Ao desembarcar no sábado em Abu Dhabi, após uma visita de três dias à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estará apenas fazendo uma escala nos Emirados Árabes Unidos (EAU). Lula estará resgatando uma relação próxima que mantinha nos seus dois primeiros mandatos com o mundo árabe.
Esta é a avaliação do presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi. Para ele, esse resgate se reflete não apenas no comércio bilateral — o Brasil é um importante fornecedor de alimentos para os 22 países da comunidade árabe — mas também em investimentos e nas relações políticas.
— Nos governos anteriores de Lula, foi criado um mecanismo de consulta entre América do Sul que foi esquecido e é um foro que pode ser revitalizado. Há uma sensibilidade do Brasil bastante clara com relação a temas que são muito caros aos árabes. O contexto é favorável — disse Chohfi.
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Lula fará uma passagem rápida pelos Emirados. Deve ser recebido com um banquete oferecido pelo xeque Mohammed bin Zayed al-Nahyan no início da noite, seguido de uma reunião ampliada, com a participação de empresários e investidores. Alguns acordos serão assinados em áreas como indústria, agronegócio e investimentos em projetos sustentáveis.
Os Emirados já têm com o Brasil um acordo na área de facilitação de investimentos, que prevê a não bitributação de capitais investidos por agentes financeiros dos dois países em seus respectivos territórios. Porém, esse tratado precisa da aprovação do Congresso brasileiro — o que vai permitir que fundos de investimentos emiráticos atuem nos setores de infraestrutura e energia.
Os EAU são hoje os maiores investidores do Oriente Médio no Brasil: os investimentos superam US$ 10 bilhões. Entre os quatro principais fundos soberanos emiráticos, dois – a Mubadala Development Company e a Abu Dhabi Investment Authority (ADIA) – mantêm presença ativa no mercado brasileiro.
Os empreendimentos de propriedade da Mubadala no Brasil hoje incluem investimentos diretos em setores diversos como infraestrutura, mineração, imobiliário, entretenimento e educação. Já a ADIA possui perfil de investimento voltado para aquisição de ações, com interesse no setor imobiliário e hoteleiro.
Por sua vez, cerca de 30 empresas brasileiras estão presentes nos EAU. São exemplos Vale, Embraer, Tramontina, WEG, Marcopolo, Itaú, BRF, JBS, Odebrecht e Copacol, segundo informação do governo do Brasil.
De acordo com Osmar Chohfi, o comércio do Brasil com os árabes foi de US$ 33 bilhões no ano passado. Esses países importam 50% dos alimentos que consomem e os brasileiros são grandes fornecedores.
— Por outro lado, os árabes são importantes fornecedores de fertilizantes, o que contribui para a competitividade do agronegócio brasileiro — completou.
Ele enfatizou que os Emirados Árabes têm interesse em investir no Brasil em setores como infraestrutura, petroquímica, economia verde e mercado de carbono. A América do Sul, observou, ainda tem como vantagem o fato de ser uma região livre de tensões geopolíticas.
Os EAU foram, em 2022, o principal destino das exportações brasileiras na Liga dos Estados Árabes. As vendas do Brasil àquele país totalizaram US$ 3,253 bilhões, com alta de 39,80% sobre as receitas do ano anterior. A pauta foi liderada por carnes bovina e de frango, açúcar, ouro, pastas químicas de madeiras e até petróleo.
O país tem 10 milhões de habitantes e compra alimentos do Brasil não só para alimentar sua população, mas, principalmente, para suas atividades de reexportação, ao lado do turismo, o principal motor econômico do país. As atividades turísticas são, hoje, mais importantes que a exportação de petróleo, que responde por 17% do PIB emirático.
— Os Emirados Árabes Unidos estão no meio da maior rota de comércio do mundo, entre ocidente e oriente. Têm acordos de livre comércio com muitos países da Ásia, África e Europa e oferecem zonas industriais isentas de impostos e outros encargos. Empresas brasileiras podem se beneficiar muito com isso — disse o presidente da Câmara Árabe.
— O país é menor do que o Estado de Pernambuco, mas têm 46 zonas francas integradas com infraestrutura logística, pensadas para atender diferentes necessidades de empresas, ou seja, cada uma delas tem seu público de empresários, além de contar com um sofisticado hub financeiro que permite a exportadores do mundo todo triangular exportações virtualmente para qualquer parte do planeta — acrescentou.
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