BRASÍLIA - A equipe econômica avalia elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IR) de forma gradual, em dois anos. Segundo fontes a par do assunto, o limite de R$ 1,9 mil subiria para pouco menos de R$ 2,5 mil em 2022 e para R$ 3 mil, em 2023.
A solução teria como objetivo reduzir o impacto da renúncia fiscal na arrecadação até que a atividade econômica se recupere, conforme o avanço da vacinação contra a Covid-19.
Ao mesmo tempo, seria possível anunciar um horizonte para o cumprimento da promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a defender ampliar o limite para R$ 5 mil durante as eleições de 2018. Hoje, estão livres do tributo rendimentos até R$ 1.903,98.
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Elevar de uma só vez a faixa de isenção do IR para R$ 3 mil teria impacto nas contas públicas de 2022 na ordem de R$ 30 bilhões. A reforma em duas etapas diluiria esse efeito sobre o caixa da União.
Os detalhes da medida ainda não foram finalizados, mas fontes a par das negociações afirmaram que a mudança em fases é uma das ideias em debate.
Nesse cenário, as medidas para compensar a perda de arrecadação prevista com o alívio no IRPF também seriam feitas de forma escalonada. A principal delas seria a taxação de dividendos, que hoje são isentos.
A tributação sobre esses ganhos passaria a ser de 15% no ano que vem e, em 2023, passaria a 20%. Para ajudar a quebrar a resistência à cobrança, haveria uma faixa de isenção entre R$ 20 mil e R$ 25 mil em dividendos distribuídos por mês.
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Também faria parte do projeto o fim da isenção sobre os chamados Juros sobre Capital Próprio (JCP), uma das formas utilizadas pelas empresas para remunerar investidores. Na prática, o mecanismo funciona como uma distribuição de dividendos, mas contam com diferença contábil e fiscal que beneficia as empresas e seus acionistas.
Em contrapartida, seria reduzida a cobrança do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), que incide sobre as empresas. A alíquota do tributo seria reduzida em cinco pontos percentuais, também em um período de dois anos.
Tabela congelada desde 2015
Os estudos foram apresentados a líderes do governo há alguns dias, mas ainda dependem da decisão de Bolsonaro para avançar.
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Ao ampliar a faixa de isenção do IR, Bolsonaro fará um gesto político para as pessoas de baixa renda, de olho nas eleições de 2022. O plano seria contemplar também a classe média, com ampliação das faixas de tributação (de 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%).
Não faz parte da proposta, segundo técnicos da Economia, acabar com as deduções dos contribuintes com saúde e educação.
O pacote enfrenta um impasse, disse um técnico envolvido nas discussões. Há resistências em relação às fontes de compensação que podem resultar em aumento de carga para as empresas.
A tabela do IR está congelada desde 2015 e, caso decida elevar a faixa de isenção para R$ 2,4 mil, o governo estará repondo parte da inflação acumulada no período, de 28%. O aumento representaria uma reposição de 26,3%.
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A equipe econômica quer ainda reduzir a progressão do IR nas aplicações em renda fixa — que hoje variam entre 15% e 22,5% de acordo com o prazo em que o dinheiro fica aplicado — para 15%.
Mas ampliando a taxação a investimentos atualmente isentos, como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).
A ideia enfrenta resistência do Ministério da Agricultura, já que LCAs e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) ajudam a financiar atividades no campo.
A proposta prevê que a medida valha apenas para novas aplicações. Investimentos em LCI e LCA já realizados não seriam afetados.
Os papéis Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) ajudam a financiar atividades no campo e são isentos do IR. Títulos vinculados ao setor da construção civil também contam com o mesmo benefício.
A ideia seria que a medida valesse apenas para novas aplicações. Investimentos em LCI e LCA já realizados não seriam afetados.
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Haverá resistência a taxação de dividendo, dizem especialistas
Para o economista e ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra, a taxação de dividendos vai enfrentar resistência dos setores empresarial e financeiro. Na visão dele, a medida prejudica a capacidade de investimento e a geração de empregos, “embora a correção na faixa de isenção seja politicamente aceitável”.
— A tributação sobre dividendos desestimula as empresas a distribuírem dividendos, que é uma coisa muito saudável na economia, importante para o crescimento do mercado de capitais. Você pode criar estímulos à distribuição disfarçada de lucros, que era um grande problema para a Receita no passado. Com a tributação de juros sobre o capital próprio, você vai estimular o endividamento — destacou Cintra.
Para o tributarista Ilan Gorin, a taxação de dividendos e o fim da permissão de dedução de juros pagos ao acionista vão resultar em aumento de carga tributária, mesmo que haja algum alívio no IR pago pelas empresas.
A alteração na tabela do IR faz parte do esforço do governo em aprovar a reforma tributária fatiada. Como contrapartida, o Congresso aprovaria também projeto já encaminhado pelo Executivo que unifica as contribuições para o PIS e a Confins, criando a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).
Contudo, essa proposta também enfrenta resistência do setor de serviços.