O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta sexta-feira mais de 500 novas sanções à Rússia, que forçarão o presidente Vladimir Putin a pagar "um preço ainda mais alto" pela morte na prisão do líder da oposição Alexei Navalny e por sua guerra na Ucrânia, que completa dois anos no sábado. As novas medidas deverão ser implementadas pelo Departamento do Tesouro e de Estado americanos.
"Elas [as sanções] garantirão que Putin pague um preço ainda mais alto por sua agressão no exterior e repressão em casa", disse Biden em um comunicado.
- 'FDP maluco': Biden xinga Putin durante discurso nos Estados Unidos
- Entrevista exclusiva: 'O Ocidente deve parar de encher a Ucrânia de armas', diz chefe da diplomacia do Kremlin
Este é o maior pacote de restrições econômicas anunciado desde a invasão russa à Ucrânia, que completa dois anos no sábado. Os alvos das sanções estão ligados à prisão do ativista e ao setor financeiro da Rússia, além da "base industrial de defesa, as redes de aquisição e os que burlam as sanções em vários continentes". Também serão penalizadas quase 100 entidades por fornecerem apoio secreto à Moscou.
A Rússia classificou as novas sanções impostas pelos EUA como uma tentativa "cínica" de interferir em seus assuntos antes das eleições que devem estender o mandato de Putin, marcadas para o próximo mês. "As novas restrições ilegítimas são mais uma tentativa descarada e cínica de interferir nos assuntos internos da Federação Russa", afirmou o enviado de Moscou aos EUA, Anatoly Antonov, às agências de notícias estatais.
Pacote de ajuda à Ucrânia
No comunicado, Biden também instou a aprovação pelo Congresso do pacote bipartidário, que aloca US$ 60 bilhões em ajuda a Kiev, "antes que seja tarde demais". O texto foi barrado no início de fevereiro pelo Senado, sendo rejeitado por praticamente todos os republicanos.
Biden tem enfrentado dificuldades para aprovar o envio de um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia, no momento em que Kiev vê seus arsenais chegarem a níveis críticos, e em que a Rússia intensifica ataques contra cidades e fortalece posições de defesa em áreas já ocupadas. Nas últimas horas, Moscou anunciou novas conquistas territoriais e, no último sábado, reivindicou a tomada de Avdiika, — uma vitória simbólica que garante a capacidade de abrir novas linhas de ataque para a conquista de toda a região do Donbass.
"A oposição a esse projeto de lei só faz o jogo dele [Putin]", insistiu Biden no comunicado.
À medida que a guerra entra em seu terceiro ano, o governo Biden tem se tornado cada vez mais dependente do uso de ferramentas financeiras para tentar prejudicar e isolar a economia russa. Ele trabalhou com aliados do Grupo dos 7 — Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá — para limitar o preço pelo qual o petróleo russo pode ser vendido nos mercados globais, congelou centenas de bilhões de dólares em ativos do banco central russo e decretou restrições comerciais para tentar bloquear o fluxo de tecnologia e equipamentos que a Rússia usa para abastecer suas forças armadas.
- Doze mil quilômetros sem escalas: como é o novo bombardeiro supersônico da Rússia pilotado por Putin
Washington também tem trabalhado em estreita coordenação com a Europa em seus esforços para isolar a Rússia da economia global. Esta semana, a União Europeia revelou sua 13ª parcela de sanções contra a Rússia, proibindo cerca de 200 pessoas e entidades que têm ajudado Moscou a adquirir armas de viajar ou fazer negócios dentro do bloco.
O Reino Unido também anunciou sanções esta semana a empresas ligadas à cadeia de suprimentos de munição da Rússia, bem como a seis russos acusados de administrar a prisão no Ártico onde Navalny morreu.
Apesar do esforço para exercer pressão econômica sobre Moscou, o país tem resistido amplamente às restrições. A China, a Índia e o Brasil têm comprado petróleo russo em quantidades recordes, e os gastos com o esforço de guerra estimularam a economia russa que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), estava crescendo mais rápido do que o esperado no mês passado.
Encontro com viúva de ativista morto
Na quinta-feira, Biden se reuniu com a viúva e a filha do opositor russo, na Califórnia. À Yulia e Dasha, o presidente dos EUA expressou "suas sinceras condolências por sua terrível perda" e "enfatizou que o legado de Alexei continuará por meio de pessoas em toda a Rússia e em todo o mundo", segundo um comunicado da Casa Branca.
- 'Permanentemente congelada': Como é a prisão no Ártico onde principal opositor de Putin morreu
O líder americano culpou diretamente o Kremlin pela morte do ativista, anunciada na semana passada pelo Serviço Penitenciário Federal russo e confirmada pouco depois por seu círculo político. "Não há dúvida de que a morte de Navalny foi consequência de algo que Putin e seus capangas fizeram”, argumentou o democrata.
Navalny morreu aos 47 anos, na prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos. Ele estava detido desde seu retorno à Rússia no início de 2021 e enfrentava problemas de saúde. O Serviço Penitenciário Russo (FSIN) informou que o opositor morreu após perder a consciência durante uma caminhada. A mãe do ativista, Liumila, no entanto, denunciou que tem sofrido "chantagem" para enterrar "secretamente" o filho. (Com NYT e AFP)
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY