Cultura
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Por Luiz Fernando Vianna; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

Em texto para o encarte do disco, a cantora e compositora Joyce Moreno diz que “Cataventos” é um “espanto”. “Como um homem de 88 anos, com a história e as realizações de Hermínio Bello de Carvalho, consegue ainda ter fôlego para lançar uma obra inédita desse porte?”, pergunta ela.

A um poema lido por Fernanda Montenegro seguem-se 14 faixas, sendo 11 inéditas. Para Hermínio, o álbum, lançado pelo Selo Sesc e disponível nas plataformas, reflete o seu momento.

— Ele é prova de que não me acomodei e que ainda procuro manter acesa a chama da criação, inclusive compondo com parceiros jovens. Isso me revitaliza e me faz pensar no presente e no futuro, mas sem desprezar meu passado — afirma o letrista (e poeta, cronista, produtor), que também está lançando o livro de crônicas “Passageiro de relâmpagos”, organizado por Joyce.

Os parceiros mais novos que aparecem no repertório são Vidal Assis, Luis Barcelos, Tuninho Galante, Gabi Buarque, Saulo Battesini (na faixa-título), Henrique Annes, Lucas Porto — também diretor musical do projeto — e Kiko Horta. Entre os intérpretes estão Áurea Martins, Alaíde Costa, Alfredo Del-Penho, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Marcos Sacramento e Giulia Drummond, além de Joyce e Zé Renato.

Hermínio Bello de Carvalho  — Foto: Matheus José Maria
Hermínio Bello de Carvalho — Foto: Matheus José Maria

Essa proximidade com os jovens se desdobra no desejo de compartilhar as muitas histórias que viveu e conhece. “Informação não se engaveta” é um de seus lemas. Por isso, escreve textos no Facebook e manda e-mails para um grupo grande de pessoas.

— Ele tem o desejo de informar, de ser um educador cultural — diz Vidal Assis, de 38 anos, parceiro em muitas canções. — E quer passar adiante esse hábito. É um modo de democratizar a cultura.

‘Intérprete raríssima’

Quando perguntado sobre o futuro, Hermínio cita “Meu mundo é hoje”, o samba de Wilson Batista que Paulinho da Viola gravou. “Não existe amanhã pra mim”, diz a letra.

— Não me vejo entrando num palco apoiado numa bengala ou confinado numa cadeira de rodas — avisa.

Três músicas do álbum já tinham sido gravadas anteriormente. A mais conhecida delas é “Cobras e lagartos”, parceria com Sueli Costa presente em muitos shows de Maria Bethânia, que agora a registrou acompanhada apenas do violão de João Camarero.

— Essa versão é linda, perfeita — vibra Hermínio. — Ela já havia gravado a música num LP com Chico Buarque (em 1975), e confesso que, na época, não gostei do resultado. Bethânia é surpreendente, uma intérprete raríssima.

Paulinho da Viola interpretou “Valsa da solidão”, uma de suas primeiras criações com aquele que o puxou para a música. Hermínio encontrou Paulinho quando este ainda era bancário, reconheceu-o dos saraus na casa de Jacob do Bandolim e o estimulou a se profissionalizar como músico.

Já “Labaredas”, cantada por Ayrton Montarroyos, é uma das parcerias com Cartola, misto de amigo e ídolo. O anel que usa foi deixado por Cartola — que pediu à mulher, Zica, que o desse a Hermínio quando morresse.

O álbum é dedicado a quatro figuras que considera fundamentais em sua vida: Cartola, Pixinguinha (também seu parceiro), Clementina de Jesus e Mário de Andrade — sua principal referência intelectual.

É comum se dizer que Hermínio descobriu Clementina quando ela já estava com 62 anos. Ele prefere creditar ao que chama de “a arte de prestar atenção”.

— Será que, antes, ninguém se deu conta da sua importância? Ou, simplesmente, não prestaram atenção? Foi isso o que aconteceu: prestei atenção — diz.

E ele continua atento. Foi apresentado recentemente a músicas da rapper Bia Ferreira e adorou. Quer estar cara a cara com Emicida, a quem admira, antes de tudo, pela produção que fez do último álbum de Alaíde Costa.

— Conheço pouquíssimo do seu trabalho, mas esse pouco me dá a certeza da sua originalidade poética — exalta.

Hermínio tem falado muito em Norival Teixeira, o Valzinho (1914-1980), Sidney Miller (1945-1980) e Elton Medeiros (1930-2019). Já há um disco gravado com o repertório de Elton, sendo cinco inéditas, concebido por ele e Vidal Assis. E Vidal tem ajudado na organização de letras inéditas, feitas para parceiros como Pixinguinha, Cartola e Candeia.

Enquanto isso, Hermínio se dedica bastante à poesia, área em que é menos conhecido do que na música.

— Caso eu fosse mais organizado, teria em estoque um monte de trabalhos, inclusive de poesia, que resultariam em livros e mais livros. Eles fatalmente se perderão se eu não os publicar em vida — diz. — Mas, a quem interessar possa, tenho muito material.

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