Foi somente em 1998 que se descobriu que o clitóris tem dez centímetros, e não apenas um, como diziam as publicações científicas. A demora parece trágica, e é. A informação descortinou o quanto a anatomia e o funcionamento do órgão sexual feminino foram negligenciados ao longo dos anos. Portanto, uma peça sobre o tema soa urgente. E esse é exatamente o mote de “A origem do mundo”, que chega, na próxima quinta, ao Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, no Rio, para uma temporada de quatro semanas.
Encenada pelas atrizes Luisa Micheletti e Julia Tavares, com direção de Maria Helena Chira, a montagem é inspirada na HQ “A origem do mundo — uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado”, da artista gráfica e cientista política sueca Liv Strömquist, e opta pelo humor ao abordar os disparates em torno do tema. “Queremos fazer com que as questões sejam assimiladas com mais facilidade. Mas, se você pensar, toda comédia parte de um drama”, reflete Julia.
Cada atriz interpreta cerca de 15 personagens, num jogo dinâmico de cenas com direito a um toque de brasilidade em alguns momentos. Entre as situações representadas no cenário cercado por livros, estão um Freud transformado em vendedor de balas, um debate feito no formato de um programa de auditório e uma dupla de amigas que conversa, enquanto fuma um baseado, sobre cirurgias plásticas íntimas.
São abordagens que não só informam como libertam. Afinal, ideias equivocadas estão por trás de questões que atravancam a vida de muitas mulheres. É o caso da busca por intervenções estéticas nos lábios vaginais motivada pelo desconhecimento quanto à real anatomia do órgão, assim como a disseminação da ideia de que o prazer sexual está ligado exclusivamente à penetração. “Infelizmente, a desinformação sobre o tema é universal”, reconhece Luiza, idealizadora do espetáculo e responsável pela adaptação. “Eu mesma só fui descobrir, há alguns anos, que vulva e vagina são coisas diferentes.”
A peça, a atriz faz questão de avisar, é inclusiva: “Os homens amam e dão muitas risadas”. Afinal, nunca é tarde para se aprender.