Saúde
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Por Eduardo F. Filho — São Paulo

“Para todos os meninos e meninas que se parecem comigo, isso aqui é símbolo de esperança e possibilidade. É prova de que os sonhos sonham alto e se tornam realidade. E, senhoras, não deixem ninguém dizer que vocês já passaram do seu auge. Nunca desistam”. A frase foi dita por Michelle Yeoh, atriz de 60 anos, que venceu o Oscar de Melhor Atriz no último domingo, 12. É a primeira indicação da artista, a primeira estatueta e também a primeira vez que uma asiática ganha um dos principais prêmios da noite mais glamurosa do cinema mundial.

Contemporaneamente, do outro lado do mundo, no Brasil, uma estudante universitária do interior de São Paulo, de 45 anos, sofria preconceitos e deboches de garotas mais jovens que diziam que ela não poderia estar estudando na universidade, por ser mais velha. No vídeo que viralizou na internet e conta com mais de sete milhões de visualizações, as estudantes falam que ela deveria “se aposentar” e lançam um quiz dizendo: “como desmatricular uma colega de sala”. “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”, diz uma das garotas.

A aluna de 45 anos é Patrícia Linares, estudante do primeiro ano de biomedicina. Ela afirma que precisou adiar o sonho de se formar desde a adolescência por interrupções e problemas pessoais e que só agora ela conseguiu se matricular e realizar essa vontade. Linares, inclusive, viu a premiação do Oscar e disse que “se identificou” com a fala da atriz Yeoh.

Tanto a fala de Michelle quanto a história de Patrícia gerou comoção e indignação pelo etarismo contido nos assuntos. Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etarismo se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que essa idade é especial, potente e demonstra força na mulher, pois a maioria já tem experiência de vida, já trabalhou, muitas já tiveram filhos, e estão em busca de novos caminhos e horizontes.

— Essas mulheres tendem a florescer na maturidade. Elas desabrocham para finalmente terem a coragem de serem elas mesmas e isso é o mais fundamental. Mulheres acima de 40, 50 e 60 anos, para mais, trazem o que as faixas mais jovens o que elas sempre desejaram: a liberdade de ser o que quiserem ser. Estudo esse tema há mais de três décadas, e o que essas mulheres falam é que nunca foram tão livres, que este é o melhor momento da vida delas — afirma a antropóloga professora e autora Mirian Goldenberg.

A especialista, que acaba de lançar o livro “A Arte de Gozar: Amor, Sexo e Tesão na maturidade”, pela Editora Record, afirma que o que está acontecendo no Oscar, Grammy, em São Paulo e outros lugares do mundo é uma “revolução da maturidade”.

— Assim como vivemos uma revolução libertária da juventude em 60 e 70 com o corpo da Leila Diniz grávida de biquini na praia, hoje estamos vivendo a revolução da bela velhice. Pela primeira vez nós não estamos mais invisíveis e estamos mostrando para o mundo que é possível fazer uma maturidade com liberdade, felicidade e plenitude — diz.

A psicóloga membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), Cristiane Moreira, afirma que o Brasil lida com a desigualdade social e que não é difícil observar pessoas mais velhas frequentando universidades, principalmente as particulares.

— Essas garotas de classe média, por exemplo, acreditam que é natural e normal uma pessoa sair do Ensino Médio direto para a faculdade, mas não é. Há inúmeros percalços para isso não acontecer, como ter um poder financeiro viável para se sustentar por anos na instituição de ensino. Pessoas entram nas universidades com idades mais avançadas hoje porque estão em transição de carreira, ou porque priorizaram a criação da família antes e isso é cada vez mais normal de acontecer — afirma Moreira.

A psicóloga, que também é professora, afirma que em sua sala de aula há algumas alunas mais velhas e que a maioria está em sua segunda graduação, pois não gostaram da primeira escolha e resolveram traçar outro caminho de vida.

Goldenberg, que tem 66 anos, diz que se casou há oito e que está cada vez mais feliz na vida pessoal. Ela também faz uma pós-graduação e explica que não se sente “velha demais” para estudar. A antropóloga afirma ainda que passa pela discriminação etária com frequência.

No carnaval, por exemplo, enquanto assistia um bloquinho de rua, resolveu beijar o marido na boca. Um grupo de jovens que passava pelo local começaram a bater palmas e diziam: “a senhora está com a corda toda. Está melhor do que a gente”.

Exemplos como esse começam a se espalhar pelas redes sociais e fora dela também. A cantora Madonna foi uma das artistas a falar sobre etarismo de forma pública. Desde que completou 60 anos, hoje ela tem 64, a artista fala sobre o assunto. Em uma entrevista recente, ela destacou algumas das frases mais ouvidas por mulheres ao chegarem aos 50 anos ou mais: “ridícula”, “não sabe envelhecer”, “não aceita a idade” e “se veste como uma adolescente”.

Ela chegou a fazer uma postagem em suas redes sociais no mês passado para rebater internautas que afirmaram que ela estava com o rosto inchado e criticaram sua aparência no Grammy Awards, maior prêmio da música mundial.

— Mais uma vez, sou pega pela etarismo preconceito de idade e pela misoginia que permeia o mundo em que vivemos. Um mundo que se recusa a celebrar mulheres com mais de 45 anos e sente a necessidade de puni-las se elas continuam obstinadas, trabalhadoras e aventureiras — escreveu ela.

Morte simbólica

A atriz brasileira Letícia Spiller, que está prestes a completar 50 anos, também fez um vídeo essa semana em suas redes sociais falando sobre o assunto.

— ‘Você não acha que ela está velha demais para isso?’; ‘Ela tá ótima para idade dela’; ‘Você deve ter sido muito bonita’. Se você falou uma dessas frases ou ouviu por aí, está na hora de parar. E está na hora de refletir sobre o que é etarismo — afirmou a atriz que completou — Por muitos anos, nós mulheres, nos sentíamos no fim da carreira chegando aos 40 anos. O mercado muitas vezes é cruel.

A antropóloga Goldenberg afirma que essas frases ditando maneiras de como a mulher deve se vestir, comportar, fazer coisas, em idades avançadas é como uma “morte simbólica” e que, a cada vez mais, tem deprimido e isolado pessoas mais velhas.

— Quando envelhecemos, parece que perdemos tudo. Não somos mais escutados, não há mais respeito. Parece que deixamos de existir. É como se tivéssemos morrido. E, se parar para pensar que viveremos em média 90 anos, são mais 50 anos vivendo como se fossemos descartáveis. Chegou a hora de acabar com a ‘velhofobia’ e transformar isso dentro de nós mesmas, dentro de nossas casas, família, trabalho, em todos os lugares — diz.

Recomeçar a vida

Especialistas afirmam que a tríade da mudança para as mulheres é ter coragem acima de tudo para recomeçar a vida. Depois, força para lutar pela liberdade de ser quem quiser e fazer o que quiser nos mínimos detalhes e por último, buscar um propósito de vida por meio de projetos que motivam o seu caminhar. Outra dica que eles sugerem é não dar voz e razão aos comentários negativos que vão surgir durante o caminho.

Exemplos de recomeço de vida é o que não falta. Dentro e fora da televisão. Em uma publicação no Instagram sobre o Oscar, por exemplo, dezenas de mulheres comentam que decidiram começar um novo negócio ou estudo acima dos 40 anos.

Ícone da televisão brasileira e inspiração para milhões de donas de casas e cozinheiras, a apresentadora Ana Maria Braga começou a ser reconhecida no Brasil inteiro quando passou a comandar o programa "Note e Anote", na TV Record, em 1992, quando tinha 43 anos.

Outra senhora que acompanhava Ana Maria em seu programa culinário na parte da tarde era Palmira Nery da Silva Onofre, que veio a ser conhecida nacionalmente como Palmirinha, quando ganhou seu primeiro programa próprio na TV Cultura, em 1999, quando já tinha 68 anos.

Vencedora de um Oscar, um Emmy Award, dois Tony Awards e um Grammy, a atriz Viola Davis entrou para o seleto grupo que alcançou todos os principais prêmios da indústria do entretenimento, porém, aos 57 anos, ela começou a ganhar notoriedade aos 43 com o filme “Dúvida”, em 2008, onde ela apareceu em apenas uma única cena, mas a mesma foi aclamara pela crítica por sua atuação que lhe rendeu indicações ao Oscar e Globo de Ouro como Melhor Atriz coadjuvante. Mas foi apenas em 2017, aos 52 anos, que o Oscar finalmente veio por sua atuação no filme "Um Limite Entre Nós".

A atriz Claudia Raia também sofreu preconceitos ao revelar que estava grávida aos 56 anos. Internautas começaram a criar teorias sobre como uma “mulher com mais de 50 anos” poderia educar um bebê.

No mundo da moda há a estilista Vera Wang. A americana foi patinadora de gelo, jornalista e editora da revista "Vogue" antes de se tornar uma das maiores estilistas do mundo. E isso só aconteceu quando ela já tinha 40 anos.

— A mulher precisa ter persistência para quebrar padrões. Não existe um padrão ou norma que dita que aos 20 você precisa disso e aos 40 daquilo. Elas podem ter o que quiserem com a idade que elas querem — afirma Moreira.

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