Os sócios da 3G Capital — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — tinham planos ambiciosos para a Americanas, como fazer da empresa a Ambev do setor varejista. Mas a revelação de um rombo de R$ 20 bilhões no balanço da empresa fez o grande sonho evaporar.
O mercado, disse um gestor, vai acompanhar o desenrolar dessa crise, algo bem diferente da união de Ambev e InBev, que criou a AB Inbev, e da fusão entre Heinz e Kraft.
Com o tombo de quase 80% das ações da Americanas na quinta-feira, a fortuna do trio encolheu US$ 701 milhões, segundo cálculos de um analista. Só Lemann, o homem mais rico do Brasil segundo a “Forbes”, perdeu US$ 329 milhões, pouco perto de uma fortuna estimada em US$ 15,4 bilhões.
Lemman sempre se gabou de ser um expert em cortar custos e produzir eficiência, modelo repetido e muitas vezes criticado por quem trabalha na Ambev, com metas quase impossíveis de serem alcançadas semestralmente. Na Americanas, a tática de guerrilha é semelhante: quem trabalha lá diz que “é Black Friday todo dia”.
Foi com esse espírito que Lemann pavimentou o império das Lojas Americanas a partir dos anos 1980, quando ele comprou a empresa com Telles e Sicupira . Depois de levar a rede física para quase todo o país, a aposta voltou-se para o e-commerce: entre 2005 e 2006, foram comprados Shoptime, Ingresso.com e Submarino.
Em 2007, a Americanas.com se fundiu com Submarino e incorporou o Shoptime, criando um gigante do comércio eletrônico.
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Depois veio uma série de aquisições, como o Hortifruti Natural da Terra e o Grupo Uni.co (dono de Imaginarium e Puket). A empresa ainda fez uma joint venture com a Vibra (ex-BR Distribuidora) para atuar no segmento de conveniência. Nenhum analista se arrisca hoje a dizer o que acontecerá com essas operações. Mas alguns já apostam na venda desses ativos para contornar a crise.
O passo mais ousado foi em 2021, quando as Lojas Americanas se juntaram à B2W, formando a Americanas S.A. Nascia uma gigante com 34 mil funcionários e mais de 90 milhões de clientes cadastrados. Com a operação, Lemann, Telles e Sicupira passaram de controladores a acionistas de referência. O trio não participa mais do dia a dia da empresa, mas tem representantes no Conselho de Administração.
Uma fonte destacou que o trio não descarta responsabilizar a antiga administração. Enquanto isso, parte dos investidores começa a criticar o silêncio dos bilionários. Ainda há cobrança por um aporte financeiro, algo que se torna cada vez mais distante.