Cultura
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Por Ruan de Sousa Gabriel, de Paraty, O Globo

Presidente do Grupo Editorial Record, Sonia Machado Jardim cita Roberto Carlos para descrever o que sente ao comemorar o aniversário da editora fundada por avô e seu tio em 1942: “Eu vivo esse momento lindo”. Segundo maior grupo editorial do país (atrás apenas da Companhia das Letras), a Record completa 80 anos no início do dezembro, mas a festa já está rolando desde quinta-feira (24) na Festa Literária Internacional de Paraty.

A Casa Record engrossa a programação paralela do festival literário com debates entre os autores da casa (Ana Maria Gonçalves, Claudia Lage, Fernando Bonassi), exposição de fotografias dos grandes momentos da editora (como Carlos Drummond de Andrade plantando uma árvore em 1984) e o lançamento do livro “Tempo aberto: Oito décadas em oito contos de grandes autores brasileiro”, organizado pelo editor-executivo do grupo, Rodrigo Lacera, e do qual participam autores como Alberto Mussa e Cristovão Tezza.

A decisão da Record de comemorar o aniversário na Flip talvez surpreenda alguns. Embora já tenha tido um autor homenageado (Graciliano Ramos) e trazido grandes nomes para a programação principal, como Isabel Allende (que escolheu mal seu tamanco e quase não conseguia se equilibrar nas pedras paratienses), a relação da editora com a Flip sempre foi “delicada” (palavra usada por Sonia). Na Flip de 2004, Sergio Machado (irmão de Sonia e ex-presidente do grupo), distribuiu uma carta afirmando que a festa era percebida como um evento da Companhia das Letras e propôs que houvesse um limite de autores de cada editora na programação.

'Gosto de falar do não definido, do que é ao mesmo tempo sagrado e profano, bom e mau, delicado e cruel, poético e indecente', diz Carla Madeira, autora de 'Tudo é rio', lançado em 2014 — Foto: Rebecca Alves / Agência O Globo
'Gosto de falar do não definido, do que é ao mesmo tempo sagrado e profano, bom e mau, delicado e cruel, poético e indecente', diz Carla Madeira, autora de 'Tudo é rio', lançado em 2014 — Foto: Rebecca Alves / Agência O Globo

— Queríamos comemorar junto com nossos autores, nossos leitores e nossa equipe. As datas da Flip e o aniversário são muito próximas. Viríamos a Flip numa semana e faríamos festa no Rio na seguinte. Por que não unir as suas coisas? — diz Sonia. — A Flip não é de A nem de B. É de todos.

Este ano, a Record é a única grande editora com uma programação própria na Flip (os eventos paralelos são dominados pelas independentes). Segundo Sonia, a editora vive um dos melhores momentos de sua história. Após se destacar, na década passada, como uma casa de nomes da direita (Olavo de Carvalho e outros) e por seu forte catálogo juvenil, passou a apostar novamente na literatura nacional e tem colhido frutos. Voltou a ser a casa de Carlos Drummond Andrade, que passara 10 anos na Companhia Letras (haverá um sarau em homenagem ao poeta no sábado). Conquistou também a ficcionista brasileira que mais vende livros no país (atrás apenas de Itamar Vieira Junior, de “Torto arado”), Carla Madeira, que receberá nesta sexta o Prêmio Recordistas, concedido pela editora aos autores que vendem mais de R$ 100 mil exemplares de um único título. No caso, “Tudo é rio”, romance lançado em 2014 pela editora mineira Quixote, foi reeditado pela Record em 2021.

Sócia e diretora de criação da agência de comunicação Lápis Raro, em Belo Horizonte, Carla gerencia uma equipe de 97 pessoas e sempre protegeu a literatura como um espaço só seu, “sem briefing”. Tanto que demorou a aceitar a proposta da Record. Não queria entrar na indústria. Mas topou ao perceber que a editora daria conta de imprimir e distribuir os livros no ritmo que seus leitores exigem.

Há um verdadeiro culto ao redor de Carla, que também publicou um romance inédito na Record, “Véspera”, e está lançando uma nova edição de “A natureza da mordida”, no qual, diz ela, está o trecho mais bonito que já escreveu, sobre o reencontro de um pai com uma filha. “Tudo é rio” e “Véspera” serão adaptados para o audiovisual pela Boutique Filmes. Carla seduz os leitores ao falar sem pudor de temas como o ciúme, a violência das relações humanas, o sexo e a religião. “Tudo é rio”, por exemplo, entrelaça as histórias do casal Dalva e Venâncio, devastados após a morte do filho, e a prostituta Lucy.

— Meus livros provocam muito afeto. Percebo que as pessoas falam do corpo para explicar o que sentiram lendo o livro: algo na boca do estômago, um soco, tesão. A pessoa é pega numa correnteza de questões — diz ela, que já tem um livro novo na cabeça. — Gosto de falar do não definido, do que é ao mesmo tempo sagrado e profano, bom e mau, delicado e cruel, poético e indecente. Essa é a minha obsessão.

A Record não descarta uma carreira internacional para Carla. Na Feira do Livro de Frankfurt, no mês passado, Sonia fez propaganda de sua best-seller para os editores estrangeiros e distribuiu amostras de “Tudo é rio”, que, em inglês, ganhou o título “Flowing Rivers”.

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