Teatro
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

No começo da pandemia, o diretor Dennis Carvalho quase surtou. Ele, que passara mais de 40 anos “fazendo novela todo dia”, se viu obrigado, por estar no grupo de risco para a doença (aos 74 anos de idade e com apenas um pulmão), a ficar completamente afastado dos estúdios.

— De repente eu não tinha nada para fazer, fiquei desesperado dentro de casa. Comecei a ver séries e filmes, e o tempo não passava. Mas isso me permitiu refletir bastante — conta ele, hoje numa felicidade só com o início dos ensaios de “Clube da Esquina — Os sonhos não envelhecem”, espetáculo sobre o movimento musical liderado por Milton Nascimento e apresentado ao mundo em 1972 num LP duplo, considerado um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos.

Entre as conclusões a que Dennis chegou, estava a de que deveria se afastar da televisão por um tempo e investir na direção de musicais para o teatro — um campo que adentrou com sucesso em 2013, com “Elis, a musical” (sobre a Pimentinha) e que segue explorando ano que vem, num espetáculo sobre Tom Jobim (“o Nelsinho Motta já escreveu o roteiro, mas eu nem abri para ler ainda”, revela).

O ator Tiago Barbosa com Dennis Carvalho, que dirige a montagem do espetáculo teatral Clube Da Esquina - Os Sonhos Não Envelhecem — Foto: Leo Martins / Agência O Globo
O ator Tiago Barbosa com Dennis Carvalho, que dirige a montagem do espetáculo teatral Clube Da Esquina - Os Sonhos Não Envelhecem — Foto: Leo Martins / Agência O Globo

No entanto, “Os sonhos não envelhecem” tem um sabor especial para ele, que conheceu Milton em 1976, quando o cantor foi assistir à peça “Longa noite de cristal”, de Oduvaldo Vianna Filho, na qual atuava.

— Eu era fã dele e pedi para a produtora convidá-lo para ir no camarim. Começamos a conversar e aí nasceu uma amizade muito forte — recorda-se Dennis, que mais tarde foi apresentado a Elis Regina pelo cantor, dirigiu alguns de seus videoclipes para o programa “Fantástico” e o escolheu como padrinho da filha Tainá.

Estreia em agosto

Baseado no livro homônimo de Márcio Borges (irmão do cantor Lô Borges, colega de juventude e letrista de algumas canções de Milton), “Os sonhos não envelhecem” estreia em 19 de agosto, em Belo Horizonte, no Sesc Palladium, e chega ao Rio em 9 de setembro, no Teatro Riachuelo. A produção reúne desde veteranos como Dennis, o iluminador Manecó Quinderé e a figurinista Marília Carneiro a jovens como a roteirista Fernanda Brandalise e os músicos capitaneados pelo produtor Kassin e os 15 atores/cantores/dançarinos.

Amigo íntimo de Milton, daqueles de ligar todo dia, Dennis sabia que não seria fácil escolher alguém para interpretar o cantor e compositor. Mas as dúvidas acabaram assim que assistiu a um vídeo de Tiago Barbosa, que, durante cinco anos estrelou, em Madri, uma montagem do musical “O rei leão”.

— Interpretar o Milton era um projeto irrecusável. Mais que uma dádiva, uma grande responsabilidade — vibra o ator de 37 anos, que, para atender ao convite de Dennis, disse não para propostas de musicais na Inglaterra e na Alemanha. — Meu pai cantava muito Milton em casa. E é engraçado: há seis anos, quando comecei o show “Estrada”, algumas das músicas mais importantes eram “Travessia” e “Nada será como antes”. O “Clube da Esquina” é um reencontro com meu passado. E Milton é um referencial para a minha carreira e a minha vida.

Príncipe negro

Nascido na favela da Vila Ruth, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Tiago começou a carreira cantando gospel, formou-se em Pedagogia e, aos 24 anos, foi estudar teatro com o grupo Nós no Morro, no Vidigal. Tudo mudou quando fez o teste para a montagem brasileira de “O rei leão”. Depois, acabaria se tornando o primeiro príncipe negro em uma montagem de “Cinderela” e viu o seu caminho se abrir no exterior.

Clube da Esquina: Lô Borges, Hélcio Jacaré, Milton Nascimento e Beto Guedes na cidade de Três Pontas (MG), onde Bituca cresceu — Foto: arquivo/4-6-1972
Clube da Esquina: Lô Borges, Hélcio Jacaré, Milton Nascimento e Beto Guedes na cidade de Três Pontas (MG), onde Bituca cresceu — Foto: arquivo/4-6-1972

As temporadas lá fora o levaram a ser eleito o melhor Simba do mundo nas montagens de “O rei leão” e indicado a melhor ator de musical na Espanha (por “Kinky boots”, competindo com Antonio Banderas).

Depois de bater o martelo pelo nome de Tiago, Dennis diz ter feito mistério para Milton sobre quem iria interpretá-lo.

— Eu só dizia: “O cara que vai fazer você canta melhor que você” — diverte-se o diretor, adiantando que “Os sonhos não envelhecem” terá cerca de 30 canções, incluindo as de Lô Borges e Beto Guedes, integrantes do Clube da Esquina. — Será basicamente um espetáculo sobre amizade, com músicas lindas. O Clube tinha um som diferente, eles conseguiram misturar a música mineira com Beatles e fazer algo bem diferente do que tinha na época. E, paralelamente, a gente conta a história do Milton e a do Márcio Borges.

Além dos dois, outros personagem desfilam em cena: Lô (interpretado por Tom Karabachian, filho de Paulinho Moska), Beto, os letristas Fernando Brant e Ronaldo Bastos, o pianista Wagner Tiso, Elis Regina e até a atriz francesa Jeanne Moreau (estrela de “Jules e Jim”, filme que fascinou a turma de Belo Horizonte e que Milton veio a conhecer mais tarde). Todos passaram pela peneira de um trabalho iniciado em 2017, pelas mãos das produtoras que estavam com Dennis na equipe do musical sobre Elis: Márcia Dias e Marilena Gondim (esta, coincidentemente, empresária de Milton entre 1995 e 2009).

— Como a gente acreditou que o “Sonhos” estrearia em 2020, foi necessário fazer o projeto ser visto. E a gente pensou em fazer audições on-line para o elenco, o que deu oportunidade ao Brasil todo de participar, foram mais de mil inscritos — lembra Márcia.

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