Cultura
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 24/06/2024 - 03:30

Novo álbum 'Novela' da Céu: uma mistura de soul, rap e bolero

Céu lança o álbum 'Novela' inspirado na vida cotidiana, maternidade e amizade feminina. Gravado de forma analógica, o disco traz uma mistura de soul, rap e bolero, refletindo a essência da artista. Turnê internacional promete ensinar gringos a cantar em português.

A amiga que dá guarida e não sermão; a saudade do crushinho; o companheiro que vibra ao vê-la brilhar; o espumante à vela acesa; o puritanismo e a safadeza. As situações narradas nas letras das músicas do novo disco de Céu dizem muito sobre o dia a dia da cantora paulista de 44 anos. Não à toa, ela avisa: “Eu sou a protagonista da minha novela”. Novela é, portanto, a palavra que batiza o sexto álbum de inéditas da artista, que ganha show dia 13, no Circo Voador. A narrativa é costurada por essa “dramaturgia do cotidiano”.

— É um roteiro voltado para o Brasil. Não é série da Netflix, é novelona mesmo. Esse drama bom ruim que é a vida. Não há persona criada. “Novela” sou eu todinha: uma mãe de duas crianças (Rosa de 15, e Antonino, de 6), uma mulher latino-americana, que se descobre compositora e prefere não terceirizar a maternidade, a vida, o casamento. E voa no corre, pega a estrada — diz.

A capa do álbum 'Novela' — Foto: Reprodução
A capa do álbum 'Novela' — Foto: Reprodução

Como canta em “Raiou”, “viver é para os fortes”. E a sensibilidade de transformar coisas simples numa poesia particular, especialidade dessa artista.

— Celebração na minha casa é a geladeira lotada, ir à feira e deixá-la linda. Essas coisas me inspiram. Sou terrena. Estar estressada e, de repente, parar tudo e fazer um bolo... São bobagens, mas me alimentam a alma. Claro que estar no palco também é maravilhoso, mas quis trazer minha essência como retrato desse disco.

Na essência, uma “mãe chata e firme”, com característica comum a todas as outras.

— Cedo tive lidar com a culpa de “ai, hoje não tô, a mamãe tá trabalhando no fim de semana”. Me pego pensando que tinha que parar só pra cuidar deles. Mas é impossível. E não sei se quero... É mentira! Essa é a minha novela, e tenho certeza que é a de muitas mulheres.

Céu: "Não sou de falar muito. Nem minhas letras são longas. Mas a arte é minha melhor forma de me comunicar. Procuro entender meu lugar no mercado. Percebi que quero pagar minhas contas, mas meu melhor lugar na arte é esse: de dentro pra fora'"  — Foto: Leo Aversa
Céu: "Não sou de falar muito. Nem minhas letras são longas. Mas a arte é minha melhor forma de me comunicar. Procuro entender meu lugar no mercado. Percebi que quero pagar minhas contas, mas meu melhor lugar na arte é esse: de dentro pra fora'" — Foto: Leo Aversa

Cantar o que tem por dentro sempre foi a onda da tímida Céu.

—Não sou de falar muito. Nem minhas letras são longas. Mas a arte é minha melhor forma de me comunicar. Procuro entender meu lugar no mercado, na indústria. Com o tempo, percebi que quero pagar minhas contas, ter conforto, mas meu melhor lugar na arte é esse: de dentro pra fora.

Ao contrário dos álbuns anteriores, “Apká” (2019) e “Tropix” (2016), com aparatos tecnológicos e batidas eletrônicas, “Novela” foi gravado ao vivo, de forma analógica. É o bom e velho “1,2,3,4”, tradicional contagem dos instrumentistas, que serve de introdução para anunciar o “valendo” das 12 faixas, captadas com banda tocando junta, como num show sem plateia.

— Essa organicidade é uma celebração ao tempo presente, ao encontro real, à vulnerabilidade — define Céu, que misturou soul, rap, bolero, além de cordas orquestradas. — Queria um disco visceralzão, mais solto.

O desejo veio de encontro à forma orgânica com que Adrian Younge trabalha. Conhecido por projetos com Kendrick Lamar e Snoop Dogg, o produtor e multiinstrumentista americano, — dono do Linear Labs Studio, em Los Angeles — onde “Novela” foi gravado — assina a produção do álbum, ao lado de Pupillo (músico e marido de Céu) e da própria cantora.

Olhando assim pode parecer que tudo fluiu tranquilamente na cabeça de Céu. Mas ela confessa que deixar acontecer naturalmente não foi assim tão fácil.

— Foi difícil, porque sou super controladora. “Apká” e “Tropix” fora discos minuciosos, burilados. Chegar numa parada ‘organicona’, expondo erros e acertos... Não sabia se ia dar certo, mas me jogo, né? — diz. — Um amigo ouviu e disse uma coisa linda: “Parece fruta colhida do pé”.

Essa ideia poderia soar paradoxal para uma artista que tem compromisso com a contemporaneidade desde o primeiro disco. Só que não. Céu diz ter vivido exercício “futurista”, que demandou “experiência emocional e nada artificial”.

— Fui entrando no processo sem computador, sem beats, sem sub-graves e pensei: “Meu Deus, vou fazer um disco vintage? Não sou eu!”. Mas é a experiência mais inovadora que estou vivendo em 2024. Robotizado a gente já está, e, aí, tive que lidar com coisas profundas, trazer meu máximo aqui e agora, dividir, ouvir, trocar — explica. — E tive a sensação de vivência, de um processo que não queria trazer como vintage, mas de artesania, de fazer o que se tem e não o que está no mercado. Gosto da modernidade, mas é legal recorrer a isso também. E não é tipo “ela pirou”. Está ligado a um certo retorno, costurado com meus primeiros discos.

A volta— agora como artista consagrada e dona de três Grammys — aos EUA, onde, aos 18 anos, se descobriu compositora, mexeu.

— Foi lá, longe do Brasil, que percebi que queria escrever minhas próprias músicas. Às vezes, é preciso se distanciar. Quando estava aqui, achava que queria ser cantora. Hoje, me sinto mais poeta e compositora do que qualquer coisa. Foi significativo chegar lá e ver o quanto andei.

Nas andanças pela Califórnia, Céu bebeu na fonte do soul. Mas sempre reafirmando o Brasil na mistura que forja sua música.

—O que é o soul? Dorival Caymmi é soul, Jorge Ben Jor, Tim Maia, Clementina de Jesus. Mais que gênero americano, soul é a alma. E é isso que mexe no meu coração. Queria trazer esse teor baseado no Brasil — afirma ela que, em “Novela”, registrou parceria com Marcos Valle, e uma outra de Nando Reis com o pastor Kleber Lucas.

Poucas coisas dão mais prazer à cantora do que fazer gringo cantar em bom português. É o que pretende fazer a partir do mês que vem, quando embarca em turnê internacional.

— É sempre a gente que tem correr atrás, né? Quantos “raw, raw, raw” cantamos a vida toda até, finalmente, e se um dia, aprendemos tal do inglês? Ensinar refrão em português a americano é um deleite.

Céu: 'Curto muito novela. É uma terapia coletiva' — Foto: Leo Aversa
Céu: 'Curto muito novela. É uma terapia coletiva' — Foto: Leo Aversa

Amizade feminina, caipirinha e polêmica com Erykah Badu

Na novela particular de Céu há vários bons capítulos. Um deles são os encontros com as amigas, para quem ela compôs “Gerando na alta”, ode à amizade feminina que desconstrói a cultura patriarcal da rivalidade entre mulheres.

— É uma potência. Como porto seguro, salvação, válvula de escape e felicidade. Quis exaltar isso. Quantas vezes geramos na alta com amigas? Tanto no bom sentido, de curtir a noite, se acabar de rir e dançar juntas, quanto no mal, de fazer merda e ter amiga pra acolher?

É o tipo de parceria que, segundo Céu, “garante a gente”.

— Mulher troca muito. Falamos coisas profundas com amigas, mães, avós. Muitas vezes, estou com elas, começamos a falar baixo porque há coisas interessantes a dizer e, de repente, estamos gritando! Vamos em lugares profundos.

Longe também chega a memória afetiva da cantora quando lembra das novelas a que assistia quando morava com a mãe e a irmã em cima da papelaria da família.

— Tinha 11 anos e ajudava minha mãe na loja fazendo laços em embalagens. Tínhamos essa coisa de parar para assistir à novela — recorda. — Curto o realismo fantástico brasileiro das novela, meio Gabriel García Márquez. Esse negócio de fazer xixi e nascer flor (caso do personagem Jorge Tadeu em “Pedra sobre pedra”). Novela é terapia coletiva.

Outro capítulo curioso dessa trajetória foi o dia em Céu derrubou caipirinha de frutas vermelhas em Waly Salomão. Era garçonete num restaurante em São Paulo, onde serviu nomes como Fernanda Montenegro e Ivete Sangalo, e quis “morrer”, quando o copo virou na roupa do poeta:

— Ele não estava nem aí, foi maravilhoso comigo. Abriu aquele sorrisão e começou a me elogiar.

Episódio não tão divertido aconteceu em 2023. Ela e a banda Bala Desejo tinham sido escalados para abrir o show de Erykah Badu no Brasil. Mas críticas à falta de representatividade no line-up do festival forçou um recuo.

— Imediatamente, falei “tô saindo, vamos redobrar a atenção”. A estrutura secular racista em que vivemos é muito mais cruel do que qualquer sensação de justiça ou injustiça que alguém possa falar — analisa. — Erykah é ídola para mim, a única artista com quem pedi para fazer foto. Eu estava em turnê e com questões complexas com a minha filha. Foi uma porrada. O algoritmo vai gerando polêmica, pessoas que não sabem nada começam a falar e vem a agressividade em massa. Foi violento, mas é a novela da vida.

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