Economia
PUBLICIDADE
Por — Brasília

A agenda de melhoria das contas públicas baseada no aumento de receitas, implementada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, deu sinais de esgotamento nesta semana com a rejeição de uma medida provisória (MP) e a forte reação do mercado financeiro à falta de ação para corte de gastos. Especialistas alertam que os pisos de gastos com Saúde e Educação, além da vinculação da Previdência ao salário mínimo, vão estrangular o Orçamento nos próximos anos. Por isso, independentemente da melhora no resultado fiscal, há um horizonte nebuloso pela frente.

Trata-se de um cenário inédito. Durante a vigência do teto de gastos, de 2017 a 2023, o aumento dos benefícios e dos pisos era restrito à variação inflacionária. Antes, não havia regra de limitação da despesa, apenas uma meta de resultado primário (receitas menos despesas, excetuando gastos com juros).

A corda no pescoço ocorre porque os benefícios vinculados ao mínimo e os pisos de Saúde e Educação crescem, em média, a uma velocidade maior que o limite de despesas da regra fiscal — o arcabouço aprovado em 2023 e que está apenas em seu primeiro ano de vigência. Na prática, o espaço para os gastos “livres” fica comprometido já em 2027, gerando um risco de mudança do regime fiscal hoje vigente e aumentando a desconfiança sobre as contas públicas.

Além dos pisos, no ano passado o governo retomou a valorização real do salário mínimo, promessa de campanha de Lula, pela variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Os benefícios previdenciários, assim como o seguro-desemprego, o abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), são vinculados ao salário mínimo.

Infográfico — Foto: Arte/O Globo
Infográfico — Foto: Arte/O Globo

Já a lei que instituiu o novo arcabouço fiscal determinou que os pisos voltassem a ser reajustados por indicadores de receita. Assim, a partir de 2024, os gastos com Saúde precisam representar ao menos 15% da receita corrente líquida do governo federal. E os com Educação devem ser de 18% da receita líquida de impostos (uma composição específica, que faz esses gastos serem menores que os de Saúde). É isso que está previsto na Constituição.

 — Foto: Arte/O Globo
— Foto: Arte/O Globo

Mas a regra representa uma bomba para o atual arcabouço fiscal, aprovado em 2023 e em vigor neste ano, que estabelece que as despesas podem crescer acima da inflação entre 0,6% e 2,5% acima da inflação, de acordo com o andamento da receita. Por outro lado, os pisos de Saúde e Educação não precisam respeitar esses limites. As despesas previdenciárias também não.

Assim, o limite global de despesas do governo cresce a um ritmo inferior às de Saúde, Educação e Previdência. Isso faz com que o governo precise cortar de outras áreas para cumprir a regra que ele mesmo criou. Como a maior parte das despesas é obrigatória, os cortes atingem investimento público e manutenção da máquina.

Estratégias de melhoria das contas públicas focadas no aumento do PIB ou na obtenção de novas receitas só pioram o quadro, porque vão turbinar as receitas e o aumento do salário mínimo, ainda que com defasagem de dois anos.

Crescimento contratado

Conforme cálculos do Ministério do Planejamento, o gasto com o piso da Saúde deve crescer 38% até o fim do governo, em 2026, ante o ano passado, para R$ 238,5 bilhões. No caso da Educação, a alta será de 79%, para R$ 119,2 bilhões.

Em 2026, sobrarão R$ 104,9 bilhões para os demais gastos “livres”. Nos anos seguintes, esse espaço cairá rapidamente, para R$ 45,4 bilhões em 2027 e R$ 11,8 bilhões em 2028, ainda segundo o Planejamento, considerando estimativas do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025. Já o impacto nos próximos dez anos da vinculação dos benefícios ao mínimo é de R$ 1,3 trilhão, segundo o Planejamento.

Não há um número mágico para a quantidade de despesas discricionárias necessárias para manter a máquina pública, mas especialistas afirmam que ela precisa rodar, no mínimo, próximo a R$ 100 bilhões. E essa conta inclui investimentos, como em estradas — que o próprio arcabouço fiscal determinou que tenham um piso.

Nesse contexto, a avaliação de especialistas é que a equipe econômica tem de conter o aumento de gastos com aposentadoria e com os investimentos mínimos em Saúde Educação, de modo a não enterrar o arcabouço fiscal.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem mencionado o assunto e já admitiu que deve levar algumas opções a Lula em meio à elaboração da proposta orçamentária do ano que vem. Uma delas é a limitação do crescimento desses gastos a 2,5%, já descontada a inflação, como a regra geral do arcabouço.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse esta semana que o governo estuda desvincular parte dos benefícios, como BPC e seguro-desemprego, do salário mínimo. As aposentadorias seriam preservadas.

Os temas, contudo, são politicamente sensíveis. Há resistências da ala política e dos ministérios que tocam as políticas públicas que seriam afetadas pela mudança. Com popularidade em queda, o próprio Lula precisará ser convencido das medidas impopulares. Além disso, a equipe econômica já está desgastada pelas muitas batalhas no Congresso.

Outro fator que pesa contra as mudanças é que não haveria vantagens ao governo nesta gestão — apenas no futuro. Se adotada a mesma regra do arcabouço para os pisos, o Tesouro Nacional já calculou que o espaço adicional para as despesas discricionárias seria de R$ 190 bilhões até 2033, caso fosse adotada no ano que vem.

Consistência da regra

Até o fim do governo, o ganho seria mínimo, de R$ 3 bilhões, com impacto negativo em 2025. O economista-chefe da AZ Quest, Alexandre Manoel, fez a mesma conta para o salário mínimo e concluiu que a folga seria de cerca de R$ 8 bilhões até o fim do governo, considerando o impacto nos benefícios previdenciários.

— Do ponto de vista da contabilidade, para espaço adicional, até o fim do governo é pouco. Mas a questão é a consistência do arcabouço fiscal. Compatibilizar as três rubricas ao que eles propuseram de crescimento de despesa no arcabouço é o mínimo para acreditar que o que o governo propôs no ano passado é para valer — diz. — Não adianta contar com o crescimento do PIB ou com outras receitas, a conta só estouraria mais rápido.

O economista Italo Faviano, da consultoria Buysidebrazil, avalia que as regras de direcionamento mínimo são necessárias para garantir o investimento em áreas como Saúde e Educação, mas o gasto não precisaria ter ganho real todo ano:

— Da forma que está, não cabe a regra que o próprio governo criou.

Mais recente Próxima Arminio Fraga defende corte de gastos em Previdência e funcionalismo. 'Não tem jeito', diz
Mais do Globo

Luciana Fróes conta o que há de mais quente no mundo da gastronomia

Bar da Gruta, nova casa de Jimmy Ogro e aniversário do Elena: as novidades gastronômicas

Saiba onde mais ouvir e dançar o ritmo na cidade; envie sua pergunta para Eugênia, que tira dúvidas sobre a programação carioca

Kingston Club chega à Lagoa com noites de reggae; confira um roteiro no Rio de Janeiro

Agenda inclui ainda festival ballroom de graça em Madureira e feira de vinhos em terraço com vista para a Baía de Guanabara

De feira medieval a gastronomia francesa: confira os eventos do fim de semana no Rio

Entre as opções para curtir o recesso de julho, há desde brincadeiras de bruxaria a aulas de culinária; confira

Colônias de férias: um guia com atividades para crianças e adolescentes no Rio

Roteiro para celebrar a data no Rio também tem Kevin O Chris com Dennis DJ

Dia do Funk, celebrado pela primeira vez, tem show gratuito de Valesca Popozuda e exposições

Diversidade é grande, mas integrantes do grupo têm questões comuns que o diálogo busca potencializar

Indústria cultural é peça-chave para G20: especialistas sugerem novos investimentos e intercâmbios com outros países

Na última quarta, um carpinteiro foi atingido na cabeça com estaca de madeira enquanto trabalhava

Estaca, arpão e vergalhão: relembre outros acidentes envolvendo artefatos que perfuraram o crânio de pessoas

Big Techs se inspiram em filmes para criar vozes de máquinas reais com base em fantasias cinematográficas ultrapassadas

Desenvolvedores de IA criam vozes sintéticas baseadas em ideias antigas apresentadas por Hollywood; entenda

Livros trazem amores proibidos com pano de fundo de fantasia e questões de vida e morte

O feitiço da ‘romantasia’: conheça o filão editorial do momento, que une sexo e criaturas fantásticas

Cantora e compositora paulistana fará o primeiro show de 'Novela' (eleito pela APCA o quinto melhor álbum brasileiro do ano) neste sábado (13), no Circo Voador, Rio de Janeiro. Em entrevista ao GLOBO, ela fala sobre como venceu a timidez, da relação com os fãs, o trabalho e o Brasil

Céu estreia turnê e reflete sobre a carreira: 'Não sou panfletária. Sempre fiz mais música do que falei'