“Depois do período de reclusão da pandemia a ida ao teatro ficou mais ampla”, disse a crítica Flora Süssekind, que esteve presente na mesa da Flip “O teatro, o precipício”. Essa forte presença do público, coincidentemente ou não, acabou se refletindo na literatura. Na festa em Paraty, as artes se misturaram com adaptações de peças sendo lançadas e o contrário também, com livro sendo dramatizado.
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A atriz Andrea Beltrão fez neste sábado (25) o pré-lançamento de “Antígona: ela está entre nós”, onde conta o processo de montagem e registra em formato de livro a releitura da peça de Sófocles que escreveu com Amir Haddad.
Além de Andrea, Raquel Iantas divulga o romance “Irina”, uma adaptação do monólogo autoficcional homônimo, e Denise Crispun fez nesta sexta-feira (24) uma leitura dramatizada, ao lado de Carol Machado, de seu livro “Furiosamente calma”.
– Esse trabalho se multiplicou de forma natural e inesperada. Fizemos a peça, o filme e agora, o livro. Um ciclo completo para Antígona. A interseção entre teatro e literatura é um universo imenso. Não consigo entender, imaginar, o teatro sem a literatura e vice-versa. As palavras criam imagens, ditas no palco ou lidas no papel. São ofícios irmãos – reflete Andrea.
E as adaptações podem ser feitas de diferentes formas. Enquanto em “Antígona” Andrea começa com os bastidores da montagem da peça e siga o formato de um roteiro teatral, “Irina” foi transformado em romance. A história, que mescla ficção e realidade, narra a vida de uma menina brasileira, descendente de poloneses e ucranianos, dos seis aos dezoito anos, por volta das décadas de 1970 e 1980. Solitária, é o contato com a arte que a faz seguir em frente.
– Nunca me imaginei escritora. Irina se impôs, acho que precisava contar essas histórias pela minha mãe e pelas mulheres da minha família – diz Raquel, acrescentando como a literatura e o teatro se encontram. – A literatura contribuiu para romper com os limites da dramaturgia, ultrapassando os diálogos e solilóquios. Além de oferecer um infindável universo de bons textos para serem encenados. Já o teatro dá para o escritor a potência do diálogo como forma narrativa e o poder da concisão.
Diferente de Andrea e Raquel, Denise fez o processo inverso nessa Flip para honrar tanto o livro quanto a arte de dramatizar. Na casa Janela + mapa Lab (onde Andrea Beltrão lê “Antígona: ela está entre nós” às 11h do domingo), ela encenou contos que fazem parte da coletânea “Furiosamente calma”, seu mais recente lançamento. Para Denise, a performance a partir de um livro é também um livro em branco.
– Um dos momentos mais interessantes nesse processo é descobrir a personagem. Quem é essa mulher que se coloca diante da plateia e conta histórias? No livro, ela é uma mulher que fala e escreve e isso dá uma multiplicidade ao que colocamos em cena. Pode estar acontecendo com ela ou pode ter sido apenas imaginado. O processo de pensar a encenação se mistura ao início da própria criação do livro que agora se vê transformado em outra linguagem. É bem desafiador – observa Denise