O executivo Thiago Freire Guth anunciou neste sábado sua renúncia aos cargos de diretor da Light (holding) e presidente da Light Sesa, a distribuidora que presta serviços a 31 municípios fluminenses. O anúncio, feito em meio à recuperação judicial do grupo, surpreendeu analistas. Para eles, o movimento pode gerar insegurança entre credores.
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De acordo com o comunicado divulgado hoje, Guth segue trabalhando até o dia 30 de junho. O nome do seu substituto ainda não foi informado. O executivo também vai deixar o posto de conselheiro de administração da Light Energia, braço de geração do grupo.
A companhia vem enfrentando dificuldades há meses, com gatos e queda no consumo de energia. A situação se agravou com a alta dos juros, que encareceu o crédito, levando-a a pedir recuperação judicial em maio.
Falta de consenso
Para Paula Nogueira, advogada da área de contencioso estratégico e arbitragem da Abe Advogados, a renúncia traz incerteza para o processo:
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— Não é comum e expõe a empresa a incertezas de gestão e manutenção de condução dos negócios. Isso é ruim porque gera insegurança aos credores, que podem ter menos abertura para a aprovação do plano de recuperação judicial e menos disponibilidade para negociações. Não é o cenário ideal para esse momento delicado, mas pode ser bem contornado com a indicação de um substituto que agrade aos credores.
Guth estava na empresa há dois anos e sete meses. Era o único diretor remanescente da gestão anterior. Octávio Pereira Lopes, presidente da holding e presidente dos Conselhos de Administração da Light Sesa e da Light Energia, continua nos cargos.
Luan Alves, analista chefe da VG Research, diz que a saída do executivo pode ser um indicativo de que as negociações entre a Light e os credores ainda não avançaram. A renúncia poderia ser uma forma de renovar a diretoria da empresa.
— A direção julgava que os credores estavam sendo muito agressivos nessa negociação. Não se chegou a um consenso. Vai haver uma nova rodada e acredito que a troca na direção vem nesse sentido. Esses rostos antigos estavam deteriorados porque o clima ficou ruim.
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Para Edmar Almeida, do Instituto de Economia UFRJ, a saída do executivo agrava o quadro do grupo.
— Há uma concessão por vencer. Não temos um histórico para saber como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai agir. A quebra da Light pode ter consequências muito sérias para o setor elétrico brasileiro — disse o especialista.