Um dos maiores tenistas de todos os tempos, Roger Federer poderia, se quisesse, ainda disputar torneios de tênis. O suíço sabe, no entanto, que seu apogeu ficou no passado. Apesar de sua invejável forma física se comparada a seres humanos comuns, ele não tem mais condições de enfrentar a nova geração de Carlos Alcaraz e Jannik Sinner em Wimbledon e no US Open. Perderia não apenas deles, mas talvez sequer conseguisse vencer na primeira rodada. Não fazia mais sentido seguir se sacrificando na carreira. Mais importante, o ex-número 1 do mundo entendeu a importância do legado para os filhos e para futuras gerações. Organizou um torneio e se retirou ao lado dos maiores adversários, como Rafael Nadal e Novak Djokovic.
- Sob pressão para desistir de reeleição: Biden tenta usar reunião da Otan para rebater críticas e mostrar força
- Vídeo: Gravação mostra âncora que entrevistou Biden dizendo que democrata não pode servir por mais 4 anos
Essa decisão ficou clara em discurso na graduação da Universidade Dartmouth que viralizou nas redes sociais. Federer explica aos estudantes a transição para uma nova era depois de encerrar uma etapa na vida, que pode ser uma carreira no tênis ou a graduação universitária. “Deixar um mundo familiar para trás e descobrir outros é incrivelmente excitante”, disse. O tenista também fala da importância da derrota.
Joe Biden, presidente dos EUA, talvez seja o político mais experiente da História dos EUA. Ficou 36 anos no Senado, 8 anos na vice-presidência e é o presidente. Mas, assim como Federer no tênis, chegou a hora de pensar no legado. De abrir passagem para uma nova geração.
Caso siga como candidato, Biden muito possivelmente será derrotado por Donald Trump. Um criminoso condenado e com uma postura antidemocrática, o republicano está à frente nas pesquisas nacionais e em todos os estados-pêndulo, como são conhecidos aqueles sem predomínio democrata ou republicano. Alguns podem dizer que seria insatisfação com o governo de Biden. Esse argumento, porém, não se sustenta. Candidatos democratas ao Senado e a governos nesses mesmos estados estão bem à frente dos rivais republicanos. O problema claramente está relacionado a questionamentos sobre a capacidade física e cognitiva do atual ocupante da Casa Branca para seguir na Presidência por mais quatro anos.
Um dos maiores arrecadadores de doações para os democratas, o ator George Clooney escreveu um artigo no New York Times pedindo a Biden que repense sua candidatura. Afirmou que o presidente não é o mesmo de 2010, quando era vice de Barack Obama, e tampouco o de 2020, quando venceu a eleição. “Ele é o mesmo homem que todos nós vimos no debate”, disse a estrela de Hollywood. Até mesmo Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Deputados e da geração de Biden, indicou que a desistência seria a melhor saída.
- Cotada para substituir Biden: Kamala Harris enfrenta dilema entre mostrar lealdade ao presidente e se preparar para a disputa
Há hoje duas alternativas para Biden. A primeira seria desistir, cumprir seu mandato e ter a chance de passar o bastão para um outro democrata ou, quem sabe, para a primeira presidente mulher da História dos EUA. Caso prossiga, no entanto, é quase certo que será humilhado e verá Trump de volta à Casa Branca. Sua permanência, como escreveu Adam Grant, da Universidade da Pensilvânia, equivale à Blockbuster insistir no aluguel de DVDs ou à Kodak seguir investindo em máquinas com filmes em vez de dar uma guinada em direção às câmeras digitais. Com o agravante de que falamos do cargo mais poderoso da Terra.
Além de não estar claro se Biden terá a capacidade cognitiva até 2028, muito provavelmente Trump voltaria ao poder ameaçando a democracia americana. O presidente precisa urgentemente desistir da candidatura e ceder o lugar à vice Kamala Harris ou abrir espaço para uma convenção aberta em Chicago em agosto.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY