O grupo de milicianos que atua na Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, fatura em média por ano cerca de R$ 1,4 milhão (R$ 120 mil por mês) com a exploração de venda de água, transporte clandestino e transmissão ilegal de TV a cabo, além da cobrança de taxas de segurança. O montante arrecadado ilegalmente, segundo a polícia, dá a dimensão do lucro da organização criminosa. Era de olho no controle desse faturamento da região que o ex-policial militar Ronnie Lessa estava quando aceitou a empreitada criminosa para matar a vereadora Marielle Franco.
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Na delação, Lessa contou que queria deixar de atuar em Rio das Pedras, região controlada pelo miliciano Adriano da Nóbrega, para ter seus próprios domínios. Segundo o relatório da Polícia Federal, sete meses depois do crime, Ronnie Lessa fazia planos de invadir um terreno vizinho ao shopping Uptown, próximo à Gardênia Azul, e prometeu remunerar o comparsa Élcio de Queiroz com lotes na região. No terreno de grandes dimensões, ele calculava que o maior retorno viria da exploração de serviços, como gatonet, após a construção de moradias.
“(Lessa) ressaltou que, pelas dimensões das terras, se tratava de uma empreitada milionária. Contudo, asseverou que o maior atrativo da iniciativa residia na exploração dos serviços típicos de milícia decorrentes da ocupação dos loteamentos, como exploração de “gatonet”, gás, transporte alternativo, dentre outros, pelos quais o colaborador e seu comparsa seriam os responsáveis", diz trecho do relatório.
O terreno é da prefeitura: originalmente, a área era reservada para a construção de uma nova rua, e chegou a ser ocupada, mas o município conseguiu retirar os invasores. Nos últimos anos, a comunidade da Gardênia se expandiu. Documentos obtidos pelo GLOBO mostram que, diante desse cenário, a prefeitura decidiu vender o imóvel para particulares. O processo administrativo está em andamento.
A equipe do GLOBO esteve no local e constatou que a área apontada por Ronnie Lessa foi desmatada. Sua entrada, pela Estrada da Chácara, dá acesso à comunidade da Chacrinha — alvo de disputas entre a milícia e o tráfico. Uma estrada de terra, aberta na altura do número 780 da Rua Comandante Luís Souto, leva ao segundo loteamento. Imagens do Google Street View, de fevereiro do ano passado, mostram a região ainda coberta de mata. Hoje, na encosta do morro, vigiada por grupos armados, podem ser observadas casas construídas e habitadas.
Segundo a PF, o terreno pertencia a uma empresa que foi liquidada em 2008. Procurado, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) alega que a fiscalização na área é responsabilidade da prefeitura do Rio — que, por sua vez, informa que está levantando informações sobre o terreno.
Grilagem na Zona Oeste
A grilagem de terras é prática antiga da milícia do Rio, sobretudo na Zona Oeste, onde os grupos criminosos se expandiram. Segundo a Central 1746, desde 2021 foram feitas 110 denúncias sobre construção irregular em cinco bairros: Recreio dos Bandeirantes, Barra, Vargem Grande, Vargem Pequena e Praça Seca. No mesmo período, 3,3 mil demolições foram feitas pela secretaria de Ordem Pública em operações conjuntas com o Ministério Público do Rio. Dessas, 70% foram em áreas de atuação do crime organizado.
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