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Por O Globo

Quando, em novembro de 2019, deu um ultimato ao então presidente da Bolívia, Evo Morales, estabelecendo o prazo de 48 horas para que renunciasse, Luis Fernando Camacho nem sequer integrava um partido político. Conservador e católico fervoroso, Camacho presidia o Comitê Cívico do departamento (estado) de Santa Cruz, entidade que nas regiões bolivianas costuma reunir a elite econômica local.

O episódio alavancou a sua imagem ao ponto de, em 2021, ser eleito governador de Santa Cruz. Mas a popularidade no departamento mais rico da Bolívia não foi suficiente para impedir a sua prisão, na última quarta-feira, no âmbito do processo conhecido como Golpe de Estado I. O processo investiga o movimento que articulou a queda de Morales, menos de um mês depois de eleições em que o dirigente do Movimento ao Socialismo (MAS), que estava na Presidência desde 2006, conquistou um controvertido quarto mandato consecutivo.

Advogado, ex-professor universitário, empresário e um dos sócios do Grupo de Inversiones Nacional Vida, uma corporação de seguros privados, "Macho Camacho" — como também é conhecido — faz parte da elite social e política de Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento que governa.

Depois de ganhar notoriedade ao se ajoelhar para depositar uma Bíblia sobre a bandeira da Bolívia no palácio presidencial de Quemado, logo depois da queda de Morales, seu ingresso na política foi selado. Hoje líder do partido de extrema direita Acreditamos, que tem a terceira maior bancada na Assembleia Legislativa Plurinacional (o Congresso da Bolívia), o governador é um dos principais opositores do presidente Luis Arce, ex-ministro da Economia de Morales eleito em 2020.

O discurso de Camacho é marcado por duras críticas ao "socialismo" e pela exaltação do regionalismo em contraposição ao "centralismo" de La Paz — assim como a Bíblia sobre a bandeira, é uma retórica que investe na tradicional oposição entre as elites brancas e a maioria de origem indígena da Bolívia, que é dominante na terras altas e chegou ao comando do país com o MAS de Morales.

Apesar de ter apoiado a ascensão da então senadora Jeanine Añez ao poder horas depois da renúncia de Morales, Camacho se distanciou dela para seguir trajetória própria na política. Em 2020, concorreu à Presidência, mas ficou em terceiro lugar com 14% dos votos, atrás de Arce, com 55%, e do também opositor, mais moderado, Carlos Mesa, com 28,8%. A votação mostrou que sua popularidade fora dos redutos da oposição mais radical ao MAS é baixa.

Em entrevista ao GLOBO neste ano, o governador disse que os casos de corrupção envolvendo o governo interino "mancharam toda a oposição boliviana" e ajudaram a eleger Arce. No entanto, também fez críticas à detenção de Añez — sentenciada a 10 anos de prisão neste ano sob a acusação de golpe — que classificou como "revanchismo", e reafirmou a posição que tomou no passado:

— Para defender a democracia da Bolívia, é preciso ser mesmo radical — disse.

Além dos processos em que é investigado por participação nos eventos de 2019, e o que levaram à prisão, Camacho também é alvo de uma investigação sobre os protestos e bloqueios de vias ocorridos em Santa Cruz, entre outubro e novembro deste ano, contra o adiamento do censo populacional boliviano. As manifestações terminaram com um acordo entre a oposição e o governo, que garantiu a realização do censo antes das eleições gerais previstas para 2025.

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