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Por AFP — Santa Cruz, Bolívia

Após quase uma semana de uma greve convocada pela oposição, o governo boliviano suspendeu as exportações de seis alimentos a partir desta quinta-feira para evitar um possível desabastecimento. O próspero departamento (estado) de Santa Cruz, motor econômico do país e bastião opositor, mantém desde sábado uma greve por tempo indeterminado contra o governo de Luis Arce, com bloqueios nas ruas, para exigir a realização de um censo populacional até 2023.

As autoridades decidiram na noite de quarta-feira "suspender temporariamente a exportação de soja, torta de soja, farinha de soja integral, açúcar, óleo e carne bovina" porque "existe o risco de desabastecimento e aumento dos preços da cesta familiar", explicou em uma entrevista coletiva o ministro do Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural, Néstor Huanca.

Ele culpou o governador de Santa Cruz, o direitista Luis Fernando Camacho, e os líderes sociais e empresariais que lideram os protestos pelas “consequências da paralisação do setor produtivo e da ameaça à segurança alimentar”.

Camacho teve papel fundamental na renúncia de Evo Morales à Presidência, em 2019. À época, ele também liderou bloqueios no departamento, pedindo a saída de Morales. Além dele, o poderoso Comitê Cívico de Santa Cruz, formado por empresários, e a Universidade Gabriel René Moreno promovem a greve. Já Jhonny Fernández, prefeito da cidade de Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento, não apoia o movimento.

Os principais compradores de derivados de soja bolivianos são Colômbia, Peru, Equador e Chile, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). No caso da carne bovina, são China, Peru e Equador. No entanto, a lei boliviana só permite a exportação de excedentes da produção de alimentos necessária para abastecer o mercado local.

O líder da bancada da oposição no Congresso, Carlos Alarcón, disse no Twitter que a suspensão das exportações é "um ato ardiloso de retaliação e intimidação disfarçado de aparente segurança alimentar".

Este é o primeiro grande conflito social enfrentado pelo presidente Arce, ex-ministro da Economia e aliado de Evo Morales, desde que assumiu o cargo, há dois anos. No início da greve, no sábado, confrontos entre críticos e simpatizantes do seu governo deixaram um morto e foram condenados pelas Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE).

Os setores que defendem os bloqueios rejeitam a decisão do presidente, de esquerda, de adiar até 2024 um censo populacional, inicialmente previsto para novembro deste ano. Eles argumentam que as regiões são prejudicadas na distribuição de recursos públicos, uma vez que os dados utilizados são de um levantamento de 2012. Segundo a Constituição, o censo deve ser realizado a cada 10 anos.

O Poder Executivo, por sua vez, sustenta que não existem condições técnicas para um recenseamento este ano, devido à pandemia da Covid-19. Após uma negociação inicial sem sucesso, Arce convocou uma reunião para esta sexta-feira com líderes de todos os departamentos do país na cidade central de Cochabamba para encontrar "uma solução definitiva" para o conflito. Mas Camacho, que aceitou o convite, recuou e anunciou que não irá comparecer.

— Estamos abertos ao diálogo, mas não vamos endossar uma reunião de "masistas" — disse o direitista em um comício na noite de quarta-feira, referindo-se ao Movimento ao Socialismo (MAS), o partido governista. — Aqui está o conflito. Eles não nos querem, não nos consideram bolivianos.

Os manifestantes que lideram a greve por tempo indeterminado continuaram nesta quinta-feira a bloquear com pneus, galhos e bandeiras nacionais e regionais as ruas e estradas de Santa Cruz. Além disso, muitas empresas mantiveram suas portas fechadas.

— Estamos aqui para pedir a realização do censo, que é algo de que todos precisamos — disse à AFP na quarta-feira Carolina Pérez, engenheira comercial de 32 anos, ao lado de uma montanha de areia que bloqueava o tráfego de veículos.

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