Finanças
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Por Vitor da Costa — Rio

Com os juros em 13,75% ao ano e o aperto de crédito no mercado brasileiro, as empresas têm recorrido a emissões de ações para se financiar e melhorar suas contas. O clima ainda não é favorável para incentivar a abertura de capital na Bolsa por meio de IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) — as últimas ocorreram em 2021. Mas para as companhias que já estão listadas em Bolsa, a alternativa tem sido recorrer a emissões subsequentes de papéis, conhecidas no jargão do mercado como follow-ons.

Somente neste ano, estas operações somam ao menos R$ 7,2 bilhões (incluindo no cálculo ofertas já finalizadas e o valor mínimo das que estão em andamento).

O movimento, segundo especialistas, pode servir de “ensaio” para testar o apetite dos investidores para, quem sabe, reabrir a janela dos IPOs no segundo semestre. A tendência é que essas operações sejam retomadas por empresas maiores e com mais liquidez .

Explicação ao investidor

Marcelo Millen, head de equity capital markets para a América Latina do Citi, ressalta que outros meios de captação, como o crédito bancário e a emissão de dívida, estão mais seletivos após episódios envolvendo grandes companhias no início do ano.

IPO/Follow-on — Foto: Criação O Globo
IPO/Follow-on — Foto: Criação O Globo

Em janeiro, o mercado foi pego de surpresa pela revelação de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões em balanços da Americanas. O mercado de capitais passou a ser uma opção.

— O mercado bancário está mais seletivo, principalmente para as companhias menores — afirmou.

A primeira oferta de ações do ano foi a do atacarejo Assaí e movimentou R$ 4,06 bilhões. Já se sabia no mercado que o Casino, o controlador, tinha necessidade de se capitalizar para recuperar a confiança dos investidores e de credores, o que acelerou a realização do negócio mesmo em um cenário ainda incerto de mercado.

Mas aos poucos outras transações começam a aparecer. A operadora de planos de saúde Hapvida finalizou um follow-on que movimentou R$ 1,06 bilhão semana passada, com a ação definida em R$ 2,68. A família Pinheiro, controladora da empresa, já tinha se comprometido a injetar recursos na oferta.

A Dasa lançou um follow-on de R$ 1,5 bilhão, a R$ 8,50 ação. Segundo a empresa, os controladores e uma das instituições financeiras participantes da oferta se comprometem a injetar recursos na operação.

Em comum, as duas empresas buscam injetar dinheiro para dar alívio a seus balanços e reduzir a alavancagem, em um contexto de juros elevados e economia em desaceleração.

— Com a Selic a 13,75%, o juro da dívida aumentou bastante. Às vezes, as empresas que captam dinheiro em um follow-on para reduzir a alavancagem e ajudar a atravessar esse cenário de maior incerteza num momento que há uma redução da disponibilidade de crédito — explicou o corresponsável pela área de Investment Banking do Bank of America no Brasil, Hans Lin.

Saguão da B3, Bolsa de Valores de São Paulo — Foto: Divulgação
Saguão da B3, Bolsa de Valores de São Paulo — Foto: Divulgação

Há casos em que o patamar baixo dos papéis gera receio do impacto da diluição para os atuais acionistas. Isso porque a fatia do capital da empresa na mão do investidor fica menor. Se uma companhia tem ações a R$ 10 e uma base de mil acionistas, o valor do papel vai cair se ela ampliar a base para dois mil acionistas, por exemplo.

Observadores das ofertas destacam, porém, a predisposição de controladores em aportar dinheiro no negócio e a apresentação de medidas para recuperar o caixa. O conjunto destas ações pode ser bem visto pelos investidores, compensando o valor menor da fatia do bolo de cada um.

— Existe mercado para isso, mas precisa ser bem explicado aos investidores — destacou o responsável pela área de mercado de capitais do Santander Brasil, Pedro Leite da Costa.

Quem também anunciou uma oferta foi a 3R Petroleum. A empresa do setor de óleo e gás vai lançar um follow-on entre R$ 600 milhões e R$ 899,9 milhões para cobrir despesas e investimentos da companhia. O anúncio foi visto como surpreendente por analistas, o que fez as ações da empresa recuarem 15,7% ontem.

Impacto do fiscal

A percepção que se tinha até então era de que a 3R teria condições de bancar a aquisição do Polo Potiguar, adquirido junto à Petrobras no ano passado, com a geração de caixa própria e com dívida.

Millen, do Citi, ressalta que duas condições importantes para a retomada mais robusta dos IPOs são o tratamento da questão fiscal pelo governo, que começou com a apresentação da proposta do novo arcabouço, e a estabilização dos juros nos EUA. Ele vê um clima mais favorável para IPOs a partir de setembro.

Há mais chances para ofertas entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, com prioridade a setores como infraestrutura, energia elétrica, óleo e gás.

Nos últimos anos, as empresas apostavam no IPO como forma de se capitalizar em um ambiente de juros baixos e liquidez abundante, reflexo da pandemia. Com isso, companhias menores conseguiram entrar na B3 por meio de ofertas abaixo do R$ 1 bilhão.

Só em 2021, foram 45 IPOs. Mas, com a escalada dos juros, os papéis de muitas estreantes derreteram, e outras engavetaram planos.

Algumas das que suspenderam ofertas continuam à espera de um momento favorável. O Grupo Rio Alto, focado em energias renováveis, suspendeu seu IPO em abril de 2021, um dia antes de as ações começarem a ser negociadas na B3.

— IPO é questão de janela, e teríamos que mudar preço. Decidimos recuar e fazer uma captação privada para seguir o mesmo plano de negócios que executaríamos no IPO, mas em outra estrutura — explicou o diretor financeiro do Rio Alto, Rafael Brandão.

Brandão afirma que a empresa segue esperando uma melhor oportunidade de mercado, já que não necessita de captação imediata em grande escala. Em 2021, a expectativa era levantar R$ 850 milhões por meio do IPO, mas, agora, a empresa espera um montante entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões.

- Se tiver uma volta de mercado, ela vai acontecer através de empresas de utilities. Para estrangeiros, o tema ESG ainda está em voga. No nosso caso, são projetos voltados mais para longo prazo. O pessoal vai olhar para coisas mais conservadoras, que é o nosso caso aqui.

A Lupo, do setor de vestuário, desistiu do IPO em 2021. Em nota ao GLOBO, a empresa afirmou que “segue atenta e aguardando que as janelas se abram”. Depois da desistência, a companhia comprou duas novas unidades fabris, uma em Pacatuba e outra em Maracanaú, ambas no Ceará.

A petroquímica Unigel, outra que desistiu da oferta em 2021, destacou em nota que “permanece atenta às janelas de oportunidade do mercado” e que deu sequência a seu plano estratégico de crescimento, com obras em andamento nos projetos de hidrogênio verde e de ácido sulfúrico, ambos em Camaçari, na Bahia.

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