O dólar caiu abaixo de R$ 5 nesta quinta-feira pela primeira vez desde junho. O real vem se apreciando principalmente por fatores externos. A perspectiva de reabertura da economia chinesa e da desaceleração no processo de alta de juros nos Estados Unidos têm ajudado a moeda local.
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Nesta quarta-feira, o Fed ( BC americano) desacelerou o aumento de juros para 0,25 ponto percentual, um intervalo entre 4,5% e 4,75%, maior nível desde 2007 e oitavo aumento consecutivo. Ao mesmo tempo, o Banco Central manteve os juros brasileiros em 13,75% ao ano.
O movimento não é isolado. O índice DXY, que acompanha o movimento do dólar contra uma cesta de moedas fortes, chegou a se aproximar dos 115 pontos no segundo semestre do ano passado. Hoje, está próximo dos 100 pontos.
A entrada de fluxo estrangeiro para o nosso mercado, pela melhor posição relativa do Brasil na comparação com outros emergentes e devido ao patamar elevado dos juros locais, também é visto como um fator que nos beneficia.
Até o pregão de 30 de janeiro, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, estava positivo em R$ 11,20 bilhões.
— Podemos dizer que se deve a fatores externos. A estabilização de indicadores de emprego, inflação e consumo na economia americana, que levou o Fed (banco central americano) a abrandar a alta de juros, e a reabertura da China, fortalecem países emergentes como o Brasil — destaca o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano dos Santos.
Diante disso, o consumidor pode se questionar se é um bom momento para comprar a divisa seja para adquirir um produto ou montar uma reserva para uma futura viagem ao exterior.
Para essas finalidades, a moeda utiliza é o dólar turismo, negociado a uma cotação maior que a do comercial, mas que tende a acompanhar o movimento de seu par.
Comprar aos poucos
A recomendação dos especialistas é comprar dólar aos poucos para construir o chamado “preço médio”, especialmente, para aqueles que não precisam do dinheiro de forma imediata.
Ao comprar dólar em diferentes janelas no tempo, o comprador se aproveita de cotações distintas e consegue se proteger das variações do câmbio, um dos indicadores econômicos mais imprevisíveis.
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O economista da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), José Faria Júnior, avalia a cotação entre R$ 5,05 e R$ 5,10 como uma oportunidade de compra. Valores próximos a R$ 5,30, por sua vez, são considerados caros.
— No nível atual, acho interessante comprar. Se você vai viajar daqui a seis meses, pode fazer uma compra de 30% do total que vai precisar. Caso o dólar caía mais, você pode comprar mais um pouco. A melhor hipótese que tem para a pessoa física é fazer uma programação de compra mensal. Não adianta tentar acertar a tendência da moeda.
O economista da Planejar ressalta que a pessoa não deve se endividar para comprar dólar só pelo fato da cotação estar em queda.
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Viagem nas férias
Para aqueles que pretendem viajar para o exterior em julho, por exemplo, esta pode ser uma boa hora para comprar moeda estrangeira.
Caso a compra seja feita de uma só vez e muito próxima da viagem, o comprador pode ficar refém da cotação disponível naquele momento.
— A orientação que sempre passo para os nossos clientes é que sempre quando há essas quedas mais relevantes, é uma janela de oportunidade, principalmente para quem vai viajar ao exterior — disse o gestor de varejo da Europa Câmbio, Paulo Victor Pereira.
Na Europa Câmbio, uma primeira estimativa mostra aumento nas vendas de 30% em janeiro deste ano em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Desde 2006, o casal de aposentados Josias Azevedo, 62, e Gladys Hoffmann, 60, viaja anualmente. Os dois, que já foram a 30 países juntos, agora planejam visitar a família na Austrália. Com a viagem marcada para o dia 18 de fevereiro e quatro paradas previstas para ocorrer nos Estados Unidos, eles ainda precisam comprar os dólares americano e australiano.
— Costumamos comprar em uma loja de câmbio em Copacabana, mas, desta vez, a tendência é que a gente compre a maior parte online e viaje com o cartão de débito, porque a cotação é menor — disse Azevedo. — Todos os dias nós olhamos o valor do dólar. Recentemente, inclusive, o americano baixou, mas o australiano, em compensação, aumentou.
Intercâmbio no exterior
Já para quem pensa em estudar a partir de janeiro do ano que vem, as recomendações são parecidas. Vale destacar que este tipo de viagem tem uma duração maior e envolve mais gastos na moeda estrangeira, o que reforça a recomendação da compra com planejamento prévio.
— Quanto maior o tempo que você for ficar, maior o cuidado e a atenção — resume Pereira.
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Como comprar?
Há várias formas de se comprar com a moeda estrangeira, com diferentes alíquotas. Segundo Pereira, a escolha deve ser feita de acordo com os objetivos da compra e o montante a ser adquirido.
Para a compra do dólar, o imposto sobre operações financeiras (IOF) é de 1,10% no papel moeda. Já sobre compras no cartão pré-pago ou no cartão de crédito, o imposto é de 5,38%.
Desde o dia 30 de dezembro, brasileiros podem levar até US$ 10 mil em espécie ou o equivalente em outra moeda estrangeira sem necessidade de declaração à Receita Federal ao viajarem para fora do Brasil. Antes, o limite máximo era de R$ 10 mil.
— Vai depender muito do objetivo, mas oriento a diversificar a carteira e não ficar 100% concentrado em um único produto. Quem for passar um período maior de tempo, abrir uma conta no exterior e fazer a transação entre contas de volumes maiores pode ser uma opção melhor — ressalta o gestor da Europa Câmbio.
No ano passado, o Brasil se comprometeu com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a zerar, até 2029, a cobrança do IOF cobrado sobre transações com o exterior.
A medida inclui, inclusive, o uso de cartões de débito e crédito no exterior por brasileiros.
Fintechs e bancos digitais também oferecem conta bancária em dólar ou euro aos brasileiros e são mais uma opção para quem pretende viajar.
Qual é a tendência?
A previsão de uma variável como o câmbio é sempre difícil. O head de câmbio da Trace Finance avalia que o cenário ainda é positivo para o real.
Podem jogar contra a nossa moeda, os já conhecidos riscos fiscais brasileiros, em um momento no qual se discute a nova regra do arcabouço fiscal no país, a continuidade da desoneração de combustíveis e formas de equacionar as contas para pagar o salário-mínimo de R$ 1320.
Por outro lado, caso o exterior continue ajudando e reformas consideradas importantes pelo mercado, como tributária, consigam avançar, o câmbio pode continuar a se aproveitar do ambiente externo favorável.
— Não temos, de maneira clara, qual posição será adotada pelo novo governo, o que gera incerteza e desemboca em volatilidade. A grande atenção é o aguardo da nova âncora fiscal e, agora também em pauta, a não alteração da meta de inflação — disse Santos.