Rio
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Por — Rio de Janeiro

Uma operação da Polícia Civil do Rio, deflagrada nesta terça-feira, teve como principal objetivo desmantelar a estrutura criminosa do Comando Vermelho, que permitia a comercialização de armas e drogas da maior facção do estado. Mas, para além de comunidades cariocas e endereços nobres — que incluem imóveis na Zona Sul, Barra da Tijuca e na Região dos Lagos — de onde eram distribuídas a cocaína e a maconha do tipo skank, o foco da ação é na rota utilizada para que esse material ilícito chegue ao sudeste do país, a partir da expansão do grupo armado. As drogas, assim como armamento oriundo do leste europeu, entram no país através da fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, respectivamente no encontro das cidades de Tabatinga (AM), Letícia e Santa Rosa de Yavarí, e se utilizam da chamada Rota do Solimões, que percorre o rio de mesmo nome para chegar a Manaus.

Da capital amazonense, os produtos ilegais — por meios que não têm um padrão, podendo ser de carro ou de caminhão, por exemplo — percorrem o Centro-Oeste brasileiro até Minas Gerais e, em seguida, Rio de Janeiro. Batizada de “Rota do Rio”, a operação da Polícia Civil faz referência à rota do rio Solimões, e também ao destino da rota, o Rio (de Janeiro). O esquema movimentou cerca de R$ 30 milhões no período dois anos.

Infográfico — Foto: Editoria de Arte
Infográfico — Foto: Editoria de Arte

O marco dessa expansão do tráfico carioca para o Norte do país vem do assassinato, em 2016, de Jorge Rafaat Toumani. O narcotraficante brasileiro foi executado em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS). A morte teria sido tramada em conjunto pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e pelo Comando Vermelho, mas sem definição de como seria dividido o espólio do traficante, o que desencadeou um racha entre as facções.

Agora com a influência, na fronteira entre o Paraguai e o Brasil, reduzida às cidades de Capitán Bado (Paraguai) e Coronel Sapucaia (MS), a Rota do Solimões foi uma “salvação” para o tráfico de entorpecentes do Comando Vermelho, conforme detalhou o delegado Gustavo Ribeiro, diretor do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil do Rio.

Segundo ele, ainda houve uma dissidência na facção Família do Norte (FND), que até então dominava a região, que deu origem ao Comando Vermelho do Amazonas (CVAM).

— Essa rota de cocaína e skank deu sobrevida, em termos logísticos, ao Comando Vermelho, porque ela tem muita capilaridade, consegue entregar muita droga, e armas vindas do leste europeu — explicou o delegado, ressaltando que, durante as investigações, constatou-se ainda que a parte rodoviária da rota é justamente onde as polícias fazem apreensões de armas e drogas.

Há ainda uma “ramificação” do trajeto: o que não tem como destino o Rio de Janeiro, deixa o estado do Amazonas rumo ao tráfico internacional.

— Parte dessa droga “sobe” e vai para os portos do Pará e do Nordeste. Percebam que, após esses episódios, a influência do Comando Vermelho especialmente no Ceará, que é o ponto mais setentrional do continente, é muito forte. No Pará também, porque aquele litoral-norte é voltado para um mercado consumidor da América do Norte, especialmente os Estados Unidos — observou o secretário de Polícia Civil do Rio, Marcus Amim.

Ex-prefeito saiu de casa de madrugada

Ao todo, 113 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, nos estados do Amazonas, Minas Gerais, Pará e Rio, em operação da Polícia Civil do Rio, com apoio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), do Amazonas. A investigação, que durou seis meses, contou ainda com a participação da Subsecretaria de Inteligência e do Comitê Integrado de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), do governo federal, para chegar à chamada “contramão” da rota: se, fisicamente, ela saía do Norte do país em direção ao Sudeste, seus lucros voltavam por meio do sistema financeiro legal, através de laranjas.

Instalado no Fallet-Fogueteiro e com mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas, o amazonense Cleiton Souza da Silva era um dos alvos da polícia nesta terça-feira, mas não foi encontrado. Segundo a investigação, era ele o operador financeiro do esquema do Comando Vermelho.

Já em Anamã (AM) está um braço político do grupo, cidade em que seu ex-prefeito, Raimundo Pinheiro da Silva, o Chicó, é também sócio de um frigorífico de pescados congelados, usado para lavar dinheiro, repassado para a fronteira. Sem mandado de prisão contra ele, Raimundo — que já foi cassado por abuso de poder econômico, conforme ressaltado secretário de Polícia Civil — deixou sua casa por volta das 3h da madrugada, rumo ao Distrito Federal. Marcus Amim reconheceu que o ex-prefeito pode ter recebido “informação privilegiada” e levado consigo “algumas evidências”. Na sua casa, foram apreendidos cerca de R$ 10 mil em espécie.

A investigação identificou transferências de Cleiton para o frigorífico, no valor de R$ 230 mil, e para a pessoa física de Raimundo, no valor de R$ 20 mil.

— A importância de se quebrar um esquema financeiro desses é que não é do dia para a noite que se consegue 40 laranjas para receber dinheiro em espécie na conta; mandar para outras 20 pessoas de confiança; que mandam para outras 10 pessoas de confiança. Então, o dinheiro é enviado para o operador, Cleiton, que confia num político local que detém negócios de distribuição de pescados — detalhou o delegado Gustavo Ribeiro, afirmando que a estrutura do frigorífico também pode ter sido usada para “distribuir a droga e dissimular o dinheiro".

Disque-drogas em áreas nobres

Entre os alvos dos mandados na cidade do Rio, além das comunidades do entorno das comunidades do Fallet e Fogueteiro, também constavam endereços em áreas nobres da cidade, como bairros da Zona Sul — Catete, Ipanema e Copacabana — e da Zona Oeste, como Recreio e Barra da Tijuca, além do interior do estado, como em pousadas e outros imóveis de Búzios e Cabo Frio, na Região dos Lagos. Nestes locais, o funcionamento de serviços de “disque-drogas” e de distribuição chamaram a atenção dos investigadores, como pontuado pelo delegado Jefferson Ferreira, titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOD-LD).

— Um passo importante é vincular o tráfico romântico da Zona Sul ao tráfico manchado de sangue nas comunidades do Rio. O playboy que vende cocaína nas badaladas noitadas do Rio de Janeiro também tem responsabilidade no enfrentamento que existe nas comunidades do Rio — ressaltou Marcus Amim.

Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, foi preso no Morro dos Prazeres — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, foi preso no Morro dos Prazeres — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Ao todo, foram apreendidos cerca de R$ 500 mil em drogas, além da prisão de quatro pessoas, três em flagrante e uma por cumprimento de mandado em aberto. No Morro dos Prazeres, a polícia encontrou Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, que foi preso, mesmo após se esconder atrás de uma caixa d’água. Com escoriações, ele foi encaminhado pelos policiais à 21ª DP (Bonsucesso) e depois levado para a Cidade da Polícia, onde chegou por volta das 11h desta terça-feira.

Segundo a Polícia Civil, Cocão é um “dos maiores responsáveis” pelo roubo de veículos na sua área de atuação. Com os carros, que eram clonados e vendidos em seguida, o grupo criminoso obtinha recursos para a compra de drogas da Rota do Solimões.

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