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Por Ruan de Sousa Gabriel — São Paulo

Quando a Justiça decretou a falência da Livraria Cultura, no último dia 9, a Companhia das Letras foi uma das editoras a retirar seus livros da icônica loja do Conjunto Nacional, em São Paulo. No entanto, após a liminar que suspendeu a falência da rede, no dia 16, Luiz Schwarcz, fundador e presidente do maior grupo editorial do país, decidiu continuar a fazer negócios com a Cultura, mesmo com riscos.

Segundo ele, a livraria havia proposto um novo de modelo de negócios às editoras, que vinha sendo razoavelmente bem-sucedido para abater parte das dívidas. A Cultura está em recuperação judicial desde 2018, assim como a Saraiva.

A situação se complicou no mês passado, quando a Americanas também buscou proteção da Justiça contra credores com um rombo bilionário. A Companhia das Letras esperava faturar R$ 25 milhões este ano com a varejista, uma das principais vendedoras de livros na internet. Agora, a editora está entre os credores à espera de uma saída para a Americanas, com R$ 7,2 milhões a receber.

Em entrevista ao GLOBO pouco antes de embarcar para Nova York, onde lança a edição americana de “O ar que me falta”, livro autobiográfico em que narra sua convivência com a depressão, Schwarcz falou da crise do varejo de livros após a alta nas vendas durante a pandemia. Depois, em uma rede social, apontou “ausência de ética” na Americanas, a quem acusa de ter “transformado em regra” e “estratégia de negócios” o atraso no pagamento de fornecedores.

O executivo diz esperar políticas de incentivo à leitura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja eleição apoiou publicamente, sem consultar seus sócios americanos. A Penguin Random House, maior conglomerado editorial do mundo, tem 70% da Companhia das Letras. Veja a seguir a entrevista:

Qual será o impacto da recuperação judicial da Americanas no mercado editorial?

Com a recuperação judicial, perdemos não só os R$ 7,2 milhões, mas também os cerca de R$ 25 milhões que prevíamos vender para a Americanas em 2023, algo entre 5% a 10% do nosso faturamento. Uma parte das vendas sempre acaba absorvida por outros canais. Mas ainda não sabemos quais. Redes como Leitura, Amazon?

A Americanas trabalha principalmente com best-sellers, por isso é provável que as pequenas editoras não sejam tão afetadas quanto foram pelas recuperações judiciais da Saraiva e da Cultura. Para as editoras grandes, é um baque, é péssimo, mas temos condições de sobreviver. Será um ano menos lucrativo. O ano passado já não foi excepcional. Crescemos 9%, menos da metade que em 2021.

No dia 9, foi decretada a falência da Cultura. Sérgio Herz, CEO da rede, disse ao GLOBO que a empresa estava crescendo. As editoras foram pegas de surpresa?

Sim. A Cultura havia proposto um outro modelo de negócios. Estava alugando espaço para as editoras na loja do Conjunto Nacional. Nosso espaço era operado pela distribuidora Catavento. Estava indo bem. A Cultura ficava com uma porcentagem nas vendas. Parte desses valores era usada par abater a dívida deles com a gente.

Qual o valor da dívida da Cultura com a Companhia das Letras?

R$ 5 milhões.

A falência da Cultura foi suspensa até que o mérito da decisão do juiz Barros Monteiro seja julgado, o que pode levar meses. A Companhia das Letras voltará a fazer negócios com a livraria?

Sim.

Mas não é arriscado?

Há riscos, mas ponderamos e decidimos assumi-los.

À crise da grandes varejistas, somou-se à diminuição das compras de livros do governo durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). A explosão das vendas na pandemia foi suficiente para o setor absorver as perdas?

O ano de 2022 foi bom de vendas para o mercado e muito ruim de vendas para o governo. Por causa das eleições, programas municipais, estaduais e federais atrasaram e estão acontecendo agora. O governo Bolsonaro desorganizou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do PT, havia programas extraordinários de compras de livros para bibliotecas, que atendiam a população mais pobre.

Esses programas foram tão importantes para formar leitores quanto “Harry Potter” (personagem principal da série de best-sellers juvenis). O impacto do governo Bolsonaro só não foi pior porque a máquina do FNDE é muito grande e continuou funcionando apesar da bagunça e da ideologia no primeiro e segundo escalões. Mas essa desorganização prejudicou o mercado. Estimo que cerca de 20% do nosso faturamento vinha de venda escolar. No ano passado, não deve ter chegado a 10%.

O senhor defendeu a eleição de Lula no primeiro turno, e a Companhia de Letras fez a campanha “Faz o L com o livro”. Como editor, o que espera do novo governo?

Eu me orgulho da campanha. Quando nos posicionamos, não prestei contas aos meus sócios e recebi um ótimo retorno dos meus colegas brasileiros. Eu me envergonho um pouco do empresariado que tem interesse em fazer negócio com o governo, mas não se manifesta quando é necessário. É bastante significativo que Lula tenha dito várias vezes querer mais livros e menos armas. Tenho a impressão de que a hora da cultura chegou. O escalão técnico do Ministério da Cultura é excelente.

Quais devem ser as prioridades da política de incentivo à leitura?

Mesmo governos simpáticos à cultura, como o de Fernando Henrique Cardoso e os do PT, tiveram dificuldades na criação de bibliotecas. Um ministro de FHC me perguntou: “como se faz uma biblioteca?”. Não adianta só dar dinheiro para a prefeitura fazer uma biblioteca. Falta técnica, know-how. A biblioteca não pode ser só lugar onde se empresta livros. Especialmente no interior do Brasil, as bibliotecas têm de ser polos de cultura.

A aprovação da Lei do Preço Fixo, que limita os descontos no ano de lançamento do livro, é uma demanda dos livreiros para tornar mais justa a competição com o “e-commerce”. Deve ser prioridade?

A regulamentação do preço é polêmica. Há gente mais capacitada do que eu para opinar. As livrarias de rua precisam de auxílio para sobreviver à competição com as grandes varejistas. Um grupo técnico pode discutir soluções que favoreçam os livreiros e não prejudiquem o leitor, como a diminuição do imposto predial, por exemplo. As livrarias sofreram muito na pandemia. Redes como a Leitura e a Livraria da Vila estão crescendo. A Vila começou como uma livraria de nicho, mas está se abrindo para a literatura comercial. É um passo importante. A Companhia também começou como uma editora de nicho, mas o mercado mudou.

Em 2021, o mercado editorial cresceu mais de 29% em faturamento e volume. No ano passado, o aumento foi de 8,33% em faturamento e de 2,98% em volume. Essa desaceleração é preocupante? O setor espera que as vendas se estabilizem num patamar inferior ao da pandemia?

No curto prazo, não vai chegar ao patamar da pandemia, mas ainda existem áreas promissoras a serem trabalhadas. Por exemplo, estamos tentando melhorar nossa distribuição no Nordeste. Se der certo, o aumento de vendas pode ser significativo. Também estamos aprendendo a trabalhar com dados. Isso pode ajudar a indústria do livro a se tornar mais moderna.

O público leitor já cresceu bastante com a explosão de consumo da classe C. Com mais investimento em educação e programas governamentais contínuos, pode crescer ainda mais. Formação de leitores tem de ser prioridade.

Em 2022, o preço médio do livro subiu 5,19%, mas, descontada a inflação, é equivalente ao de 2011. Há espaço pra novos aumentos dadas a desaceleração das vendas e a percepção de que o livro já é caro?

Nós, editores, não sabemos como mudar essa percepção. Ao comprar um ingresso de cinema, uma pipoca e um refrigerante você vai gastar mais do que o preço de um livro, que vai te instruir e entreter por 15 dias e ainda vai ficar na sua biblioteca.

Quando divulgamos um livro no Instagram, o primeiro comentário é sempre “tá muito caro”. Depois é “eu quero”. Ficamos anos sem alterar o preço, mas também temos funcionários para pagar.

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