Os mediadores internacionais continuam com os esforços para chegar a um acordo de trégua na Faixa de Gaza entre o Hamas e Israel, que nesta quinta-feira voltou a bombardear a cidade de Rafah, no sul do território palestino. Para tentar romper o impasse nas negociações, o assessor do presidente dos EUA para o Oriente Médio, Brett McGurk, desembarca em Israel após uma passagem pelo Egito — onde, nessa semana, também esteve Ismail Haniyeh, chefe do Gabinete Político do grupo terrorista.
Os bombardeios desta quinta-feira destruíram uma mesquita e várias casas na região, de acordo com relatos de moradores e agências de notícias locais. Na fronteira com o Egito, Rafah é o refúgio de mais da metade da população palestina obrigada a se deslocar do norte e da área central da Faixa de Gaza em razão dos combates.
— Foi uma noite muito difícil — disse Akram al-Satri, que está abrigado em Rafah. — Eles destruíram a mesquita al-Farouk, que é uma das maiores mesquitas da região.
A comunidade internacional acompanha com especial preocupação a situação dos 1,5 milhão de palestinos amontoados em Rafah, a maioria deles deslocados pela guerra. Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007, só nas últimas 24 horas 97 pessoas morreram nos bombardeios israelenses.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou uma próxima ofensiva terrestre nesta cidade, que considera o "último reduto" do Hamas, para libertar os reféns remanescentes, sequestrados pelos combatentes do grupo na sua ofensiva em 7 de outubro contra o Estado judeu.
Médicos egípcios levam bebês palestinos prematuros para ambulância no lado egípcio da fronteira de Rafah com a Faixa de Gaza
Pelo menos 1,2 mil pessoas foram mortas e mais de 240 foram levadas para Gaza, segundo as autoridades israelenses. Segundo o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, 134 ainda permanecem em cativeiro, e 30 morreram. Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva para "aniquilar" o Hamas, que já deixou mais de 29,4 mil mortos, sendo a grande maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde palestino.
'Chamas, fumaça e explosões'
Segundo um jornalista da AFP, a aviação israelense lançou uma dezena de bombardeios contra Rafah e Khan Yunis, também no sul de Gaza, na noite de quarta-feira, alguns quilômetros mais ao norte.
— Acordei com o som de uma grande explosão, como um terremoto. Havia chamas, fumaça, explosões e poeira por toda parte — disse Rami Al Shaer, de 21 anos, em Rafah, à AFP.
Encurralados por combates durante mais de quatro meses, os habitantes de Gaza estão atolados em uma grave crise humanitária. Segundo as Nações Unidas (ONU), 2,2 milhões dos quase 2,3 milhões de habitantes do território estão ameaçados pela fome.
- Discurso no Parlamento: Ministra da Igualdade de Israel diz que está ‘orgulhosa das ruínas em Gaza’
A situação humanitária é especialmente alarmante no norte do território, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, que na terça-feira foi obrigado a suspender o envio de ajuda devido à "violência" e ao "caos" que prevalecem na região.
Perante esta situação, houve novas discussões sobre um plano de paz elaborado pelos países mediadores do conflito, Catar, Estados Unidos e Egito. A primeira etapa do plano prevê uma trégua de seis semanas, uma troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel e a entrada de comboios de ajuda humanitária em Gaza.
— Queremos chegar a um acordo [...] o mais rápido possível — disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller.
A proposta está empacada devido a um impasse gerado pela contraproposta do Hamas, tachada de "delirante" por Netanyahu. Contudo, uma declaração dada na quarta-feira pelo membro do gabinete de guerra israelense, Benny Gantz, de que há "sinais preliminares que sugerem a possibilidade de avançar com um novo acordo de libertação dos reféns", sugere uma possível desobstrução nas negociações.
Gantz salientou que se o novo acordo não for estabelecido até o Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos que terá início no próximo dia 10, o Exército israelense seguirá com sua incursão terrestre em Rafah, cidade no sul de Gaza. A região abriga a maior parte dos 1,7 milhão de palestinos deslocados, e mesmo seu principal aliado, os Estados Unidos, têm alertado sobre a operação.
Ataque na Cisjordânia
O Hamas exige um cessar-fogo, a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, o fim do bloqueio israelense imposto desde 2007 e a criação de áreas seguras para as centenas de milhares de pessoas deslocadas pela guerra.
O Knesset — Parlamento israelense — aprovou na quarta-feira, por ampla maioria, uma resolução proposta por Netanyahu contra qualquer "reconhecimento unilateral de um Estado palestino". Para o premier, tal reconhecimento equivaleria a recompensar "o terrorismo sem precedentes" do Hamas.
A votação ocorreu poucos dias depois do jornal americano The Washington Post ter afirmado que os Estados Unidos e vários países árabes estavam desenvolvendo um plano de paz global com um calendário para a fundação de um Estado palestino quando terminar a atual guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
Na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, três palestinos abriram fogo com armas automáticas contra veículos nesta quinta-feira, em um engarrafamento perto de um assentamento israelense próximo a Jerusalém, deixando um morto e oito feridos, segundo a polícia israelense.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY