É cada vez mais comum que crianças, mesmo quando muito pequenas, tenham aparelhos celulares. Também é comum que elas passem cada vez mais tempo na frente das telas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad/TIC), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE.
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Aproximadamente 85% das crianças de 10 a 13 anos acessaram a internet no Brasil em 2022. Esse acesso cresce continuamente com o avanço das faixas de idade, chegando a mais de 96% dos adultos de 20 a 29 anos, mas diminui um pouco no patamar dos 50 anos.
Apesar de acessarem menos a rede, o crescimento no uso da internet foi mais acelerado entre os mais velhos. Segundo o IBGE, o aumento do percentual de pessoas que utilizaram a internet, de 2019 a 2022, foi maior entre adultos de 50 a 59 anos e de 60 anos ou mais (crescimento de 11,9 e 17,3 pontos percentuais, respectivamente).
Pela primeira vez, o levantamento também investigou a frequência com que as pessoas normalmente usam a web: 93,4% dos brasileiros acessavam a rede todos os dias no ano passado, enquanto outros 2,7% se conectavam quase todos os dias (cinco ou seis dias na semana). A pesquisa entrevistou apenas habitantes com mais de 10 anos.
Chama a atenção a frequência com que crianças acessam a internet: 91,2% das que têm entre 10 a 13 anos usam a rede diariamente, seja navegando em sites, postando em redes sociais ou jogando com amigos. No caso das pessoas com idade entre 14 e 39 anos, mais de 95% afirmaram usar a internet todos os dias.
Eduardo Jorge Custódio, professor da UERJ e da rede E.S.S.E Mundo Digital, conta que o uso da internet por crianças e adolescentes precisa ser monitorado pelos pais, e alerta para os riscos do uso prolongado nessas faixas de idade:
— Existem riscos físicos como olhos secos até a postura ruim, dores cervicais, e perda de audição por conta do uso de fones. Elas têm acesso a muitas informações, mas sem aprofundamento, e isso pode estar relacionado a dificuldades de concentração — conclui.
A historiadora Patrícia Wanzeller, de 47 anos, considera que o contato com a tecnologia é inevitável. Sua filha, Anna Júlia Barreto, de 13 anos, cresceu conectada: aos 7 anos, um antigo tablet da família passou para as mãos da pequena, que aos 11 anos ganhou o primeiro smartphone.
— Ela estudava em regime integral e passávamos muito tempo sem contato direto com ela. Sempre tive acesso às senhas dela, mas nunca precisei exigir nada. Temos uma relação de confiança, e ela mesma me mostra o que vê, mexe quando está ao meu lado e isso nunca foi um problema — afirma Patrícia.
O menor percentual de pessoas que usam a internet todos os dias foi entre os idosos (84,3%). Mesmo assim, a grande maioria das pessoas com mais de 60 anos que normalmente usam a internet o fazem diariamente.
Celular para menores
Em 2022, o percentual de crianças entre 10 a 13 anos que têm celular alcançou 54,8%. Foi um avanço de 3,4 pontos percentuais em relação ao ano anterior. A pandemia, quando as famílias se viram obrigadas a passar mais tempo em casa, ajuda a explicar esse comportamento, bem como o maior acesso à internet por crianças.
A partir dos 14 anos, a posse de celular para uso pessoal dá um salto. O percentual de adolescentes com seu próprio smartphone chegou a 84,7% em 2022, segundo a pesquisa do IBGE. Nos anos anteriores, esse percentual já vinha subindo.
Mas a maior fatia de pessoas com celular ainda é observada entre adultos jovens, de 25 a 29 anos. Nesta faixa etária, a taxa ficou em 94,8%. Entre os brasileiros de 30 a 39 anos, 94,9% têm celular.
O percentual cai à medida que se envelhece. Entre os que têm 50 a 59 anos, 89,6% têm o aparelho. Já entre os brasileiros com 60 anos ou mais, 73,7% são donos de um smartphone.
* Estagiária sob supervisão de Danielle Nogueira