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A nova busca do Google, feita com inteligência artificial (IA) generativa, pode abrir caminho para aumento da desinformação, violações de direitos autorais, queda na audiência dos produtores de conteúdo e redução na diversificação do ambiente online. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO a respeito do sistema que será incorporado ao buscador mais popular do planeta.

Na terça-feira, o Google anunciou o lançamento do AI Overviews (ou resumos gerados por IA, em português), que passam a aparecer no topo do site após determinadas pesquisas. A nova funcionalidade levará a bilhões de usuários respostas formuladas por essa tecnologia, marginalizando o conteúdo produzido por veículos de informação, blogueiros, jornalistas e empresas diversas.

O resultado pode ser uma uma "monocultura" da internet, alerta Ronaldo Lemos, presidente da comissão de tecnologia da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo.

— A nova busca vai reduzir a necessidade de os usuários clicarem em links e visitarem páginas da internet. O conteúdo original deixaria de ser acessado, afetando as pessoas ou empresas que o produziram. Isso pode implicar em um empobrecimento radical da diversidade da rede — ele diz.

Como o Google domina 90% do mercado de buscas online, o temor é que o tráfego virtual seja capturado quase totalmente pela própria empresa. Lemos diz que isso contribuiria para “matar a diversidade da internet”, que depende de inúmeros criadores descentralizados.

— A inteligência artificial lê o conteúdo produzido, mas não direciona o tráfego nem os cliques a eles — explica o especialista.

Tombo em tráfego

Uma análise feita pela Gartner, empresa especializada em tecnologias, prevê que o volume de tráfego vindo dos mecanismos de busca vai cair 25% até 2026 com a proliferação dos sistemas de IA generativa. Em entrevista ao jornal The Washington Post, Ross Hudgens, CEO da Siege Media, uma consultoria especializada em SEO (ou otimização dos mecanismos de busca), estimou um impacto de 10% a 20%, podendo ser ainda maior a depender do veículo.

Em declaração ao jornal americano, a empresa Raptive, que oferece serviços de audiência e publicidade para mais de 5 mil sites, prevê que as alterações nos mecanismos de busca podem resultar em perdas de cerca de US$ 2 bilhões para os criadores de conteúdo, com alguns sites podendo perder até dois terços de seu tráfego.

Para Michael Sanchez, CEO da Raptive, as mudanças no Google têm o potencial de causar danos relevantes à internet como se conhece hoje, ameaçando inclusive a sua sobrevivência no longo prazo.

O jornal trouxe o relato de Jake Boly, um treinador fitness que dedicou três anos à construção de um site de avaliações de calçados esportivos. No ano passado, o seu tráfego vindo Google sofreu uma queda significativa, de 96%, ao passo que sua página era citada em respostas de IA sobre sapatos.

— Meu conteúdo é bom o suficiente para ser usado e resumido no Google. Mas não é bom o suficiente para ser exibido nos resultados de busca normais, que é como eu ganho dinheiro e me mantenho — disse Boly ao The Washington Post.

Para Eugênio Bucci, professor titular na Escola de Comunicações e Artes da USP, “qualquer incremento de inovação” do Google é potencialmente danosa à imprensa.

— A lógica do negócio desses conglomerados de tecnologia é predatória das relações da cidadania, da cultura e do conhecimento. Qualquer incremento de inovação dentro dessa lógica vai produzir mais danos para essas relações — declara Bucci, sem citar particularmente o AI Overviews.

Direitos autorais e desinformação

Alessandra Maia, professora e coordenadora do Laboratório Cubo de Inovação da FGV Comunicação Rio, pondera que existe a possibilidade de o Google acabar fomentando um cenário de desinformação com a nova ferramenta.

Aspectos como a origem dos dados e textos utilizados nos resumos, os critérios de seleção dessas fontes e a capacidade do Google de contornar paywalls de jornais (a proteção a conteúdos pagos) precisam ser esclarecidos, segundo a especialista.

— Há uma grande chance de as pessoas acabarem apenas lendo o resumo e não aprofundarem a busca. Também há dúvidas sobre a qualidade da informação que será entregue no resumo. Ela virá de uma fonte confiável? Pesquisas apontam que, em todas as inteligências artificiais, há momentos de 'alucinação', nos quais elas fabricam informações. E se as pessoas não checarem essas informações incorretas e acabarem propagandeando elas? — diz Alessandra Maia.

Os exemplos de 'alucinação' — forma como se convencionou chamar os erros das IAs generativas — a que se refere a especialista foram amplamente divulgados desde que esse tipo de tecnologia foi lançada, no final de 2022.

IAs como o ChatGPT ou o Gemini, do Google, podem fornecer respostas erradas mesmo para questões simples, como "quais os vencedores de prêmio Nobel do Brasil" (não há nenhum), o que pode ser um problema quando a tecnologia passa a guiar um buscador usado por bilhões de pessoas diariamente.

Outra preocupação diz respeito à violação de direitos autorais. Em dezembro, a questão motivou a abertura de um processo judicial do The New York Times contra a OpenAI (criadora do ChatGPT) e a Microsoft, uma vez que a tecnologia usava trechos de reportagens de acesso pago para formular as respostas — às vezes apenas sutilmente reescritos.

Testes feitos pelo GLOBO com a nova busca do Google nos Estados Unidos, onde a tecnologia foi liberada na terça-feira, mostram um exemplo dessa questão. Questionado sobre "como identificar se uma pessoa mente", o AI Overviews começa o texto com a resposta de um profissional de saúde cuja entrevista foi feita originalmente por um portal jornalístico — a empresa que, de fato, fez o investimento para criar aquele conteúdo. A ferramenta não dava o crédito ao portal.

Há buscas sem links na primeira tela de resultado, como em um resumo sobre “como fazer um abacate durar mais”. Em outra, sobre “por que Trump está sendo julgado”, a tela inicial traz links para o YouTube, que pertence ao Google. Ao restringir a pesquisa a “Notícias”, a busca sai da nova ferramenta, sendo exibida como antes.

Luciana Moherdaui, pesquisadora da Cátedra Oscar Sala, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e que acompanha a repercussão das novas tecnologias sobre o jornalismo mundo afora, diz que a grande preocupação da imprensa internacional, após o anúncio do Google, é com a violação de direitos autorais e a queda no tráfego dos veículos jornalísticos.

Para ela, a nova ferramenta pode afetar a própria qualidade do que é oferecido na busca do Google, pois prejudica os produtores do conteúdo usado como subsídio para os resultados da IA generativa.

— As pessoas estão pensando muito no resultado final (da busca), no output, e não no input de dados. De onde esses dados vêm? É um uso indevido de material jornalístico sem remuneração — afirma ela.

Moherdaui defende que as plataformas remunerem empresas de jornalismo pelo dano potencialmente causado a seus negócios. A proposta constava na versão do projeto de lei das Redes Sociais enviado ao Congresso, tirado da pauta no ano passado diante de uma derrota em plenário.

Questionado sobre esses temas, o Google compartilhou um texto em seu blog segundo o qual, "com os Resumos gerados com IA, as pessoas podem visitar uma maior diversidade de sites para obter ajuda com perguntas mais complexas. E observamos que os links incluídos nos Resumos gerados com IA recebem mais cliques do que se a página fosse exibida como um resultado de busca tradicional para a mesma consulta. Ao passo que expandimos essa experiência, continuaremos a nos concentrar a enviar tráfego valioso para sites e criadores de conteúdo".

O Google diz que o novo recurso permite mostrar mais links para uma gama mais ampla de fontes na página de resultados e que notou um aumento no uso da busca com essa tecnologia. Segundo a empresa, a experiência foi projetada para destacar com clareza os links para fontes que corroboram com as informações apresentadas. Isso permitiria que os usuários se aprofundem e verifiquem as informações por conta própria.

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