Cultura
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Por , El País — Barcelona

Nos créditos de “O que acontece depois”, o segundo filme de Meg Ryan como diretora, aparece uma dedicatória: “Para Nora”. Essa Nora é Nora Ephron, a roteirista e diretora falecida em 2012 que transformou Meg Ryan na rainha das comédias românticas dos anos 1990. Se Ryan encantava o público em filmes como “Harry e Sally — Feitos um para o outro”, “Sintonia de amor” e “Mens@gem para Você” e “Linhas cruzadas”, era porque esses roteiros vinham da alma de Ephron.

Assim como Billy Wilder passava horas em seu escritório de olho em um cartaz dizia “O que faria Lubistsch?”, Ryan pensava muito no que Nora Ephron faria quando enquanto dirigia “O que acontece depois”, uma comédia romântica que reflete sobre as mudanças ocasionadas pelo #MeToo e que traz David Duchovny como coprotagonista. Nora Ephron fez de Ryan uma vencedora na Hollywood dos anos 1990. A atriz não esconde sua admiração: “Nora disse: ‘Haja como se não quisesse ir embora’. Ela era uma mulher genial, maravilhosa”, diz ela ao El País durante o Barcelona Film Fest.

Ryan filmou a “O que acontece depois” em 21 dias e com um parco orçamento de três milhões de euros no Arkansas. “Quando dirigi meu primeiro longa (em 2015, “Ithaca”, filme que se passa no verão de 1942 com Sam Shepard no elenco) senti que não tinha aproveitado o suficiente o fato de que eu era a diretora. Você sabe o faz um diretor? Ele é especialista em microgerenciamento. Com o tempo, você entende que dirigir tem a ver com poder e saber administrar o fluxo dos acontecimentos”, diz ela, antes de se lembrar de uma frase de Hugh Grant: “Grant disse que manter o tom de uma comédia é tão difícil quanto manter um balão no ar com lápis afiados. Entendo completamente o que ele quis dizer”.

Ryan garante que começou a dirigir porque sentiu que se abria um desafio artístico diferente. “Foi uma progressão natural e agora estou interessada em construir desafios emocionais e intelectuais na tela”, ressalta. “Um ator necessita de canais para chegar ao público. Agora quero ser a pessoa que fala diretamente com o espectador, quero ser quem cuida dessa conexão”, explica ela quando questionada por que tantos atores fazem essa transição. “Vou continuar atuando? Não sei, embora saiba que ainda tenho muito o que aprender, que tenho uma caixa de ferramentas que estou dominando aos poucos e que agora só quero me dedicar à direção.”

A conversa então chega a um momento chave da carreira de Meg Ryan: o do seu desaparecimento no final da primeira década deste século. Vários artigos sugeriam que ela pagou o preço por ter estrelado “Em carne viva” (2003), de Jane Campion, thriller com o qual rompeu com seu passado nas comédias românticas e que veiculava uma mensagem feminista de que nem todos gostaram. “Foram várias coisas. Os roteiros que chegara até mim também não me enlouqueceram. Mas tomei a decisão pensando nos meus filhos (o agora ator Jack Quaid, 31 anos, fruto de seu casamento com Dennis Quaid, e Daisy, que ela adotou em 2006). Foi orgânico. Senti que já era hora, que eles me apresentavam um desafio que me atraía mais do que voltar ao trabalho. Olhando para trás, fico feliz por ter dado esse passo, por ter escolhido meu crescimento interior e por ter podido ficar com os meus filhos. Como as pessoas ao meu redor reagiram? Bem, porque eu expliquei que queria ser dona do meu tempo e, no fundo, encarar a vida com o meu espírito artístico”, explica.

Em “O que acontece depois”, um ex-casal que não se via desde a separação, 25 anos antes, se reencontra em um aeroporto no meio do nada. Por causa de uma tempestade de neve, eles precisam se sentar frente a frente e considerar o que passou, se valeu a pena e se suas vidas progrediram como esperavam. “Tive a ideia desse filme durante o confinamento, e isso se nota no caráter claustrofóbico da situação”, diz Ryan. “Acredito em segundas chances, que, mesmo quando envelhecemos, ainda dá tempo de fazer coisas novas. Digo isso estando muito consciente de que a sociedade de hoje gira em torno dos jovens.”

Aos risos, Ryan se recusa a falar sobre filmes anteriores ou seus antigos pares românticos. “Cada ator é diferente, cada química nasce de um processo diferente. Escolhi David sem quase conhecê-lo pessoalmente porque tinha lido seus romances — e ele é um escritor fantástico — e senti que funcionaria. Nós nos concentramos muito na reescrita do roteiro durante o confinamento e criamos esse relacionamento juntos”, diz. Ryan sofre de um certo medo pós-covid: tem dificuldade com apertos de mão, mantém distância física de quem está ao seu redor e antes mesmo de começar a conversa empurra a cadeira para trás. Mas ainda assim ela exala gentileza.

Mesmo sem dizer #MeToo, Ryan salpicou a conversa com mensagens feministas. Sem que a palavra orgasmo tenha sido dita, a entrevista termina à mesa do Katz's Deli, lendário restaurante nova-iorquino onde Sally ensina a Harry que as mulheres podem fingir prazer de uma forma muito verossímil. Desde que Ryan filmou “Harry e Sally”, uma obra-prima das comédias românticas, ela não voltou a pisar no local. “Nem mesmo disfarçada”, confessa, sorrindo.

Mas seu filho Jack esteve hospedado em um hotel em frente à delicatessen em setembro passado e, ao atravessar a rua descobriu o que todos os turistas notam imediatamente: uma placa pendurada no teto do estabelecimento indica a mesa “onde Harry ‘encontrou’ Sally”. “Muito louco, não?”, diz ela. Jack ligou direito do restaurante e atriz o colocou no viva-voz para que sua filha também ouvisse a conversa. “Mãe, isso é muito constrangedor”, disse Jack. Em Barcelona, ela conta que dava para ouvir a vergonha na voz do filho. “Vai ser difícil fazer algo que supere essa popularidade. Nunca se sabe com o que o público vai se conectar.”

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