Tecnologia
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Por — Rio

O termo deepfake vem ganhando a atenção do mundo por conta da explosão de conteúdos envolvendo voz, áudio ou imagem manipulados com o objetivo de espalhar desinformação ou executar crimes cibernéticos. Mas a tecnologia de simulação de imagens e sons viabilizada pela inteligência artificial (IA) não está só a serviço de criminosos.

A possibilidade de produzir material multimídia associado à aprendizagem profunda (deep learning) das máquinas turbinadas com IA está no radar dos investidores no mundo como uma oportunidade de negócio e começa a ser testada no Brasil.

Os entusiastas veem com otimismo a formação de um mercado legal de mídia sintética. Fundos de investimento que seguem a tese investem em startups de IA focadas na geração de áudio e vídeo em todo o mundo.

No Brasil, esse movimento ainda é incipiente, mas já há empresas com foco em B2B (prestação de serviços para outras companhias) nessa área. Vídeos simulados já têm sido usados na publicidade, em conteúdo educacional ou em treinamentos em ambientes de trabalho.

Uma dimensão do impacto que esse tipo de tecnologia pode ter na produção multimídia foi o frenesi provocado pelo Sora, sistema de geração de vídeos apresentado pela OpenAI (que também é a criadora do ChatGPT) em fevereiro, com uma extraordinária capacidade de criar cenas realistas. A ferramenta ainda está em testes.

Uma das empresas brasileiras que desbrava esse novo filão é a Iara Digital, criada em 2020. A startup já desenvolveu mais de 200 projetos com base em tecnologias de IA conversacional — que funcionam a partir de linguagem natural, como a assistente Alexa, da Amazon — e IA generativa, que cria textos, imagens e vídeos a partir de comandos.

‘Gêmeo’ digital

Mais recentemente, a empresa também passou a apostar no uso da ferramenta HeyGen, capaz de captar imagem e voz de pessoas para a criação de conteúdo sintético. Num dos projetos, foi coletada a voz e a figura da presidente de uma montadora para exibir mensagens personalizadas dela dando boas-vindas aos novos compradores de um modelo de carro elétrico, conta João Paulo Alqueres, CEO da Iara Digital.

Ele dá como outro exemplo a captação das características de um executivo de uma multinacional de dispositivos médicos para usar sua imagem em material audiovisual para o treinamento de funcionários.

— Acreditamos que a comunicação é mais efetiva quando apoiada no fator humano. Já temos clientes que nos procuram para poder circular comunicações (internas) por meio de avatares — diz Alqueres.

Ele também vê um grande potencial para o negócio de mídia sintética entre influenciadores digitais, e lançou o serviço Gêmeo AI, voltado para esse público. Quem contrata pode ter seu próprio avatar realista criado por IA a sua imagem e semelhança, para ampliar a presença nas redes com um gêmeo virtual.

— Existe muita oportunidade porque a tecnologia está se tornando extremamente democrática, e é um alento que a IA já surja com o debate da regulação. Colocamos a ética como um dos princípios da nossa operação. Não vamos desenvolver um projeto que coloque em risco o bem-estar da sociedade, como favorecer conversas de crianças com robôs sem controle ou que as pessoas façam um autodiagnóstico, por exemplo — afirma Alqueres, que vai participar de um painel sobre o tema na próxima edição do Rio2C, maior encontro de criatividade e inovação da América Latina, que começa na terça-feira na Cidade das Artes, no Rio.

Cinema namora ‘big techs’

A indústria do cinema já utiliza tecnologias de simulação para gerar imagens sintéticas há décadas, mas vem aprimorando suas técnicas a partir do avanço dos algoritmos de IA. Representantes de grandes estúdios de Hollywood, inclusive, já discutem com Google e Meta o licenciamento de conteúdo do cinema para que as big techs treinem seus sistemas de geração de vídeo com IA e desenvolvam ferramentas que possam ser aplicadas pelos estúdios.

— Isso muda inclusive o modelo de negócio com os atores do cinema hoje, incluindo a exploração de imagem e a valorização da imagem digital deles. Nós estamos caminhando para micronichos e hiperpersonalização de conteúdo. Não faz muito sentido pensar em segmentação de mercado como pensávamos antes — avalia Alexandre Nascimento, especialista da SingularityU Brazil, centro de estudos de tendências em tecnologia.

A preocupação sobre o uso da IA para reprodução digital da imagem de atores, especialmente no caso de figurantes, esteve por trás da histórica greve da categoria no ano passado em Hollywood. Iniciada em maio, a greve só terminou em novembro.

Machado revive

Além da indústria criativa, Nascimento vê espaço para o crescimento da mídia sintética em outros mercados, já que a geração de conteúdo editado por IA permite uma forte redução de custos e amplia o acesso. Na educação, o processo de aprendizagem pode ser ampliado. Um exemplo: a IA pode criar um avatar que dê vida a Machado de Assis e introduza sua literatura às crianças.

O avatar de Machado de Assis,que conversa com visitantes da ABL — Foto: Divulgação
O avatar de Machado de Assis,que conversa com visitantes da ABL — Foto: Divulgação

Esse experimento foi feito em março na Academia Brasileira de Letras (ABL) pela empresa Euvatar Storyliving. O escritor, que morreu em 1908, interage com visitantes da ABL, respondendo perguntas a partir de um repertório selecionado por profissionais da instituição processado pela tecnologia da Euvatar, que também atua nas áreas de realidade aumentada e imersiva.

— A dúvida é: quando a gente cria um avatar de Machado de Assis ou de Tiradentes, até que ponto devemos deixar isso de forma totalmente aberta e livre? A criança pode aprender coisas que não são reais, por isso é preciso regulação, com uma estrutura que escute cientistas, especialistas e usuários, para que não se restrinja a inovação e sejam criados caminhos para um uso responsável — diz Nascimento.

Ele pondera ainda que o Brasil deve sair atrás nessa corrida tecnológica pela falta de investimentos em pesquisa, desenvolvimento de tecnologias avançadas e mão de obra qualificada.

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