Veja quanto custa ser vizinho de Bezos, David Guetta e Ivanka Trump em Island Creek, o bunker dos ultrarricos

Ivanka Trump passeia pelo exuberante campo de golfe verde, com o rabo de cavalo loiro espetado em um boné branco, de costas para a casa que comprou por US$ 24 milhões (mais de R$ 115 milhões) e reformou. Ao lado fica a mansão do superstar DJ David Guetta, na mesma rua das casas de Tom Brady, o investidor bilionário Carl Icahn e do empresário Eddie Lampert.

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Faz 22 graus e está ensolarado em Indian Creek Village, uma cidade para os ultrarricos em uma ilha na costa de Miami, uma perfeita manhã de inverno no Bunker dos bilionários da Flórida.

Fora de vista naquele dia estava Jeff Bezos, a segunda pessoa mais rica do mundo e a mais nova adição ao enclave isolado. Suas compras significam que os cinco proprietários mais ricos da ilha controlam, sozinhos, fortunas que totalizam cerca de US$ 191 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

O paraíso exclusivo - acessível para aqueles com convites por meio de uma única ponte fortemente protegida - é o marco zero da migração sem precedentes de riqueza para o sul da Flórida nos últimos cinco anos.

Também é uma vitrine para os problemas que estão surgindo em toda a região em decorrência disso - aumento dos preços das casas, uma das taxas de inflação mais rápidas do país e uma divisão crescente que separa a elite dos plebeus, que cada vez mais lutam para ter condições de viver lá.

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A própria ilha tem sua própria versão de gentrificação - os meramente abastados estão sendo deslocados pelos fabulosamente ricos, capazes de gastar US$ 100 milhões por uma mansão em Indian Creek, que foi construída há quase 100 anos para os ricos daquela geração.

"A Flórida sempre foi famosa pelos condomínios fechados", disse Richard Florida, professor da Escola de Cidades da Universidade de Toronto e colaborador ocasional da Bloomberg Opinion. "O que é novo é a infusão maciça dos 0,0001% mais ricos em Miami e arredores."

Bezos, o fundador da Amazon.com, de 59 anos, anunciou que estava se mudando para Miami em novembro. Ele já desembolsou US$ 147 milhões (R$ 716 milhões) por duas mansões em Indian Creek, que ele deverá demolir e substituir por construções personalizadas.

Uma das casas estava na mesma família desde 1982, uma rica dinastia venezuelana que a comprou por US$ 1,4 milhão (R$ 6,8 milhões). A outra foi comprada de um executivo brasileiro cuja empresa de eletrônicos prosperou no início da década de 1990.

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Os preços das casas reformadas de acordo com os padrões dos bilionários em Indian Creek logo começarão a custar nove dígitos, de acordo com Dina Goldentayer, corretora de imóveis que esteve envolvida em três das cinco vendas mais recentes da ilha.

"Tudo isso é pós-Covid, e na verdade era bem diferente antes", disse Goldentayer. Há cerca de sete anos, "havia cinco ou seis anúncios ao mesmo tempo e US$ 20 milhões era uma grande venda".

Os emissários de Bezos entraram em contato com pelo menos três outros proprietários de imóveis na ilha para comprar suas propriedades, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram para não serem identificadas. As conversas estão em andamento.

Um porta-voz de Bezos não quis comentar.

É claro que o sul da Flórida não é o único lugar que está passando por uma explosão de riqueza em meio a um realinhamento que ganhou velocidade durante a pandemia. O Upper East Side de Nova York e o Nob Hill de São Francisco perderam residentes ricos para climas mais quentes, incluindo Dallas, Austin, Charlotte, Carolina do Norte e até mesmo Nashville, à medida que os fundos de hedge e outros gestores mudam suas sedes.

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Mas, embora Miami seja há muito tempo um ímã para os ricos, em especial para aqueles com vínculos com a América Latina, a escala dessas fortunas mudou. Nos últimos anos, o bilionário de fundos de hedge Ken Griffin embarcou em uma série de compras de imóveis na área. Outros compradores incluem o bilionário Eric Schimidt, ex-presidente da Alphabet, e o financista Josh Harris.

No entanto, talvez não exista um endereço mais exclusivo na região do que os 41 lotes da Indian Creek Island Road, que corre ao longo do perímetro da vila. No meio da ilha há um luxuoso campo de golfe e um clube de campo; suas cobiçadas associações são uma das poucas formas de acesso para pessoas de fora. Não há outras empresas.

A ilha é seu próprio município, com um prefeito eleito, função atualmente ocupada por Benny Klepach, fundador da varejista duty-free 3Sixty. A prefeitura e a delegacia de polícia ficam do outro lado da ponte que liga Indian Creek à comunidade de Surfside.

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O logotipo da cidade apresenta um desenho dos portões de ferro que impedem a entrada de pessoas de fora. As calçadas só foram adicionadas nos últimos anos e o esgoto ainda é coletado por meio de fossas sépticas, embora haja planos para mudar isso.

As autoridades municipais não responderam aos pedidos de comentários.

O arquiteto Kobi Karp, que trabalha em Miami "desde os tempos de Miami Vice e Scarface", disse que os clientes lhe dizem que a maior atração da ilha é a privacidade.

"Em outros bairros, eu posso entrar se quiser lhe entregar documentos, assediá-lo ou tirar fotos suas", disse Karp, que projetou várias residências em Indian Creek. "Algumas pessoas não gostam nem um pouco disso."

Embora Indian Creek tenha aproximadamente o mesmo tamanho de Bay Harbor Islands, outro enclave de riqueza à beira-mar na Flórida, o primeiro abriga apenas 84 pessoas, enquanto o segundo tem uma população de quase 6.000, de acordo com o censo de 2020.

Além de Trump e seu marido Jared Kushner, os proprietários de Indian Creek Village incluem o investidor Carl Icahn, que comprou sua mansão em 1997 por US$ 7,5 milhões (R$ 36 milhões). O banqueiro bilionário colombiano Jaime Gilinski reuniu cinco propriedades na ilha que ele usou para criar um complexo para sua família.

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A onda de compras de Gilinski, que já dura décadas, é emblemática das mudanças ocorridas na ilha. Ele fez sua primeira compra há quase 30 anos, desembolsando US$ 6 milhões. Sua última foi em 2021, por US$ 40 milhões.

No total, Gilinski gastou cerca de US$ 80 milhões (R$ 390 milhões) em suas propriedades em Indian Creek - quase o mesmo que os US$ 79 milhões que Bezos gastou em uma única mansão de sete quartos em outubro.

"Somente os muito ricos, os bilionários, podem se dar ao luxo de morar em Indian Creek agora", disse Paul George, historiador residente do HistoryMiami Museum. "Centenas de milhões não serão mais suficientes."