O Papa Francisco fez um alerta, nesta sexta-feira, contra o uso militar da inteligência artificial (IA) e pediu a proibição das armas autônomas letais, durante um discurso na cúpula do G7, que acontece no sul da Itália.
— Em um drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as chamadas 'armas autônomas letais', a fim de banir a sua utilização (...). Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano — afirmou o Pontífice.
O Papa descreveu a IA como um “instrumento fascinante e tremendo” e no seu discurso, que durou cerca de 20 minutos, alertou para os riscos associados à sua utilização, tais como “maior desigualdade entre nações avançadas e nações em desenvolvimento, entre classes sociais dominantes e oprimidas”.
— E é precisamente aqui que a ação política é urgente — disse ele.
![Papa Francisco cumprimenta o presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro do G7 — Foto: Tiziana Fabi/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/YnPUZNG8OD03hq4UgoPPqREW8_g=/0x0:8256x5504/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/n/C/hItxqJQAAVhJ2b56W3Pw/107299554-pope-francis-greets-us-president-joe-biden-before-to-take-part-in-a-working-session-on-art.jpg)
A temática do discurso de Francisco, o primeiro de um Sumo Pontífice da Igreja Católica no fórum econômico das principais potências ocidentais, já havia sido antecipada pelo GLOBO. Em entrevista exclusiva, o jornalista Iacopo Scaramuzzi, que cobre Vaticano no jornal La Repubblica, afirmou que Francisco vê na IA "um potencial de desenvolvimento para a Humanidade, mas também uma ameaça do ponto de vista ético".
— Como uma voz global da moralidade, ele é a pessoa que pode criar consciência entre os líderes globais sobre os riscos que a IA representa, por exemplo, em matéria de fake news, ou quando é usada por lideranças de extrema direita em campanhas eleitorais — explicou Scaramuzzi em entrevista à jornalista Janaína Figueiredo.
![O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, observa o Papa Francisco, durante encontro do G7 — Foto: Mandel Ngan/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/iIq23Ytb7sRlaeZjYQBTvUYZtCk=/0x0:8256x5504/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/l/D/aFM3gzQLKAYDuaKfdpkg/107299692-pope-francis-brazilian-president-luiz-inacio-lula-da-silva-l-and-algerias-president-abdel.jpg)
Especialistas consideram a IA a terceira revolução no domínio do equipamento militar, depois da invenção da pólvora e da bomba atômica, e temem que todos os tipos de armas, desde robôs a drones, possam ser transformados em sistemas autônomos, governados por algoritmos.
Em abril deste ano, uma conferência internacional na Áustria lançou um apelo à regulamentação de armas letais autônomas, ou "robôs assassinos", insistindo na "urgência" de o fazer, diante dos fracassos nos esforços diplomáticos e à rejeição por parte de potências como os Estados Unidos ou a Rússia a assinar um tratado a respeito.
Em 2020, o Vaticano lançou o Chamado de Roma para a Ética na IA, assinado pela Microsoft, IBM, ONU, Itália e diversas universidades, que apela à transparência desta tecnologia e ao respeito pela privacidade. (Com AFP)