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Por , Em El País

É difícil imaginar Sigmund Freud enfrentando um grupo de nazistas, mas isso aconteceu. Em 15 de março de 1938, membros armados da SA apareceram na casa do pai da psicanálise, em Viena, e não exatamente para uma sessão de análise. A esposa de Freud, Martha, tentou acalmar os loucos que usavam suásticas tratando-os educadamente e convidando-os a deixar seus rifles no porta-guarda-chuvas, mas os nazistas exigiram todo o dinheiro que havia na casa.

Então Freud apareceu, postou-se corajosamente diante deles e encarou-os com a testa franzida e olhos brilhantes. Os nazistas cumprimentaram-no com um “Herr Professor” e se foram, mas ameaçando voltar. Ao saber quanto dinheiro haviam levado, Freud comentou: “Nunca cobrei tanto por uma única visita”.

Saga vai virar filme

A cena é descrita pelo jornalista americano Andrew Nagorski em “Salvar a Freud” (“Salvando Freud’’, em tradução livre), que está sendo lançado na Espanha pela editora Crítica. Ele conta como, graças à ajuda de um grupo de amigos, o pai da psicanálise conseguiu, naquele mesmo ano, sair do pesadelo que Viena estava se tornando.

— Tendemos a considerar Freud uma figura do século XIX e início do XX, mas sabe-se pouco sobre como ele sobreviveu aos nazistas. É uma história quase cinematográfica, e, na verdade, já me compraram os direitos do livro para fazer um filme — revela o autor.

Segundo Nagorski, Hitler não teria hesitado em fazer do psicanalista outra vítima do Holocausto — como quatro das irmãs do médico, que morreram nos campos de concentração nazistas em 1942.

— Se Freud tivesse ficado e não tivesse morrido antes do câncer que acabou matando-o em Londres, os nazistas o teriam assassinado, nos campos ou de qualquer outra forma. Ele era um símbolo do judeu mais perigoso para eles. E eles abriram muito poucas exceções — diz o escritor ao El País.

O livro mira na retirada de Freud de Viena, mas também é uma forma emocionante de explorar a existência do cientista e relembrar os principais acontecimentos de sua vida e época. Ele acompanha Freud desde seu nascimento, em 1856, e inclui experiências com cocaína, a criação dos termos “psicanálise” ou “complexo de Édipo”, os problemas com Jung, Adler e Ferenczi, a relação com Einstein, a antipatia pelos EUA e o carinho pelo seu cão. Graças à Operação Freud, como chama Nagorski, ele pôde morrer em Londres, em 23 de setembro de 1939.

— Aquela cena de Freud com a SA é uma das razões pelas quais quis contar esta história — diz Nagorski.

Bem consciente da sua condição de judeu, Freud recusou-se a deixar-se intimidar pelo antissemitismo e subestimou a ameaça nazista, considerando, apesar de todos os avisos (e da sua própria visão sobre os piores impulsos do indivíduo), que não era possível que a Alemanha pudesse “caminhar para o mal”.

Freud e a psicanálise, que consideravam uma “ciência judaica”, eram particularmente odiados pelos nazistas. Quando Hitler chegou ao poder, o movimento foi perseguido na Alemanha, e os livros do seu fundador estavam entre os que foram queimados publicamente aos gritos de “contra a supervalorização da vida sexual, destruidora da alma!”

Pelo livro, vê-se que foi um verdadeiro milagre tirar tantos judeus de Viena, além de uma figura universal como Freud. O segredo estava na teimosia e na devoção daquele grupo de seus amigos e admiradores.

— O fato de ele ter amigos e seguidores tão diferentes e dedicados diz muito sobre Freud — ressalta Nagorski.

No total, Freud, 18 adultos e seis crianças de seu ambiente familiar, além de seu querido chow-chow, conseguiram fugir de Viena para Londres via Paris, em 4 de junho de 1938. O divã também estava na bagagem.

“Agora estamos livres”, disse Freud ao cruzarem o Reno no trem em que fugiram para a França. Depois de um tempo, estabeleceu-se em Hampstead, Londres(agora um museu, assim como sua casa em Viena), onde passou o resto de sua vida e continuou sua prática enquanto pôde. Lá foi visitado, entre outros, por Virginia Woolf e Dalí.

Woody Allen e Gestapo

Uma das coisas que surpreenderam Nagorski em seu resgate de Freud foi seu notável senso de humor. Comentando seu encontro com Einstein, Freud brincou: “Não sei nada de física e ele não sabe nada de psicanálise, então nos divertimos muito”.

E quando teve de assinar uma declaração para deixar a Áustria citando as autoridades nazistas, não conseguiu pensar em outra coisa senão dizer em voz alta: “Recomendo vivamente a Gestapo a todo mundo”.

Nagorski acha que Freud teria se dado bem com Woody Allen.

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