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Oito dias depois do Hamas realizar o maior ataque-surpresa contra Israel em 50 anos, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, rompeu o silêncio no último domingo e declarou: as ações do grupo não representam seu povo. Mas afinal, quem o representa, se a última vez que os palestinos foram às urnas foi em 2006? Segundo uma pesquisa do Centro de Mídia & Comunicação de Jerusalém (JMCC) em parceria com a fundação alemã Friedrich Ebert de julho do ano passado, só 12% dizem confiar no Hamas. Apesar disso, o atentado promovido pela facção minoritária pode significar um dos maiores reveses às negociações por um Estado palestino, avaliam especialistas ouvidos pelo GLOBO.

— O ataque foi feito pelo Hamas, mas é a população palestina que está profundamente vulnerável — afirma Tanguy Baghdadi, professor de política internacional e fundador do podcast Petit Journal. — O Hamas conseguiu certo prestígio junto à parte da população não por conta da sua atuação militar, mas pelo fato de, muitas vezes, atender às suas necessidade mais básicas.

Dados da ONU de 2022 mostram que 65% dos palestinos vivem na linha da pobreza e sofrem de insegurança alimentar na Faixa de Gaza. De acordo com Baghdadi, uma grande parte dos palestinos é contra os ataques à Israel por saber que ações como a do dia 7 de outubro — que deixou mais de 1,4 mil israelenses mortos, 3,9 mil feridos e fez ao menos 199 reféns, incluindo estrangeiros — levam a retaliações de "prejuízos catastróficos para a população mais pobre". Segundo o JMCC, mais de 50% da população acredita que as operações contra alvos israelenses atrapalham os interesses nacionais.

A resposta de Israel vem transformando o medo em realidade. Até o momento, mais de 2,8 mil palestinos morreram, 10,8 mil ficaram feridos e 1 milhão precisaram abandonar suas casas em Gaza devido aos bombardeios israelenses. Se comparado com a população total, o número de mortos em Gaza é oito vezes superior ao de Israel: há 122 mortos por 100 mil habitantes do lado palestino contra 14 do israelense.

Isolamento externo, insatisfação interna

Desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza após uma tortuosa disputa com o Fatah, que passou a governar a Cisjordânia, as fronteiras da região foram cercadas pelas forças israelenses sob a justificativa de temor do grupo terrorista. O racha na representação do povo palestino ficou notório não só geograficamente, mas pela condução do governo. Enquanto o Fatah, que comanda a Autoridade Nacional Palestina (ANP), adota uma postura conciliadora, o Hamas impõe uma série de restrições às liberdades individuais e uma visão radicalizada da religião muçulmana, afirma Baghdadi.

— A sociedade palestina defende um Estado laico e democrático — pontua Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). — Ela é espiritualizada assim como o Brasil, que é fortemente cristão, mas é contra a religião gerindo os assuntos do Estado, o que é muito diferente de algumas opiniões que defendem que a Palestina possa vir a ser um Emirado Islâmico.

Apenas 5% dos palestinos consideram a religião como o principal fator para definir seu voto em um candidato, de acordo com o levantamento do JCMM. Mais de 70% defendem a realização de novas eleições e, havendo um pleito, 51% disseram preferir a plataforma conciliadora do Fatah contra 21% que escolheriam a alternativa militar do Hamas.

Apesar dos resultados à primeira vista positivos para a Autoridade Palestina em uma eventual disputa em Gaza e na Cisjordânia, eles não se traduzem na confiança da sociedade. Segundo a pesquisa, a maioria dos palestinos (43%) não confiam em nenhum grupo político e/ou religioso. Cerca de 28% disseram confiar no Fatah e apenas 12% afirmaram o mesmo sobre o Hamas.

Para Omar Shakir, diretor da Human Rights Watch (HRW) dedicado a observar a situação Israel-Palestina, os 16 anos de enclausuramento em Gaza e a expansão dos assentamentos judaicos ilegais na Cisjordânia minaram as esperanças do povo palestino em formas de resistência pacíficas.

— Os palestinos apontam que a Autoridade Palestina escolheu o caminho da negociação e já faz mais de 30 anos que a sua situação só fica exponencialmente pior — explica Shakir, acrescentando que a repressão de Israel contra protestos na Faixa de Gaza e alternativas legais de grupos de direitos humanos deixou aos palestinos "nenhuma opção a não ser se render".

Conflito em Israel:

Negociação distante

Organizações internacionais e líderes de países como Brasil, Rússia e até EUA, aliado de primeira hora de Israel, têm defendido nos últimos dias a abertura de um diálogo para a criação do Estado palestino. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, no entanto, ainda que o Hamas não represente a maior parte do povo, não há qualquer clima para negociações agora.

— Não existe nenhum humor nesse momento para discutir a criação de um Estado palestino. Acho que pelo contrário, o que aconteceu prejudica muito qualquer tipo de conversa acerca de uma negociação de paz — avalia Baghdadi.

A tendência, ao contrário, é um aumento ainda maior das hostilidades, inclusive entre civis, avalia Marcio Scarlecio, professor de Relações Internacionais na PUC-Rio e especialista no conflito árabe-israelense. Um sintoma disso é o crescimento dos ataques contra palestinos na Cisjordânia — que não está envolvida diretamente no conflito —, onde 54 palestinos já morreram e 1,1 mil ficaram feridos desde o início dos confrontos.

— Pelo menos no curto prazo, não há nenhuma vontade [israelense] de conceder qualquer coisa aos palestinos. Uma das possibilidades é a situação endurecer mais por causa da ira e da sensação de insegurança — afirma Scarlecio, que aponta para o crescimento da xenofobia na convivência entre os dois lados.

Apesar do cenário, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil garante que as reivindicações palestinas são simples e positivas também para o povo de Israel.

— Uma paz genuína na Palestina vai trazer prosperidade para os palestinos e também para os israelenses, eu não tenho dúvida disso — afirma Rabah. — Os palestinos têm pedido uma força internacional de paz para garantir a segurança do povo e uma conferência internacional de paz em que se resolva as questões fundamentais: o fim do apartheid e dos bloqueios [à Faixa de Gaza], a desocupação dos territórios palestinos e o retorno dos refugiados.

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