A reunião de ministros do Meio Ambiente dos países do G20 foi encerrada nesta sexta-feira sem um acordo para limitar as emissões de gases de efeito estufa a partir de 2025 diante da crise climática global, informou o representante da França, Christophe Béchu.
Delegados das 20 maiores economias do mundo terminaram a reunião sem avanços antes da próxima conferência do clima da ONU (COP28), marcada para o fim de novembro em Dubai, nos Emirados Árabes. As negociações também fracassaram no objetivo de incentivar o maior uso de energias renováveis.
— Estou muito decepcionado — disse à AFP o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, afirmando que não houve acordo sobre o uso de energias renováveis e redução de combustíveis fósseis, especialmente o carvão. — Há temperaturas recordes, catástrofes, incêndios gigantescos e não conseguimos chegar a um acordo para limitar as emissões até 2025.
Béchu disse que as negociações sobre questões climáticas com China, Arábia Saudita e Rússia foram "complicadas".
- Recordes de temperatura, incêndios e 'vigilância absoluta': Entenda por que ondas de calor preocupam especialistas
O encontro em Chennai, na Índia, aconteceu dias depois dos ministros de Energia do grupo também não conseguirem chegar a um acordo para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Na quinta-feira, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou seu mais recente relatório apontando que o consumo de carvão atingiu níveis recordes em 2022, com 8,3 bilhões de toneladas — 3,3% a mais que no ano anterior.
O relatório ainda indica os contraste de consumo por região. A China, a Índia e o Sudeste Asiático, juntos, consumirão cerca de três quartos do carvão mundial este ano, enquanto a Europa e a América do Norte — que há 30 anos consumiam 40% do carvão global — hoje respondem por apenas 10% da demanda.
Os países do G20 representam 80% do PIB e das emissões de CO2 do mundo. Algumas delegações atribuíram o pouco progresso no debate aos países que são produtores de petróleo, como Rússia e Arábia Saudita.
Todos os presentes na reunião entendem "a gravidade da crise" que o mundo enfrenta, disse à AFP Adnan Amin, diretor-executivo da COP28. Segundo ele, há questões de interesse nacional que precisam ser resolvidas antes que compromissos mais fortes sobre combustíveis fósseis possam ser firmados no âmbito internacional.
— Está claro que cada país do mundo vai começar a buscar seu interesse imediato — afirmou.
O presidente da próxima conferência climática da ONU, Sultan Al Jaber, que comanda o principal consórcio produtor de petróleo e gás dos Emirados Árabes Unidos, também participou do encontro. Sua ligação com a indústria tem sido amplamente criticada pelo possível conflito de interesses, já que a queima de combustíveis fósseis é a principal causa do aquecimento global, segundo a comunidade científica.
De acordo com o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), para o aquecimento global não ultrapassar o limite de 1,5ºC estabelecido pelo Acordo de Paris é preciso reduzir a emissão de gases de efeito estufa globalmente em 43% até 2030.
Imagens que marcam o mês mais quente da História
Destruição dos meios de subsistência
Com incêndios devastadores na Grécia e uma onda de calor na Itália, o comissário da União Europeia para o Meio Ambiente, Virginijus Sinkevicius, alertou antes da reunião que havia "mais e mais evidências sobre o impacto climático devastador" e que "os meios de subsistência de muitas pessoas estão sendo destruídos".
Na quinta, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas e o Observatório Europeu Copernicus confirmaram que há dados suficientes para afirmar que este mês será o mês mais quente já registrado na História. Na avaliação do secretário-geral da ONU, António Guterres, o planeta chegou agora à era da "fervura global".
Até agora, o progresso tem sido lento por causa da polarização no G20 em torno da guerra na Ucrânia e das fortes divisões entre países ricos e em desenvolvimento sobre questões como o financiamento da transição ecológica.
Países como a Índia argumentam que nações historicamente responsáveis por mais emissões deveriam gastar mais em esforços globais de mitigação do que economias mais pobres. Os países produtores de energia resistem a compromissos mais ambiciosos por temerem os efeitos sobre suas economias.