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Por Tom Farias, Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

Logo na abertura de “A resistência negra ao projeto de exclusão racial”, o professor Helio Santos contextualiza a situação do racismo no Brasil: “Assim, entendemos que as desigualdades no Brasil, que têm cor e gênero, não são obras do acaso, pois decorrem de decisões políticas tomadas ao longo de séculos, desde o momento que se decidiu sequestrar pessoas da África, inaugurando uma saga que produzia dois recordes: a mais longa escravidão colonial e o maior número de pessoas traficadas — dez vezes mais do que os EUA.”

Na coletânea, Santos sintetiza duas ideias basilares do movimento social negro, que vão direcionar este século: a “inteligência negra não pode calar” e o “ativismo antirracista”.

Estas pautas garantem, em parte, a geminação substancial de posicionamentos teóricos que reproduzem reflexões pontuais a respeito do papel de negros e negras desde a Independência do Brasil de Portugal, ou seja, há 200 anos.

São dois dos principais pilares que robustecem mais de 30 textos e ensaios, contribuições que formulam conceitos e diretrizes de intelectuais, escritores e pensadores como Sueli Carneiro, Mário Theodoro, Cida Bento, Kabengele Munanga, Conceição Evaristo, Anielle Franco, Ana Maria Gonçalves, Cuti, Djamila Ribeiro, Eliane Barbosa da Conceição e do próprio Helio Santos, entre outros.

Pelo número de articulistas — que Santos chama de os “34 ativistas” —, é possível ter uma ideia da importância da obra, que repercute o campo do combate ao racismo brasileiro, visto como “sistêmico e inercial” — para além do racismo estrutural —, semelhante àquilo que é inerente à sociedade brasileira e se movimenta sem qualquer embargo jurídico ou político.

O livro que não particulariza posições e conceitos, mas lança reflexões e luzes em meio a vozes potencializadas por décadas de militância e experiências de atuação na academia ou fora dela, como o da militância literária.

Ao abarcar contribuições tão diversas, Santos prioriza o debate de ideais, e foca em estratégias do melhor caminho a ser tomado e, nessa direção, como chegar até seu final, dentro de um cenário realista, prático e assertivo.

Outro ponto crucial abordado pela coletânea é o lugar do negro após o processo de Independência e como “desvendar o nó górdio” do Brasil após tantos anos de resistência.

Esta é uma das formulações de Kabengele Munanga, professor emérito da USP e autor de mais de 150 publicações sobre temas relacionados à questão racial. Para ele, esse “lugar do negro” é a ocupação de espaço e cidadania — pelo caminho da lei e da educação. “Fala-se hoje de uma segunda e verdadeira abolição”, mas podemos “falar também da verdadeira independência diante das novas roupagens do capitalismo e imperialismo que rondam nossas vidas.”

Outro texto interessante, entre tantos, é o que trata de “A parábola do Estado malvado: tributos e população negra no Brasil”, de Eliane Barbosa da Conceição. Ela desenvolve a tese de um “Novo planeta”, o nosso, na lógica da descoberta do Brasil pelos portugueses — dentro do conceito de exploração, atrocidades e escravização humana.

Conceição Evaristo também contribuiu com um texto muito necessário. Segundo ela, é um “olhar mais atencioso sobre o processo” de comemoração da independência, que “revela uma história devedora do povo”, ou “traidora de esperanças, desejos, direitos”.

Sem dúvida, é um livro para ser lido com a máxima urgência, por todos que pensam numa sociedade mais humana e igualitária.

Tom Farias é autor de “Carolina, uma biografia” (Editora Malê, 2018)

'A resistência negra ao projeto de exclusão racial'.

Org: Helio Santos. Editora: Jandaíra. Páginas: 440. Preço: 90. Cotação: ótimo.

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