Taís Araujo fala de beleza, preconceito e de rejeição na adolescência: 'Ninguém queria me beijar'

Viola, Taís e outras artistas e influenciadoras participarão do Le Défilé – Walk Your Worth, da L'Oréal Paris, às 21h, no horário local, 16h no Brasil. A estrela de Hollywood esteve no Brasil no ano passado e participou de um jantar na casa de Taís e Lázaro Ramos. "Quando a encontro, é sempre amistoso. Tenho uma admiração e respeito grandes por ela", falou Taís.

Mãe de João Vicente, de 12 anos, e Maria Antonia, de 8 anos, a atriz também explicou como a filha está crescendo com novos conceitos de beleza. "Ela adora a (cantora) Iza, tem o cabelo como o dela".

Leia, a seguir, os melhores trechos:

O que mudou, para você, em termos de imagem de beleza nos últimos anos?
Tudo. Anos atrás, ter uma pessoa como eu era a exceção da exceção. Hoje em dia você liga a TV e é incapaz ver uma campanha, do que for, sobretudo de beleza, sem uma mulher negra de vários tons. Parei de fazer relaxamento no cabelo em (na novela) "Da cor do pecado", isso tem 20 anos. Coloquei um aplique para a personagem e quando foram passar o produto no meu cabelo, ele caiu. Então decidi parar.

Lembra de quando se sentiu bonita pela primeira vez? Como foi?
O que me ajudou muito, numa fase crucial, que é a adolescência, foi ter me tornado modelo. Mesmo que as pessoas me chassem esquisita, por puro preconceito, eu tinha uma chancela, tive essa sorte, e tudo foi mais fácil. Eu era a única adolescente negra nos espaços que frequentava. Uma amiga minha ouvia os meninos falando: 'A Taís é maneira, mas não dá pra beijar, né?'. Escutar esse tipo de comentário, saber que isso existia e comprovadamente não beijar ninguém, porque ninguém queria. Meu primeiro beijo foi na Bahia, em Porto Seguro, com um baiano, aos 14 anos. Tive que ir à Bahia beijar na boca.

Com a Maria, sua filha, já foi diferente...
A Maria, desde cedo, teve a chance de ter muitas referências de mulheres o tempo inteiro, na literatura infantil, com as cantoras, é outra coisa. Ela ama a Iza, tem o cabelo igual ao dela. Maria sabe que é bonita e cheia de possibilidades.

A Raissa Santana (Miss Brasil 2016) disse que você é uma referência para ela.
Escuto isso muito, de muitas mulheres da minha idade. Sempre fico emocionada, é realmente um caminho de mão dupla. Cada vez que alguém fala isso pra mim, fortalece meu caminho, minhas escolhas, me dá sossego no coração em falar que fiz coisas úteis pra gente, enquanto sociedade.

Quem são suas referências?
São muitas, de idades e momentos diferentes, porque quando eu comecei a trabalhar tinha a Zezé Motta, a Ruth Garcia, a Léa Garcia, mas elas são bem mais velhas. E tem uma galera que veio depois e eu era mais próxima, como a Isabel Fillardis. Quando comecei a trabalhar como modelo, Isabel já era top model, ela fez (a novela) Renascer, bombou. Então acho que, pela proximidade, e sem muita distância de idade, é a Isabel. Mas existe uma geração, que é a da Maria Ceiça, da Elisa Lucinda, da Iléa Ferraz, de 60 anos, e jogam pouca luz sobre elas. Cadê essas mulheres?