O novo ministro do Tesouro do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse nesta segunda-feira que vai reverter praticamente todos os cortes de impostos planejados pela primeira-ministra Liz Truss, varrendo seu plano econômico ultraliberal, em uma tentativa de estabilizar os mercados financeiros e o governo. O plano da premier — que previa os maiores cortes de impostos em 50 anos, custando cerca de 43 bilhões de libras esterlinas (R$ 255,8 bilhões), sem medidas para compensar o rombo — foi mal recebido por um país à beira da recessão, ameaçando a sua continuidade no cargo que assumiu há pouco mais de um mês.
— Um dever central de qualquer governo é fazer o que for necessário para a estabilidade econômica — disse Hunt em um anúncio televisionado. — Nenhum governo pode controlar os mercados, mas todo governo pode dar certeza sobre a sustentabilidade das finanças públicas.
Hunt também anunciou que o governo só manterá até abril a única parte popular do pacote original de Truss: o plano de ajuda às empresas para ajudar a pagar as contas de luz e gás. Depois, ele será substituído por um programa ainda indefinido que, segundo o novo ministro, promoveria a eficiência energética.
O governo conservador de Truss planejava anunciar os detalhes de impostos e gastos de seu plano fiscal em 31 de outubro, mas, com os mercados ainda oscilando, Hunt apressou o cronograma.
— Teremos decisões mais difíceis, tanto em impostos quanto em gastos, à medida que entregamos nosso compromisso de reduzir a dívida como parcela da economia no médio prazo — disse Hunt, acrescentando que a prioridade será proteger "os mais vulneráveis".
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Entre os novos detalhes, Hunt disse que o governo suspenderia uma redução na alíquota do imposto de renda básica, a peça central de um plano de corte de impostos que Truss havia prometido que restimularia o crescimento econômico do Reino Unido. Ela já havia descartado cortes nos impostos para pessoas de alta renda e nos impostos corporativos.
O objetivo do governo agora é restaurar a credibilidade do Reino Unido nos mercados, explicando como planeja preencher o rombo orçamentário, e as medidas de Hunt fazem parte do caminho para fazer isso.
O anúncio apressado de Hunt veio três dias depois que Truss demitiu seu antecessor, Kwasi Kwarteng. A demissão revelou um governo forçado a uma humilhante virada de 180 graus em sua política econômica por um mercado implacável, parlamentares conservadores rebeldes e uma perda total de apoio público.
A libra — em queda livre após os anúncios de Truss — e os títulos do governo britânico subiram no período que antecedeu o anúncio, sugerindo que a notícia poderia dar a Truss alguns dias de fôlego, embora sua sobrevivência política, depois de apenas seis semanas no cargo, permanecesse em dúvida.
O fato de Truss estar nessa situação logo após assumir o cargo se deve tanto à natureza radical de suas propostas quanto a sua inadequação para o momento. Cortar impostos em um momento de inflação de quase dois dígitos, quando os bancos centrais estão aumentando as taxas de juros, faria do Reino Unido uma exceção econômica.
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