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Por e , Em The New York Times

Dos cerca de 20 milhões de livros guardados nas bibliotecas da Universidade de Harvard, um exerce há muito tempo um fascínio sombrio. Não pelo seu conteúdo, mas pelo material com o qual foi encadernado: pele humana.

Durante anos, o volume foi exibido, usado para divulgação da biblioteca e, em algumas ocasiões, como uma espécie de trote para novos funcionários. Em 2014, a universidade atraiu cobertura humorística em todo o mundo ao anunciar o uso de uma nova tecnologia para confirmar que a encadernação havia sido feita com pele humana. Mas, nesta quarta-feira, após anos de críticas e debates, a universidade decidiu remover a encadernação e explorar opções para “uma disposição final respeitosa dos restos mortais”.

“Após estudo cuidadoso, com envolvimento e consideração das partes interessadas, a Biblioteca de Harvard e o Comitê do Museu de Harvard concluíram que os restos mortais usados na encadernação do livro não se encaixam na coleção da Biblioteca de Harvard, devido à natureza eticamente complexa das origens do livro e sua história subsequente”, disse a universidade em um comunicado.

Harvard admite admite que o tratamento dado ao livro — uma cópia “O Destino das Almas”, de Arsène Houssaye — não cumpria com os “padrões éticos” exigidos e, em algumas ocasiões, teve "tom sensacionalista, mórbido e de humor” inapropriado na divulgação. A biblioteca pediu desculpas, dizendo que “objetificou e comprometeu ainda mais a dignidade do ser humano cujos restos mortais foram usados na encadernação”.

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O anúncio ocorreu mais de três anos depois de a universidade ter anunciado um amplo levantamento dos restos mortais humanos em suas coleções. A inciativa faz parte do reconhecimento do papel da escravatura e do colonialismo na criação de universidades e museus. Numa declaração, o presidente de Harvard na época, Lawrence S. Bacow, pediu desculpas pelo papel da universidade em práticas que “colocavam o empreendimento acadêmico acima do respeito pelos mortos e da decência humana”.

Um relatório divulgado em 2022 identificou mais de 20 mil restos mortais humanos nas coleções de Harvard, desde esqueletos completos até mechas de cabelo, fragmentos de ossos e dentes. Eles incluíam os restos mortais de cerca de 6.500 nativos americanos, cujo manejo é regido pela Lei de Proteção e Repatriação de Túmulos de Nativos Americanos de 1990, bem como 19 de pessoas de ascendência africana que podem ter sido escravizadas.

A pesquisa também destacou itens cujas origens estão fora do contexto do colonialismo e da escravidão, incluindo antigas urnas funerárias que podem conter cinzas ou fragmentos de ossos, amostras dentárias do início do século XX e, na Biblioteca Houghton, o livro de Houssaye.

O livro chegou a Harvard em 1934, através do diplomata norte-americano John B. Stetson. Ele havia sido encadernado por seu primeiro dono, o Dr. Ludovic Bouland, um médico francês que inseriu uma nota manuscrita alegando que “um livro sobre a alma humana merecia ter uma cobertura humana”. Um memorando de Stetson, segundo Houghton, dizia que Bouland havia tirado a pele de uma mulher desconhecida que morreu em um hospital psiquiátrico francês.

A decisão de Harvard vem após uma campanha liderada por Paul Needham, um estudioso dos primeiros livros modernos. Ele formou um “grupo de afinidade” em maio passado que pedia a reemoção da encadernação e que os restos mortais da mulher fossem devidamente enterrados na França. O tema foi retomado na semana passada, quando o grupo divulgou uma carta aberta dirigida ao presidente interino de Harvard, Alan M. Garber, que também foi publicada como anúncio no The Harvard Crimson.

A carta, assinada por Needham e dois outros líderes do grupo, dizia que a biblioteca tinha um histórico de lidar com o livro “de forma brutal, como um item de exibição sensacionalista”. Citou em particular uma post de 2014, já removido, sobre os testes científicos, que chamava a pesquisa de “boas notícias para os fãs da bibliopegia antropodérmica, tanto para os bibliomaníacos quanto para os canibais”.

Tratar o livro como item de exposição “me parece violar todos os conceitos concebíveis de respeito aos seres humanos”, disse Needham em entrevista após o anúncio. Optar por determinar uma disposição respeitosa para ele, acrescentou, foi a “decisão certa”.

Em uma lista de perguntas frequentes divulgada com o anúncio da universidade, Tom Hyry, diretor da Houghton, e Anne-Marie Eze, bibliotecária associada, disseram que a biblioteca impôs restrições ao acesso pela primeira vez em 2015 e instituiu uma moratória total sobre qualquer nova pesquisa em fevereiro de 2023. Agora, com a remoção da encadernação, o próprio texto estará totalmente disponível para visualização, tanto na biblioteca quanto online.

Hyry e Eze acreditam que o processo de pesquisa da encadernação e de tomada de decisão sobre sua disposição final deve levar “meses, ou talvez mais”.

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