar a programação. Este ano, estão lá Gal, Bethânia, Djavan, Alcione (em show com a cantora Céu) e até mesmo Alceu Valença.

— Esses artistas estavam tocando nas casas de shows mais clássicas, com ingressos mais altos, e os festivais permitem que as pessoas os vejam em outro contexto. Quando a gente fez o Milton Nascimento no Coala, em 2018, fiquei receoso pelo público, e até hoje foi o melhor show da história do festival — admite Gabriel, que hoje tem o alívio de ver o álbum de Milton com o Clube da Esquina ser eleito pelo podcast Discoteca Básica o melhor LP brasileiro de todos os tempos.

A surpresa com Milton no Coala abriu os olhos de muita gente para uma realidade: a de que “o público jovem ouve mais música brasileira do que estrangeira”, como diz Francesca Brown Alterio, idealizadora do Turá Festival, que estreia este fim de semana, no Parque do Ibirapuera, trazendo, entre outros, Alceu, Baco, BaianaSystem, Duda Beat, Emicida e o encontro de Nando Reis e Jão. Algo que Ricardo Brautigam, o Cadinho, que iniciou o Rock the Mountain como um evento mais baseado em bandas internacionais e o contato com a natureza, descobriu aos poucos.

— Fomos vendo que, dentro do festival, os artistas nacionais falavam muito mais à memória afetiva do público, as pessoas sabiam cantar as músicas. A vibração era muito maior para os brasileiros — alega Cadinho. — E hoje, com toda a crise econômica, vale mais a pena trazer um medalhão da música brasileira do que um artista internacional. Mesmo se o dólar e o euro um dia voltarem a ter uma boa cotação, a gente vai manter os artistas nacionais.

Um ponto em comum entre muitos festivais é a busca por encontros inéditos (ou pouco comuns). O CoMa contará, em sua quarta edição presencial, com a combinação da sensação entre o pagodão eletrônico baiano ÀTTØØXÁ com a festa de musicalidade do conterrâneo Carlinhos Brown.

— A gente conversa com o artista menor e pergunta com que tipo de artista ele gostaria de se relacionar e vamos atrás desse encontro — explica Diego Marx, sócio-fundador e curador do festival brasiliense.

Já o Sensacional trará este fim de semana as junções de Letrux e Mahmundi, Liniker e Tulipa Ruiz e o do Olodum e Russo Passapusso, o cantor do BaianaSystem.

— A gente sempre se pautou pela busca de encontros inusitados, tentando aproveitar o festival para trazer coisas diferentes — conta Victor Diniz, um dos diretores do evento.

E o Sarará, por sua vez, fará um show do Baiana com a precursora do axé Margareth Menezes.

— Hoje em dia as pessoas não se prendem mais a um segmento só, elas podem gostar de rock, pagode e de axé — argumenta Carol de Amor, diretora artística do festival mineiro.

Para o produtor Zé Ricardo, que há uma década promove encontros de artistas no palco Sunset do Rock in Rio, o que impulsiona os festivais é a “demanda reprimida por arte de qualidade”.

— As pessoas passaram por anos de confinamento e, enquanto isso, foram surgindo artistas brasileiros com muito talento, em muitas vertentes e estilos. E os artistas consagrados, nossos ídolos, também ficaram muito tempo sem fazer show — diz. — A pandemia provocou um fenômeno engraçado, o da valorização dos cachês dos artistas nacionais. Isso, muito por causa das lives e das associações com marcas. E quando você tem um festival com uma narrativa própria, isso atrai muito as pessoas e torna os grandes artistas grandes vendedores de ingressos.

Estreante em festivais, o Jovem Dionísio não vê a hora de encarar o público.

— Só nos últimos meses é que a gente começou a sair de casa e ir para longe. Acho que o grande objetivo desses festivais é botar na tua frente, em carne e osso, o artista que você conhece pelo Spotify e Instagram — diz o vocalista Bernardo Pasquali.

Já para Marina Sena, “o ambiente dos festivais é o mais propício para viver a experiência da música”:

— É um lugar onde as pessoas vão para viver intensamente. Está todo mundo muito receptivo para o que a gente entrega. Meu lugar favorito no mundo é sempre em algum festival por aí.

E Liniker arremata:

— O bom do festival é o encontro. Encontro amigues, colegas de cena, e isso potencializa nosso trabalho. Esse formato me possibilita também elevar algumas coisas do show e pensar outros setlists de acordo com o festival e o público em geral.

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