Clima e ciência
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Por , Em The New York Times

Ofegante depois de perseguir a impala que agora está presa em seus dentes, um leopardo arrasta sua presa para um local sombreado ao lado de um poço d'água. Antes que ele possa acomodar-se para iniciar o banquete, uma voz aparentemente vinda do nada começa a falar calmamente. "É muito difícil falar em africâner...", começa a voz sem corpo. O leopardo faz uma pausa, olha de relance para a fonte do som e, em seguida, larga sua presa arduamente conquistada e corre. Sem saber, esse leopardo acabou abandonando seu almoço a serviço da ciência.

Pesquisadores da Western University, em London, na província canadense de Ontário, analisaram milhares de gravações de vídeo para revelar uma hierarquia de medo em um conjunto de mamíferos que vive no Parque Nacional Kruger e nos arredores, na África do Sul. Embora o leão tenham sido apelidado como o rei da selva, os vídeos mostram que, para os mamíferos selvagens da savana — de pequenos antílopes a enormes elefantes — o predador mais assustador e letal de todos somos nós.

Os pesquisadores descobriram que o som de vozes humanas provoca mais medo do que os rosnados e rugidos dos leões. Isso ressalta que nossa espécie é reconhecida como excepcionalmente perigosa, "porque somos super letais", disse Michael Clinchy, biólogo de conservação da Western University. Eles esperam que a compreensão desse medo universal dos seres humanos possa ajudar no objetivo de evitar a caça ilegal de animais selvagens.

O estudo do qual os vídeos foram retirados, publicado na quinta-feira na revista Current Biology, é o mais recente de uma série realizada por Liana Zanette, também da Western University, e Clinchy, cuja equipe estuda o medo. Os cientistas e seus colegas demonstraram que não é apenas o fato de virar comida, mas o medo de virar comida que cria efeitos profundos que se propagam de indivíduos para comunidades inteiras. Assim, de volta às savanas da África do Sul, onde uma diversidade de mamíferos evoluiu por milênios ao lado de leões e caçadores humanos, Zanette e Clinchy ficaram curiosos: qual era a posição dos humanos na escala de medo entre esses animais?

Trabalhando com pesquisadores locais e outros colaboradores, os cientistas montaram um equipamento que testou as reações ao medo de vários animais. Os sistemas automatizados de resposta comportamental acionados pelo movimento gravam vídeos dos mamíferos que passam enquanto eles respondem à uma mistura de sons em uma escala que vai do potencialmente assustador ao inofensivo.

A pesquisadora Liana Zanette com um dos equipamentos usados para registrar as reações dos animais — Foto: CLINCHY ET AL., CURRENT BIOLOGY
A pesquisadora Liana Zanette com um dos equipamentos usados para registrar as reações dos animais — Foto: CLINCHY ET AL., CURRENT BIOLOGY

A equipe fixou gravadores e alto-falantes de áudio em árvores próximas a 21 reservas de água, habitats que os animais sedentos relutam em deixar durante a estação seca, época em que a pesquisa foi realizada. Os dispositivos funcionavam 24 horas por dia durante seis semanas, reproduzindo clipes de diferentes tipos de som em ordem aleatória, acionados por movimento.

Os barulhos benignos — usados como controle do experimento — eram os cantos dos pássaros locais. Os sons mais ameaçadores eram latidos de cães, tiros, leões rosnando e rugindo, e humanos falando calmamente. As vozes humanas incluíam mulheres e homens que falavam em tsonga, soto do norte, africâner e inglês (línguas faladas na África do Sul), extraídos de clipes de notícias selecionadas do país.

Os pesquisadores prestaram muita atenção à equalização dos volumes de todos os tipos de som, de modo que qualquer potencial de assustar fosse resultado do conteúdo e não da intensidade do barulho. Para conseguir isso, eles usaram os sons de rosnados e grunhidos de leões em vez de rugidos muito mais altos.

A equipe escolheu a fuga como uma medida comportamental comum e fácil de medir. Cada vídeo foi classificado de acordo com a velocidade com que o animal corria e o tempo que levava para abandonar o poço d'água.

A análise de mais de 4 mil vídeos, com foco em 19 espécies, revelou que, quando confrontados com humanos falando, os animais tinham duas vezes mais chances de correr e abandonavam as reservas de água 40% mais rápido do que quando ouviam leões, cães ou armas.

O contraste na resposta de fuga às vozes humanas e aos rosnados e rugidos dos leões foi manifestada na maioria das espécies, incluindo girafas, leopardos, hienas, zebras, cudos, javalis e impalas. Como os outros mamíferos da savana, os elefantes também fugiam quando ouviam vozes humanas.

— Eles simplesmente saem de lá em disparada — disse Clinchy.

Apesar disso, os elefantes eram uma exceção notável quando o assunto era sua reação aos sons dos leões. Em vez de fugirem, os elefantes corriam em direção à fonte dos sons e, em alguns casos, se chocavam violentamente contra os dispositivos.

As reações agressivas dos elefantes aos leões são bem conhecidas, disse Karen McComb, pesquisadora de comunicação animal da Universidade de Sussex, no Reino Unido, cuja equipe realizou experimentos acústicos com elefantes no Quênia. McComb explicou que, ao ouvir sons de leões, os elefantes geralmente se agrupam, defendem os filhotes e avançam em direção às gravações de áudio dos leões.

— Eles nunca fizeram isso com nossas reproduções de vozes humanas — disse McComb, acrescentando: — Os elefantes são grandes o suficiente para poderem se agrupar e afastar os leões.

Porém, contra humanos armados com lanças ou armas, a aproximação pode ser fatal.

No novo estudo, os pesquisadores ficaram intrigados com as respostas dos rinocerontes. Esses animais fugiram das vozes humanas duas vezes mais rápido do que em relação ao som dos leões. E, durante o período da pesquisa, cinco rinocerontes brancos do sul, altamente ameaçados de extinção, foram roubados de reservas próximas. Portanto, uma das aplicações que a equipe deseja explorar em pesquisas futuras, disse Clinchy, é se o uso de playbacks de vozes humanas poderia manter os animais longe das linhas de cercas próximas às estradas, onde ocorre muita caça ilegal.

Chris Darimont, ecologista da Universidade de Victoria, na Colúmbia Britânica, província canadense, que não participou do estudo, mas revisou o artigo para a revista, elogiou-o. Darimont, contudo, observou que o foco nos sons era uma limitação e afirmou esperar que pesquisas futuras incorporem sinais olfativos.

— Poderíamos esperar encontrar impactos ainda mais impressionantes dos seres humanos, dada a natureza dos cheiros, a enorme sensibilidade aos odores pelos mamíferos e as formas pelas quais os cheiros podem se prolongar — disse o pesquisador.

Ishana Shukla, da Universidade da Califórnia, Davis, cidade na Califórnia, que está estudando as respostas dos mamíferos às perturbações humanas, elogiou a amplitude do estudo. Ao analisar a reação aos distúrbios humanos em toda a comunidade de mamíferos, ela disse que "podemos ter uma visão mais ampla do que realmente está acontecendo com o sistema, em vez de apenas uma parte móvel".

Quanto aos leões do parque, pareciam indiferentes aos intrusos humanos que usavam seus rosnados para fins científicos.

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