RIO - Com mais de 14 milhões de trabalhadores desempregados no país e milhares de vagas na área de TI que as empresas não conseguem preencher, a capacitação para a tecnologia naturalmente atrai quem tenta abrir uma porta para o mercado de trabalho, principalmente os jovens.
Um atalho para fazer isso sozinho pode ser a educação a distância, que promete preparar profissionais para as oportunidades em pouco tempo.
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Ivan Mathias Filho, coordenador do curso de Ciência da Computação da PUC-Rio, diz que é possível adquirir um conhecimento considerável na área com cursos rápidos, incluindo conteúdos gratuitos na internet.
Ele, que se graduou em Física, conta que entrou para o ramo da informática ainda durante a faculdade, a partir de um curso profissionalizante de nove meses que fez nos anos 1980.
— Eu fui pai muito jovem, aos 21 anos, precisava trabalhar logo. Depois disso, não saí mais da área. É um mercado que sempre empregou e pagou bem, mas se atualiza bastante rápido — adverte.
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O professor diz que fazer uma faculdade em áreas de TI como engenharia e ciência da computação ou análise de sistemas é uma forma de alcançar os melhores cargos, mas uma formação básica vai ensinar o “mainstream do momento” para vagas que requerem apenas ensino médio.
Evoluir para uma graduação, diz Mathias Filho, pode ser uma forma de “aprender a aprender”, habilidade essencial para acompanhar as mudanças rápidas do setor.
Para quem busca um aprendizado rápido na internet, ele alerta que é preciso dedicação e empenho para dominar conceitos básicos de matemática e estatística.
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Duas horas diárias
O estudante de Engenharia de Produção Gabriel Campos, de 22 anos, resolveu encarar esse aprendizado por conta própria quando foi trabalhar na Carpediem Homes, uma start-up focada no mercado imobiliário em Natal, no Rio Grande do Norte.
A empresa até ofereceu alguns cursos pagos, mas Gabriel conta que acabou se virando com conteúdos gratuitos na internet sobre programação:
— Na empresa, há um programa de desenvolvimento individual, em que tenho a liberdade de estudar aquilo que sinto que pode ajudar mais no trabalho. Percebi que, mesmo estudando Engenharia, preciso ter habilidades múltiplas, e veio a necessidade de aprender sobre tecnologia. Tiro duas horas do meu expediente para estudar conteúdo da área.
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Ele continuou:
- As empresas desejam, acima de tudo, aquela pessoa que possa pensar estrategicamente e, se necessário, investem nela.
O catarinense Bruno Silva, também de 22 anos, que passou de atendente de lanchonete a desenvolvedor de software da edtech Rocketseat depois de ter chegado à plataforma de ensino a distância para um curso de programação no ano passado.
Na época, trabalhava como atendente de uma lanchonete do McDonald’s em Balneário Camboriú. Acabou contratado pela própria escola virtual.
Desde o ensino médio ele já se interessava por tecnologia, aprendendo com conteúdos gratuitos na internet. Ele avalia que segredo para aprender sozinho está na disciplina, mas o resultado pode ser o aumento da empregabilidade:
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— Terminei os estudos (do ensino médio) e tive que começar a trabalhar. Só consegui emprego em uma lanchonete. Era muito desgastante, pois eu tinha potencial para outras atividades. Mas não desisti. Continuei estudando nos momentos vagos para aquilo que gostaria de trabalhar que é desenvolvimento de software, e consegui.
Empresas estrangeiras ampliam oportunidades
As oportunidades na área de tecnologia são crescentes não só pelo descasamento entre o surgimento de novas vagas e a formação profissional. O Brasil tem perdido muitos talentos na área de TI para outros países.
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Wagner Pontes, CEO da D4U USA, que assessora profissionais interessados em imigrar legalmente para os EUA, diz que a busca de profissionais da área de tecnologia pelos serviços da empresa aumentou 30% em 2020 em relação a 2019.
E segue forte este ano com a flexibilização das normas de imigração e de emissão de vistos de permanência (green cards) nos EUA para profissionais que fazem falta à recuperação econômica do país, como os de TI.
— Além da situação delicada que o Brasil atravessa, um dos grandes atrativos para esses profissionais imigrarem é a remuneração mais alta — diz Pontes.
*Estagiário sob supervisão de Alexandre Rodrigues